Um ano desde a declaração da OMS de que estávamos vivendo uma pandemia da Covid-19, quais certezas há sobre a doença?
Um ano desde a declaração da OMS de que estávamos vivendo uma pandemia da Covid-19, quais certezas há sobre a doença?| Foto: Bigstock

No dia 11 de março de 2020, o mundo chegava a 118 mil casos de Covid-19, identificados em 114 países, e 4.291 pessoas haviam morrido da doença. Foi então que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que estávamos vivendo uma pandemia.

Pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença e o termo passa a ser usado quando uma epidemia, um surto que afeta uma região, se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa.

De lá para cá, vimos os casos aumentarem para 117 milhões e o número de mortes subir a 2,6 milhões de pessoas, registrados até o dia 10 de março de 2021 pela Johns Hopkins University. E passamos por muitas dúvidas envolvendo vacinas, tratamentos, medidas de prevenção e, mais recentemente, os riscos das variantes. As certezas, embora poucas, existem.

Confira abaixo 10 afirmações que podem ser feitas depois de um ano de pandemia da Covid-19:

Transmissão por ar é mais comum

Por muito tempo, a limpeza das superfícies e objetos era vista como uma das maneiras de evitar a disseminação do Sars-CoV-2. Sabe-se hoje, no entanto, que embora as superfícies possam ser meios de transmissão, a principal via é pelo ar.

Sejam em gotículas maiores ou em forma de aerossois, o coronavírus se transmite de uma pessoa a outra por contato próximo – especialmente quando não há barreiras de proteção, como máscaras e distanciamento físico, de acordo com dados da OMS.

O vírus sai de uma pessoa por gotículas de saliva lançadas durante a fala, espirro ou tosse e atingem outra pessoa pela boca, nariz ou olhos, o que acontece com mais frequência se estiverem muito próximas. No caso da transmissão por aerossóis, que são partículas menores que ficam em suspensão no ar, a OMS destaca que pode acontecer:

"(...) especialmente em ambientes fechados, com aglomeração de pessoas e sem ventilação adequada, onde uma pessoa infectada passaria longos períodos de tempo, como restaurantes, ensaios de coral, aulas de ginástica, casas noturnas, escritórios e centros religiosos", destaca a entidade no site.

É possível se reinfectar

Em setembro de 2020, pesquisadores de Hong Kong registraram o primeiro caso de reinfecção por Covid-19. Desde então, há 64 casos confirmados e mais de 12,4 mil suspeitos no mundo, de acordo com levantamento da BNO News.

No Brasil, são 58 suspeitas de reinfecção em análise, segundo última divulgação do Ministério da Saúde, feita em dezembro. Embora possam ser raras, as reinfecções existem, e são confirmadas a partir da análise dos vírus responsáveis nas duas infecções. Como boa parte das pessoas não teve a amostra coletada na primeira infecção, a confirmação de reinfecção fica prejudicada. Ainda não se sabe se a segunda infecção seria mais grave, ou mais amena, que a primeira, apesar de ter registros de ambos os casos.

Sintomas podem se prolongar

Levantamento do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, o CDC, indica que 35% das pessoas que tiveram Covid-19 não voltaram ao estado de saúde anterior à doença mesmo duas a três semanas após os primeiros sintomas. São os chamados Long-haulers, pessoas com sintomas prolongados da doença, ou Covid-19 persistente.

Dados de um estudo brasileiro são ainda maiores: 64% dos pacientes recuperados da Covid-19 apresentavam algum sintoma, mesmo seis meses após o início da doença. Os resultados preliminares foram apresentados no início de janeiro por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP.

Os principais sintomas incluíam:

  • Fadiga;
  • Falta de ar;
  • Dor de cabeça;
  • Perda da força muscular;
  • Dificuldade para enxergar;
  • Incômodo nos olhos.

Máscaras evitam disseminação do vírus

Como a transmissão do Sars-CoV-2 se dá por meio de gotículas lançadas de uma pessoa a outra, seja via fala, tosse ou espirro, o uso das máscaras – tanto as caseiras quanto as mais profissionais – evita que o vírus seja disseminado. E, ainda que saia, que seja em quantidades menores do que sairia se não houvesse nenhuma barreira de proteção.

Para que o efeito protetor seja alcançado, no entanto, é importante que as pessoas façam o uso correto do item, como:

  • Evitar mexer na máscara durante o uso;
  • Não colocá-la no queixo ou abaixo do nariz;
  • Fazer a higienização das mãos sempre que encostar na máscara;
  • Colocá-la e retirá-la da maneira correta.

No fim de fevereiro deste ano, 46 entidades médicas assinaram um manifesto para reforçar a necessidade de uso do item de proteção, além de outras medidas, como distanciamento físico, higienização das mãos e o não compartilhamento de itens de uso pessoal.

Pensando na proteção contra as novas variantes, o CDC americano passou a recomendar o uso de duas máscaras. Segundo e entidade, se uma pessoa estiver usando duas máscaras, os itens bloqueiam cerca de 80% das partículas.

Algumas doenças aumentam risco de complicação

Dados do Boletim Epidemiológico nº 52 do Ministério da Saúde, que reúne informações da última semana de fevereiro de 2021, reforçam os achados de especialistas: pessoas com comorbidades têm risco aumentado de complicações da Covid-19.

