Ser gordinho não significa, fatalmente, que não se tem saúde: confira os três parâmetros que devem ficar à vista para ser um obeso saudável.
Ser gordinho não significa, fatalmente, que não se tem saúde: confira os três parâmetros que devem ficar à vista para ser um obeso saudável.| Foto: Bigstock

Ser um gordinho saudável é possível, segundo um grupo de cientistas alemães. E isso depende da presença de três condições que fazem com que um obeso não apresente aumento no risco de morte por doenças cardiovasculares e por todas as outras causas. 

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O primeiro dos parâmetros metabólicos que deve ser verificado diz respeito à pressão arterial sistólica. Segundo o estudo, ela deve ser menor que 130 mmHg sem uso de medicação para reduzi-la, algo nem sempre fácil para quem está acima do peso.  

Isso porque se a hipertensão é extremamente prevalente na população adulta em geral, em torno de 20%, na vigência da obesidade esses níveis aumentam. “Em obesos graus 2 e 3 que procuram cirurgia bariátrica, por exemplo, estima-se que 60% tenha hipertensão associada e, quanto maior o grau de obesidade, mais provável que tenha hipertensão concomitante”, diz a médica endocrinologista Jacqueline Rizzoli, diretora da Abeso.

Doença multifatorial, a hipertensão tem componente genético forte e se, por um lado, magros podem apresentar a condição, por outro pacientes com índice de massa corporal (IMC) extremamente alto, com 180kg a 200kg, podem ter uma pressão arterial normal. “Em obesos a necessidade de mais bombeamento para mandar sangue a todos os tecidos do organismo faz com que o coração seja sobrecarregado, as artérias se enrijeçam, causando dificuldade ao retorno venoso. Ter grande peso pode levar à apneia do sono, o ronco ao dormir, com paradas na respiração, também fator de risco para a pressão arterial”, diz ela, assinalando que se para um paciente normal a pressão deve ficar abaixo de 130/85, o diabético deve ficar em 130/85.

Proporção cintura-quadril

O segundo parâmetro, apontado no estudo feito pela equipe liderada por Anika Zembic, doutoranda do Deutsche Institut für Ernährungsforschung Potsdam-Rehbrücke, na Alemanha, está relacionado a uma medida que deveria ser mais popularizada entre os brasileiros, a relação cintura-quadril. O ideal é que esse número, fruto da divisão da medida da cintura sobre a medida feita sobre o osso do quadril não passe de 0,95 para as mulheres e de 1,03 nos homens. Essas medidas devem ser feitas com uma fita métrica.

Segundo Jaqueline, o motivo pelo qual se deve medir adiposidade central é que a gordura que se deposita mais na região do abdome traz grandes riscos à saúde, pois além de se depositar debaixo da pele, pode também se depositar em órgãos internos, no fígado, rins, intestinos e ao redor do coração.

“Essa gordura aumenta o risco de doenças como hipertensão, problemas circulatórios, aterosclerose e entupimento de vasos sanguíneos. Já a gordura mais periférica, que se acumula mais nas coxas, braços e quadril, tem maior deposição subcutânea e menor risco para a parte metabólica, mas também pode causar problemas articulares e circulatórios, geralmente é mais difícil de perder, porém causa menos riscos que a gordura abdominal”, diz.

Ela, a diabete

O terceiro fator que, quando junto aos outros, pode definir se um obeso é ou não metabolicamente saudável diz respeito à presença, ou não, da diabete tipo 2, que tem a prevalência aumentada quando a pessoa está obesa, apesar de pessoas magras, por componente genético, também poderem desenvolvê-la.

“A diabete é uma doença sistêmica, e comumente essa glicose vem aumentada de há muito tempo até o diagnóstico. Esse convívio com sintomas sutis, caso não se faça exames laboratoriais de rotina, pode resultar na presença por três, quatro, cinco anos ou mais de convívio com a doença sem o tratamento correto”, diz.

Essa elevação persistente da glicose no sangue vai causando, segundo ela, um processo inflamatório crônico, sobrecarregando o rim, fígado, circulação, causando lesão nos vasos sanguíneos, na microcirculação e na macrocirculação, criando condições para o aumento dos riscos cardiovasculares. “Por isso a diabete é doença que precisa diagnosticar o mais precocemente possível e tratá-la com bastante controle desde o início para que não traga riscos maiores para a saúde. Ao manter o controle da glicose, ter alimentação controlada, boa atividade física, conseguir reduzir peso e usar corretamente medicações, é possível manejar o diabete para que ele não traga riscos maiores para a saúde”, diz ela.

E o colesterol alto?

Nessa revisão os pesquisadores não conseguiram encontrar maior prevalência de morte por causa cardiovascular ou mortalidade por todas as causas em indivíduos obesos que tinham somente dislipidemia, ou seja, analisando o colesterol e triglicerídeos isoladamente.

“No artigo não há explicação específica para isso, mas a princípio foi considerado como um fator de menor risco, que provavelmente aumenta quando somado a outros fatores”, diz ela, apontando que outros fatores não tratados na pesquisa, segundo a experiência clínica, estão associados a um maior risco de morte cardiovascular ou de complicações de saúde, como tabagismo, sedentarismo, apneia do sono e aumento de gordura no fígado.

Como no estudo foi avaliada apenas mortalidade, e não sequelas e outras complicações, a preocupação com esses outros fatores deve estar presente sempre. “A chance de ter pancreatite por triglicerídeo alto é muito maior do que se estiver controlado, assim como o AVC isquêmico para quem tem placa de colesterol aumentada, então os outros fatores não podem ser vistos como ‘liberados’ ou que garantam saúde de modo algum”, diz ela.

Magros não saudáveis

Assim como obesos podem ser saudáveis do ponto de vista metabólico, é possível ser magro e não ser saudável. “Se a pessoa tem peso normal, mas é diabética, se apresenta aquele perfil não incomum de ter peso normal, mas com pernas e braços finos e bastante gordura na região da barriga do abdome, se são hipertensas, fumantes e sedentárias, essas pessoas podem ser consideradas magras ou ter o peso normal e não serem saudáveis”, diz Jaqueline.  

O ideal para todos, independentemente da faixa de peso, é ter bons hábitos e vida, abandonar tabagismo, álcool, comida processada/industrializada e o consumo exagerado de açúcar e gorduras e investir em comida saudável e na prática de atividades físicas. “Alguém com excesso de peso grande, mas muito ativo e com alimentação de boa qualidade, podem estar até mais saudável do que uma pessoa de peso normal e de hábitos ruins, diabete mal controlada e níveis de pressão arterial persistentemente altos”, finaliza a endocrinologista.

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