Dados do novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde acendem alerta para aqueles que não pertencem a grupos de risco
Dados do novo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde acendem alerta para aqueles que não pertencem a grupos de risco| Foto: Bigstock

O avanço no número de mortes no Brasil vem delineando também o perfil das vítimas da Covid-19 no país. Além de não ser exatamente igual ao perfil dos óbitos em outros países, o impacto das comorbidades (ou a falta delas) nas vítimas brasileiras também mudou com o tempo.

Segundo o boletim epidemiológico mais recente do Ministério da Saúde, publicado nesta segunda-feira (27) e que remete a dados compilados até o dia 26 de abril, foram confirmados 4.205 óbitos pela doença, dos quais 3.611 (85,9%) haviam tido a investigação concluída.

Sem testes disponíveis para grande parte da população, é este dado, absoluto, que tem sido reconhecido como uma informação mais aproximada da real dimensão da pandemia.

Mortes sem doenças prévias

A principal mudança vista ao longo dos últimos cinco meses no perfil dos indivíduos que foram à óbito pelo novo coronavírus está nas doenças prévias das vítimas. Há quase um mês, em 30 de março, 85% dos óbitos eram de indivíduos com comorbidades e 15% não tinham doença de base.

No boletim mais recente, as mortes relacionadas a indivíduos sem doenças prévias chegaram a 33%, numericamente 1.192 dos 3.611 óbitos investigados. Na Itália, segundo dados mais recentes de boletim divulgado em 23 de abril deste ano, apenas 3,6% dos mortos não possuíam comorbidades e 61% teriam três ou mais doenças.

Em 11 de abril, o Secretário de Vigilância em Saúde no Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, explicou em apresentação do boletim epidemiológico, que tanto na proporção de mortos menores de 60 anos, quanto nas pessoas sem fatores de risco, o aumento poderia estar relacionado a uma sobreposição de doenças respiratórias que ocorre no país.

"Na Itália, assim como na China e em alguns outros países do hemisfério Norte, o pico da influenza se deu no fim de novembro, dezembro. Eles tiveram primeiramente o pico de influenza e vírus respiratório e, só depois, tiveram o pico do novo coronavírus", disse ele à época.

"O que acontece agora, no Brasil, muito possivelmente em diversas localidades, é uma sobreposição da circulação de influenza com a circulação de outros vírus respiratórios como adenovírus, metapneumo, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, entre outros, que também causam sintomas respiratórios, juntamente com o novo coronavírus", falou Oliveira. Naquele período, em abril, as mortes de pessoas acima dos 60 anos representavam 77% do total, contra 90% registradas em 30 de março. Hoje, os mortos acima de 60 anos estão em 70% dos casos.

Como a influenza afeta principalmente adultos jovens, um padrão visto na epidemia de 2009, o técnico do Ministério da Saúde afirma que, principalmente em relação a mortes abaixo dos 60 anos (mas também relacionado a pessoas sem comorbidades), provavelmente isso seja resultado de uma cocirculação e uma coinfecção de influenza e outros vírus com o novo coronavírus. Pesquisadores associam também a uma possível falha genética de algumas pessoas que favoreça quadros mais graves da Covid-19, e um estudo global iniciado em abril procura essa resposta.

"Em Pernambuco, recentemente conversando com a secretaria estadual de saúde, naquele dia havia sido confirmado dez casos do novo coronavírus. Desses dez casos confirmados, em biologia molecular, três casos tinham confirmado para influenza, então é possível que tenha tido cocirculação de outros vírus respiratórios", disse Oliveira.

Principais comorbidades

As principais comorbidades presentes em óbitos pela Covid-19, no Brasil, seguem:

  • Cardiopatia (1.566 dos óbitos);
  • Diabetes (1.223);
  • Doença renal (296);
  • Pneumopatia (279);
  • Doença neurológica (265).

A soma das doenças de base pode ultrapassar o número de mortes com presença de comorbidades justamente porque muitos indivíduos costumam apresentar mais de uma doença, principalmente entre os mais idosos. Em todos os grupos de risco, a maioria dos indivíduos tinha 60 anos ou mais, exceto para a obesidade.

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