Dos 30 mil óbitos por Covid-19 registrados do início de 2021 até aquele momento, 63% dos pacientes tinham pelo menos uma comorbidade. Problemas cardíacos e diabete foram as mais frequentes.

No caso de diabete, inclusive, há a discussão de que a infecção pelo novo coronavírus poderia até mesmo desencadear essa doença crônica entre pessoas com uma predisposição, além de aumentar o risco de complicações da Covid-19 entre aqueles que já tenham a doença.

Excesso de peso ou obesidade também são condições que exigem mais atenção. Pesquisadores da Unicamp, na tentativa de explicar por que esse grupo de pessoas teria maior risco de Covid-19 grave, sugerem que o coronavírus é capaz de se "esconder" nas células do tecido adiposo, formando um reservatório para o vírus e aumentando o tempo da doença.

Mesmo sem sintomas, é possível transmitir

Em meados do ano passado, durante uma coletiva de imprensa, representantes da OMS disseram que a transmissão do vírus por pessoas infectadas, mas que não desenvolveram sintomas da Covid-19, seria rara. O anúncio gerou questionamentos, visto que já havia o relato em estudos de uma transmissão, sim, de pessoas assintomáticas e, mais tarde, especialistas da entidade explicaram que a fala se baseava em resultados de estudos preliminares.

Para os especialistas, porém, não há dúvidas: há a transmissão de pessoas mesmo sem sintomas. Um estudo divulgado em setembro, que embasou as orientações do CDC americano, indica que 20% das infecções pelo novo coronavírus permanecem sem sintomas, porém ainda assim contagiosas.

E não se pode confundir assintomáticos com pré-sintomáticos, que podem desenvolver os sintomas até 14 dias depois do contato com o vírus e nem sempre com manifestações clássicas de febre, falta de ar, tosse ou perda de olfato e paladar.

Vacinas protegem

Das centenas de vacinas testadas contra a Covid-19, todas as que foram aprovadas para uso emergencial ou para o registro definitivo apresentaram dados de eficácia que indicam uma proteção contra a doença.

Em alguns casos, a proteção é maior contra formas graves da Covid-19, como é a Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. Em outros, a proteção engloba de formas leves a graves.

Das vacinas testadas no Brasil, o imunizante da Pfizer e do laboratório alemão BioNTech teve uma eficácia de 95%. Já a vacina da Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, é de 66%, com dose única.

O imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford/AstraZeneca apresentou uma eficácia de até 90%, e a Coronavac teve uma eficácia global de 50,4%.

A Covaxin, imunizante que o Governo Federal já manifestou interesse em adquirir, teria uma eficácia, segundo a farmacêutica Bharat Biotech, de 80,6%.

Sintomas variam

Embora alguns sintomas já sejam considerados mais clássicos da Covid-19, como febre, tosse e cansaço, nem todo mundo com a doença manifestará os mesmos sinais. Dos sintomas menos comuns, porém ainda assim associados à doença, de acordo com dados da OMS, estão:

  • Dor de garganta;
  • Diarreia;
  • Conjuntivite;
  • Perda do olfato e paladar;
  • Erupção cutânea;
  • Descoloração dos dedos das mãos e dos pés.

Sintomas mais graves e que exigem mais atenção são:

  • Dificuldade para respirar;
  • Falta de ar;
  • Dor ou pressão no peito;
  • Perda da fala ou de movimento.

Imunidade coletiva com as vacinas

A partir do momento que boa parte da população estiver vacinada, será possível ver a tal imunidade coletiva em ação. Pessoas vacinadas acabam protegendo umas às outras – bem como pessoas que, por algum motivo, não puderam se vacinar.

Isso acontece porque o vírus, em um ambiente com pessoas cujos sistemas imunológicos estejam preparados para combatê-lo, não encontra espaço para se replicar e se espalhar. Esse tipo de cenário já pode ser visto em países com um programa de vacinação eficiente, como Israel.

Em um mês de vacinação, o país percebeu uma redução de 60% nas internações de pessoas acima de 60 anos – grupo considerado de risco para a Covid-19.

Recuperação exige de exercícios respiratórios a reabilitação olfativa

Com um número significativo de pessoas que, mesmo após a doença, ainda sentem o impacto da Covid-19, a reabilitação será a palavra-chave.

Devido à doença, mas também aos procedimentos usados normalmente em longos tratamentos nos hospitais, como a intubação (respiração por aparelhos), é comum que os pacientes tenham sintomas de fraqueza muscular, dificuldade para engolir ou respirar, perda de peso e mesmo transtornos emocionais.

Para tanto, exercícios físicos que promovam o resgate da capacidade respiratória e até mesmo uma reabilitação olfativa podem ser indicados.

Um artigo publicado na revista científica American Journal of Rhinology & Allergy sugere alguns alimentos e substâncias que podem ser incluídas em um "treinamento olfatório caseiro", como por exemplo:

  • Café;
  • Cravo;
  • Mel;
  • Vinagre de vinho tinto;
  • Pasta de dente de menta;
  • Essência de baunilha,
  • Suco de tangerina do tipo concentrado.

A orientação é de que a pessoa cheire uma pequena porção de cada um desses produtos por 10 segundos, com intervalo de 15 segundos entre eles, duas vezes ao dia, durante pelo menos três meses. Esse período pode se estender, caso necessário.

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