O coração está no centro da gravidade da Covid-19. Dos mais de 378 mil mortos pela doença até o último boletim divulgado pelo governo, mais de 145 mil tinham a cardiopatia como comorbidade presente, 38% das mortes verificadas até agora, somados pacientes de todas as idades.
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Para quem consegue passar pela doença em casos leves, moderados e graves, o cuidado com o coração pode seguir após a recuperação. Entre os sinais de possíveis sequelas cardíacas pós-Covid-19 estão a falta de ar, especialmente ao deitar-se, podendo acordar à noite com o sintoma, além do inchaço nas pernas, aumento do abdome, palpitações e dores no peito, cita o cardiologista Miguel Morita, diretor científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia.
Acompanhar a saúde cardíaca após o internamento pode ser necessário, ou pelo paciente ter condições prévias, ou como decorrência da doença. “Os mecanismos dessa relação entre a Covid-19 e o surgimento de doenças cardíacas não são totalmente elucidados, embora haja preocupação tanto com a ação direta do vírus no órgão quanto com a resposta inflamatória causada. Fala-se também e cada vez mais que a Covid-19 pode induzir a formação de trombos, coágulos em microvasos, e que isso afetaria o coração. Por este motivo, também, aqueles que têm um problema cardíaco prévios estariam ainda mais suscetíveis”, diz Morita.
Mesmo quando o paciente desenvolve um quadro leve da doença, que costuma evoluir bem, não está afastada por completo a possibilidade de complicação cardíaca, apesar de infrequente. Então, quem apresenta os sintomas acima citados deve fazer avaliação com clínico ou cardiolologista para detectar alguma condição anormal e tratá-la precocemente.
Além do coração, um check-up periódico que avalie ainda pulmão e cérebro pode ser necessário, diz o cirurgião cardiovascular Elcio Pires Junior, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. “O paciente pode ter distúrbios de coagulação e apresentar sintomas de quando estava com a doença, como cansaço e dor de cabeça, como resultado da intensa reação inflamatória”, diz o médico.
Sequelas mais comuns
Entre as preocupações em relação ao coração quando se contrai a Covid-19 estão um possível enfraquecimento do órgão que o leve à insuficiência cardíaca, uma condição crônica e séria que prejudica a capacidade do coração de bombear direito o sangue. “Também tem sido motivo de preocupação o risco de eventos tromboembólicos após a doença, como o infarto, embolia pulmonar e AVC, mas a relação causal ainda é estudada”, diz Morita, afirmando que não se sabe também, e ainda, se as lesões cardíacas pós Covid-19 são, ou não, temporárias.
As sequelas cardíacas podem levar à necessidade de reabilitação, segundo Elcio Pires Junior, pois que a doença pode causar miocardite, insuficiência cardíaca e propensão a arritmias. “Até em resposta à inflamação podem ocorrer alterações de aterosclerose, levando ao infarto do miocárdio. Também o tromboembolismo pulmonar pode comprometer o ventrículo direito do coração, gerando insuficiência cardíaca direita”, diz ele.
Exames necessários
Para quem passou pela Covid-19, há exames que são importantes de serem feitos periodicamente, de acordo com decisão do médico e a partir de uma hipótese diagnóstica. “Em geral o eletrocardiograma faz parte da avaliação de rotina, mas pode ser necessário ecocardiograma, uma espécie de ultrassom do coração, teste de esforço e, em casos específicos, até uma ressonância cardíaca”, fala Morita.
