Entre os motivos que levam uma criança a crescer mais do que esperado para sua idade gestacional, são os mais comuns o diabete materno não controlado durante a gestação e o tamanho dos pais.
Entre os motivos que levam uma criança a crescer mais do que esperado para sua idade gestacional, são os mais comuns o diabete materno não controlado durante a gestação e o tamanho dos pais.| Foto: Bigstock

Muito se fala quando um bebê nasce prematuro ou pequeno, porém quando o feto é grande para a idade gestacional isso também pode acarretar desafios no parto, pós-parto e depois, durante o crescimento da criança, a depender das causas desse peso atípico.

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Geralmente a primeira análise sobre o peso do feto se dá por ecografias obstétricas feitas até a 13ª semana de gestação. “A partir dali se colocam os dados em gráficos pra ver se aquele bebê está na média do peso daquela idade gestacional, se está ou para cima, ou para baixo”, diz o pediatra Eduardo Gubert, do Hospital Pequeno Príncipe.

A definição sobre o peso acontece nas primeiras horas após o nascimento, comparando então as medidas de peso, comprimento e perímetro craniano do recém-nascido (RN) com gráficos de crescimento fetal. “Os gráficos são construídos com medidas de RN filhos de mulheres saudáveis, com nutrição e estilos de vida considerados normais e que evoluíram, durante a gestação, sem problemas que podem repercutir na sua saúde ou do seu filho”, diz Maria Albertina Santiago Rego, presidente do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).  

Ela cita que, a partir de índices como os que usam percentis e o escore Z, o RN é classificado em: AIG, adequado para a idade gestacional (para peso, comprimento e perímetro craniano); GIG, grande para a idade gestacional; PIG, pequeno para a idade gestacional.

Motivos para crescer demais

Entre os motivos que levam uma criança a crescer mais do que esperado para sua idade gestacional, são os mais comuns o diabete materno não controlado na gestação e o tamanho dos pais (se foram bebês grandes), que leva o indivíduo a ser denominado recém-nascido grande para a idade gestacional constitucional.

“A diferenciação da causa é feita pela avaliação diagnóstica e pela história clínica perinatal: o histórico da mãe, família e gestação”, explica Maria Albertina.  

Como uma das causas é constitucional, então apenas os casos que têm como origem a diabete – pela maior oferta de alimentos dentro da barriga –, são passíveis de algum controle, com orientação médica, segundo Gubert. Ele assinala ainda que também podem influenciar no peso do RN ganhos de peso extras da mãe durante a gestação.

Porém, apesar de a dieta materna também estar envolvida no tamanho da criança e a obesidade materna poder estar associada ao RN grande para a idade gestacional, essa resposta, segundo Maria Albertina, é muito simplificada e precisa estar contextualizada. “Uma gestante com sobrepeso ou obesidade e hipertensão pode desenvolver função placentária deficiente, com restrição de crescimento fetal. Portanto, os resultados perinatais podem ser diferentes de acordo com a predominância de uma ou outra condição crônica”, diz ela.

Riscos no nascimento

Entre os riscos envolvidos caso o bebê maior para idade gestacional esteja próximo do tempo certo de nascimento, as 40 semanas, alguns estão concentrados na hora do parto. “Como ele provavelmente vai ter mais de 4kg, isso pode gerar mais problemas na passagem de canal de parto, podendo ser indicada a cesárea. Também, independentemente de cesárea ou parto vaginal, ele acaba tendo mais chance de uma fratura de clavícula ou uma lesão de plexo dos nervos do pescocinho e do braço”, diz Gubert.

Logo após o parto, segundo o pediatra, é preciso vigiar a glicemia do nenê nascido maior e que viveu com muita caloria dentro do útero. Isso porque pode vir a faltar caloria/energia fora do útero, causando hipoglicemia. “Também devemos observar dificuldades respiratórias após o nascimento, além de, por ter tido mais passagem de nutrientes, haver maior passagem de sangue pelo cordão umbilical, gerando um excesso de células vermelhas no corpo do bebê, que vai se traduzir depois na quebra dessas células e em um amarelão, uma icterícia no início da vida. Porém, todos são problemas que aparecem logo após o nascimento e sem muita consequência para frente”, diz.

Impacto na vida adulta

Para definir os riscos ao longo da vida dessa criança, segundo a presidente do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, o mais importante é ter definida a causa do maior crescimento fetal. “Uma criança grande para a idade gestacional, filho de mãe diabética e prematura, evolui com problemas da prematuridade nos primeiros dias de vida, e ao longo da vida,  com riscos diferentes a sua saúde, quando comparada a uma criança grande para a idade gestacional, constitucional, essa considerada de crescimento dentro de padrões normais apesar de estatisticamente estar “fora da curva””, diz.

É importante lembrar, segundo ela, que risco não significa desenvolvimento da doença, mas sim cuidados em saúde com foco naquele risco, como no caso de prematuros, que não devem ser forçados a alcançar o ritmo de crescimento de crianças que nasceram a termo, em um curto período de tempo.

“Elas devem ter um ritmo biológico próprio de crescimento para evitar problemas futuros, com aleitamento materno e acompanhamento de crescimento e desenvolvimento em curvas de crescimento padrão”, diz Maria Albertina.

A mesma diretriz deve ser dada à criança grande para a idade gestacional associada a uma doença materna. “Primeiramente, o ideal é fazer controle no pré-natal para evitar distúrbios metabólicos e prematuridade. Depois, quando não for possível, não forçar o crescimento exagerado da criança. Recomendo o leite materno como o primeiro “medicamento nutricional”, personalizado para ajustar problemas iniciados na vida fetal”, diz ela.

A médica assinala que cerca o tema uma teoria da origem fetal de condições crônicas futuras na vida adulta, que vem sendo desenvolvida desde os anos 1970 por um cientista chamado David Barker, que verificou que crianças com distúrbios vários relacionados às condições maternas na gestação tinham risco aumentado para desenvolverem síndrome metabólica na vida adulta, como diabete, hipertensão e doenças cardiovasculares.

Controle do peso na gestação

Há como se controlar o peso do feto ao longo da gestação e o pré-natal é a estratégia de controle e abordagem de problemas de saúde anteriores ou que se desenvolvem durante a gestação, como explica a médica.   

Para Gubert, na maioria das vezes você consegue fazer isso controlando a dieta materna, o que ajuda a reduzir o risco de diabete gestacional ao também medir recorrentemente a glicemia da mãe. Por este motivo é importante um bom acompanhamento obstétrico. Porém, ele diz que isso consegue minimizar, mas, às vezes, não consegue evitar totalmente que o nenê nasça ou grande, ou pequeno.

“Então, não adianta quando há um feto pequeno para idade gestacional a mãe se matar de comer, ingerir mais calorias, pois às vezes o problema está na transferência desse nutriente na placenta. E o mesmo ocorre quando grande, principalmente quando mãe ou pai foram bebês grandes. O que a gente pode controlar é o ganho de peso da mãe na gestação e evitar o diabete gestacional”, diz ele.

Ela também esclarece sobre a avaliação posterior do crescimento. “Depois dessa avaliação ao nascer, a criança deve ser acompanhada com outros gráficos de crescimento, desde o primeiro mês de vida, usando os gráficos disponíveis na Caderneta da Criança. Os gráficos são diferentes para RNs termo, para RNs prematuros, meninas e meninos. É muito importante discutir o crescimento e não somente o peso evolutivo, com o pediatra da criança”, finaliza o pediatra Gubert.

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