Muitas mães estão adoecendo devido à sobrecarga, solidão e idealização da maternidade perfeita: “elas vivem imersas em julgamentos, cobranças e sentimento de culpa”.
Muitas mães estão adoecendo devido à sobrecarga, solidão e idealização da maternidade perfeita: “elas vivem imersas em julgamentos, cobranças e sentimento de culpa”.| Foto: William Fortunato/Pexels

Médicos, psicólogos e diversos voluntários têm realizado ações presenciais e online neste mês para falar a respeito de um assunto preocupante: o aumento no número de casos de ansiedade, depressão e suicídio entre as mães. “Temos observado essas mulheres adoecerem devido à sobrecarga, solidão e idealização, à medida que se reforça a crença em um único modo de exercer a maternidade”, afirma Nicole Cristino, uma das idealizadoras da campanha Maio Furta-Cor.

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De acordo com ela, a iniciativa tem o objetivo de usar o tradicional “mês das mães” para conscientizar a população a respeito do tema e incentivar essas mulheres a buscarem ajuda. Para isso, promove palestras, rodas de conversa, lives, caminhadas e outras ações gratuitas no mês de maio. “E qualquer cidadão pode participar”, informa a psicóloga, ao convidar homens e mulheres para acompanharem as atividades divulgadas no site do movimento e organizarem outros eventos gratuitos em sua região.

Entre os temas abordados estão os desafios da maternidade, saúde mental durante a amamentação, depressão pós-parto, autoimagem e, principalmente, o papel do pai, da família e dos amigos nesse período, pois, assim como a furta-cor se altera de acordo com a luz que recebe, a maternidade também muda conforme o amparo e carinho recebidos pela mulher. “E, infelizmente, as mães vivem imersas em julgamentos, cobranças e sentimento de culpa, sentindo-se insuficientes e incapazes”, pontua a psicóloga.

Além disso, o quadro piorou durante a pandemia de Covid-19 – como aponta um estudo da Faculdade de Medicina da USP –, pois a mulher precisou lidar também com situações de violência doméstica, redução salarial, desemprego e com todos os cuidados dentro de casa para proteger sua família dessa nova doença. Ou seja, “a pandemia e a sobrecarga materna foram demais”, desabafa a mineira Marcella Tatiana Leão, de 36 anos.

Conhecimento que salva vidas

Mãe da pequena Liz, de 1 ano e meio, ela ganhou sua bebê no estado do Paraná, longe da família, e sentiu falta de uma rede de apoio que a ajudasse a cuidar da recém-nascida e de si mesma durante o pós-parto. “Tive ajuda da minha mãe por apenas 15 dias, então passei quase todo o puerpério sozinha”, relata ela ao recordar que chorava frequentemente, tinha vontade de quebrar coisas e se sentia angustiada. “Quando minha filha completou seis meses, cheguei a uma tristeza profunda”.

No entanto, Marcella buscou ajuda para mudar esse quadro, recebeu atendimento psicológico e garante que conhecimento a respeito do assunto pode salvar outras mulheres. “As pessoas precisam aprender a enxergar a mãe, e não apenas o bebê”, afirma, ao garantir que seu próprio olhar mudou após a maternidade. “Tenho, inclusive, que pedir perdão para muitas mamães porque eu também enxergava só o neném”.

E é esse conceito que deve mudar por meio de campanhas como o Maio Furta-Cor, pois, de acordo com a psiquiatra Patrícia Piper, as mães precisam de amparo, apoio nas tarefas e olhares atentos. “Só é possível cuidar sendo cuidado, e essa causa é de todos: do pai, dos avós, amigos, filhos, escola, políticas públicas e de direitos trabalhistas que amparem as mulheres”, afirma. “Só assim será possível viver a maternidade e os outros papéis que desempenham com menor sobrecarga e, então, leveza”.

Próximas ações do Maio Furta-Cor

Terça-feira - 11 de maio

16h – Maio furta-cor e a gestação

18h30 – E quando a mãe deprime?

19h – Roda de conversa

20h – Saúde mental materna: e o pai nessa história?

Quarta-feira - 12 de maio

19h – Saúde Mental e Experiência Materna em tempos de Covid-19

20h – Paternidade Furta-cor

Quinta-feira - 13 de maio

15h – Roda Virtual Acolher

20h – Maternidade, prazer

20h – Psicoflix – Filme: As loucuras de Rose

21h – Amamentação e transtornos mentais maternos

Sexta-feira - 14 de maio

20h – Maternidade, identidade e autoimagem

21h – Live: Prevenção em saúde mental  materna

O local onde cada ação acontecerá está no site do Maio Furta-Cor.

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