Com a inclusão desse público na lista de prioridades, surgem dúvidas de quando se vacinar a quais vacinas tomar
Com a inclusão desse público na lista de prioridades, surgem dúvidas de quando se vacinar a quais vacinas tomar.| Foto: Bigstock

Na lista de prioridades para a vacinação contra a Covid-19, constam agora não só as gestantes e puérperas com comorbidades, mas todas as grávidas no Brasil. A nova orientação, divulgada em uma nota técnica do Ministério da Saúde na última segunda-feira (26), passa a valer na próxima etapa da imunização, dividida em duas fases.

Em um primeiro momento estão as gestantes e puérperas com comorbidades, independentemente da idade, ao lado de pessoas com síndrome de Down, com doença renal crônica em diálise, pessoas com deficiência permanente cadastradas no programa de Benefício de Prestação Continuada (BPC) entre 55 e 59 anos, e pessoas com comorbidades entre 55 e 59 anos. 

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Na sequência, será a vez das demais gestantes e puérperas, independentemente das condições pré-existentes, juntamente com os demais grupos. Nesta fase, a vacinação ocorrerá de acordo com faixas etárias, dos mais velhos aos mais novos. 

A inclusão das gestantes gerou algumas dúvidas, especialmente com relação à segurança dos imunizantes, o momento para se vacinar e se há contraindicações. O Sempre Família conversou com especialistas e separou 10 perguntas e respostas sobre a vacinação desse grupo contra a Covid-19 no Brasil. Confira:

1) As vacinas disponíveis no Brasil contra a Covid-19 são seguras para as gestantes?

De acordo com Flavia Bravo, médica pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), nenhuma vacina – e não apenas as que são contra a Covid-19 – é testada em gestantes. Isso tem o objetivo de não colocar em risco grávidas e bebês em ensaios clínicos. Em geral, as vacinas que são usadas atualmente nesse público são aquelas que, aplicadas na população durante anos, acabam sendo administradas em pessoas que não sabiam que estavam grávidas e, na sequência, acompanhadas por especialistas. 

O maior risco, segundo Flavia, está nos imunizantes que usam os antígenos (como o vírus Sars-CoV-2) atenuados, porém vivos, como a vacina da tríplice viral (caxumba, rubéola e sarampo), que não é indicada para gestantes. “Apesar de sabermos por experiência que gestantes vacinadas nunca tiveram nenhum problema [com esse tipo de vacina], evitamos na gestação por serem vacinas atenuadas, mas vivas, que poderiam causar alguma doença no feto, embora na prática a gente observe que não acontece”, explica a médica. 

No caso das vacinas anticovídicas liberadas para uso no Brasil, nenhuma delas faz uso do vírus desta forma. A Coronavac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac e produzida pelo Instituto Butantan, apresenta o coronavírus na forma inativada, ou “morto”, incapaz de gerar a doença. Essa mesma estratégia é adotada na vacina contra a influenza, a gripe – e essa é uma das indicadas para as gestantes. 

O imunizante do laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, produzido também pela Fiocruz, usa de outro vírus, o adenovírus (causador do resfriado comum), sem a sua carga genética para carregar informações do coronavírus. Como não há vírus “vivo”, também não gera temor entre os especialistas, segundo Flavia. 

Outra vacina que poderá ser usada nesse grupo no país é a da Pfizer/BioNTech, de acordo com o Programa Nacional de Imunizações. Ainda que seja uma tecnologia nova, de RNA mensageiro, o imunizante tem se mostrado seguro entre as gestantes. Resultados preliminares de um estudo que avaliou esse grupo específico demonstraram que não havia nenhum sinal de alerta para segurança das vacinas da Pfizer e da Moderna, e que os efeitos adversos encontrados não foram diferentes daqueles na população em geral. Os dados foram publicados na revista científica The New England Journal of Medicine, no dia 21 de abril. Essas vacinas também não fazem uso do vírus vivo, mas de uma parte do código genético do coronavírus, entregue ao sistema imune em um “envelope” de gordura.  

Além disso, a farmacêutica americana anunciou, em fevereiro, o início de um ensaio clínico nos Estados Unidos para avaliar a vacina entre gestantes. O estudo será feito com quatro mil mulheres, entre a 24ª e a 34ª semana de gestação, conduzido entre sete a 10 meses.

“São vacinas mais novas, mas são inativadas e isso dá uma tranquilidade pela experiência que temos com outras vacinas inativadas. Especificamente com relação à Covid-19, é importante pesar o risco e o benefício. Hoje temos a informação que as gestantes, principalmente com comorbidades, podem fazer um quadro mais grave da doença. Como a circulação do vírus ainda é alta, é um risco a mais para elas”, reforça a diretora da SBIm.

2) O risco de trombose da vacina da AstraZeneca/Oxford poderia afetar as gestantes?

Apesar de a vacina da AstraZeneca/Oxford ter sido associada à formação de coágulos, trata-se de um evento raro e também identificado em outras vacinas. Com relação às gestantes, por mais que elas tenham um aumento no risco de tromboses, esse é um evento mais incomum do que a alteração no sistema imune – o que aumenta o risco de doenças infecciosas graves, como a Covid-19. 

“Essa alteração imunológica que a gestante tem, e que a torna mais suscetível a quadros graves de doenças infecciosas, é muito maior do que o risco de um fenômeno tromboembólico. A diminuição do retorno venoso e outras questões não são tão regra como essa alteração imune que as gestantes passam. Elas também têm alterações respiratórias, por causa do volume abdominal aumentado. Como é um vírus que causa problema aos pulmões, tudo isso predispõe ao agravamento da doença respiratória. Isso, na situação da Covid, é muito mais importante que o risco de um fenômeno tromboembólico que sabemos ser baixo”, explica Flavia Bravo, diretora da SBIm.

3) Qual momento da gestação é mais indicado para vacinar?

A qualquer momento da idade gestacional, segundo Rodolfo de Carvalho Pacagnella, professor de obstetrícia da faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e vice-presidente da Comissão Nacional de Especialidade de Mortalidade Materna da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).

“As vacinas que têm como objetivo a proteção da mulher precisam ser dadas o quanto antes. É o caso da vacina da gripe, do H1N1, da influenza. Como o objetivo é a proteção materna, precisa ser feita antes, pelo maior risco de mortalidade”, explica. 

No início de 2021, o número de mortes de gestantes e puérperas por Covid-19 mais que dobrou em relação à média semanal do ano passado. Em 2020, uma média de 10,5 gestantes e puérperas vieram à óbito pela doença, por semana. Ao todo, foram 453 mortes.

Nos primeiros quatro meses deste ano, porém, a média de óbitos por semana chegou a 25,8. Até o dia 10 de abril, eram 362 mortes. Os dados foram analisados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 e divulgados pela Agência Brasil.

4) A eficácia das vacinas pode mudar entre as gestantes?

Ainda não há resposta a essa pergunta quando se trata de vacinas contra a Covid-19. No entanto, outras vacinas que são aplicadas nas gestantes, como a da gripe, hepatite B e tétano, não tiveram mudança na eficácia em comparação com a população em geral.

O professor de Obstetrícia lembra, porém, que qualquer eficácia é bem-vinda a um público de risco, como as grávidas. “Qualquer benefício que você traga para essa população já é excelente. Mas não há ainda uma avaliação específica da resposta da vacina entre elas”, completa.

5) Os bebês estarão protegidos quando a mãe se vacinar contra a Covid-19?

Segundo Flavia Bravo, diretora da SBIm, já há estudos que demonstram a transferência de anticorpos contra a Covid-19 de mãe para bebê, mas não se sabe ainda qual é implicação disso na prática – visto que a proteção imunológica não se baseia apenas nos anticorpos. 

“Mas sabemos de outras vacinas, como a da coqueluche, que toda gestante precisa tomar em todas as gestações, e um dos principais objetivos é transferir os anticorpos para o bebê”, explica a especialista. Como a criança só será vacinada a partir do segundo mês, e só terminará o esquema vacinal depois da terceira dose, toda proteção prévia é bem-vinda.

“A mortalidade de coqueluche se concentra no primeiro ano de vida, principalmente nos primeiros três meses. É por isso que se vacina a gestante, para que transfira os anticorpos ao bebê, para que ele os tenha até ser vacinado. E a vacina evita também que a mãe transmita a doença, pois o adulto, de forma geral, não tem sintomas ou são muito brandos, e nem percebe”, reforça Bravo. 

Outras vacinas que são aplicadas nas gestantes com o mesmo objetivo são a da influenza (gripe), tétano (que é a mesma da coqueluche) e da hepatite B. “A hepatite B é sexualmente transmissível, e sabemos que o bebê não vai adquirir tão cedo. Mas pode pegar no momento do parto, por isso a vacinação é importante”, comenta a especialista.

6) Há contraindicação para a vacinação da Covid-19?

As contraindicações são as mesmas para a população em geral, como pessoas com alergias a algum componente da vacina. Não há contraindicações específicas às gestantes.

7) Quantas mulheres foram vacinadas estando grávidas e quais efeitos elas relataram?

Gestantes que se encaixavam em outras categorias, como profissionais da saúde, podem ter sido vacinadas no Brasil, mas não há um número total. Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) acompanha 30 mil pessoas que estavam grávidas no momento da vacinação. Cerca de 1,8 mil detalharam os sintomas após a aplicação e efeitos na gestação, de acordo com informações divulgadas pela Escola Médica de Harvard.

Dos efeitos relatados, as gestantes destacaram os mesmos da população em geral, como febre baixa, em um dia ou dois. Nenhum aborto espontâneo, natimorto ou nascimento prematuro foi associado à vacina.

8) Quando as gestantes serão vacinadas no Brasil?

Em uma audiência para a Câmara dos Deputados, a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Franciele Francinato, disse que a vacinação deve começar no dia 13 de maio. Isso, no entanto, dependerá da oferta de doses e dos planos de imunização montados em cada município.  

A próxima etapa de vacinação, que inclui as pessoas com comorbidades, será dividida em duas fases, de acordo com a nota técnica do Ministério da Saúde divulgada na última segunda-feira (26). Em um primeiro momento, serão vacinadas:

  • Pessoas com síndrome de Down, seja qual for a idade;
  • Pessoas com doença renal crônica em terapia de substituição renal, ou diálise, seja qual for a idade;
  • Gestantes e puérperas com comorbidades, seja qual for a idade;
  • Pessoas com comorbidades de 55 a 59 anos;
  • Pessoas com Deficiência Permanente cadastradas no Programa de Benefício de Prestação Continuada (BPC) de 55 a 59 anos;

Na sequência, de acordo com as faixas de idade de 50 a 54 anos; 45 a 49 anos; 40 a 44 anos; 30 a 39 anos e 18 a 29 anos:

  • Pessoas com comorbidades;
  • Pessoas com Deficiência Permanente cadastradas no BPC;
  • Gestantes e puérperas, independentemente das condições pré-existentes.

De acordo com o Ministério da Saúde, caso as gestantes tenham sido se vacinadas há menos de 14 dias com outras vacinas, como a da influenza (gripe) ou outras do calendário, é importante esperar essas duas semanas (pelo menos 14 dias) antes de receber o imunizante contra a Covid-19.

9) As gestantes deverão comprovar a gravidez para serem vacinadas?

Gestantes com comorbidades deverão comprovar a condição de risco por meio de exames, receitas, relatórios médicos, prescrições médicas, etc. Poderão ser usados os cadastros existentes nas Unidades de Saúde. No entanto, o teste de gravidez não deve ser um pré-requisito para a imunização.

10) As puérperas podem continuar amamentando depois de se vacinarem?

De acordo com o Ministério da Saúde, as puérperas serão orientadas a não interromperem a amamentação depois da vacinação.

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