A quarta fase do Epicovid-19 mostra queda no percentual de brasileiros com anticorpos contra o novo coronavírus, o que indica desaceleração dos contágios.
A quarta fase do Epicovid-19 mostra queda no percentual de brasileiros com anticorpos contra o novo coronavírus, o que indica desaceleração dos contágios.| Foto: BigStock

O percentual de brasileiros com anticorpos contra o novo coronavírus caiu de 3,8% em junho para 1,4% em agosto, segundo os resultados da quarta fase da pesquisa Epicovid-19 BR, divulgados na semana passada. Para os autores, os dados mostram que a epidemia está em desaceleração na maior parte do país.

A Epicovid-19 BR é a maior pesquisa de prevalência da Covid-19 em andamento no país. Os dados da fase mais recente foram coletados entre 20 e 23 de agosto, com a participação de 33.250 pessoas de 133 cidades brasileiras. Assim como nas outras etapas, entrevistadores visitaram residências e fizeram entrevistas e testes rápidos (com uma gota de sangue retirada do dedo) de anticorpos para o Sars-CoV-2, o vírus causador da Covid-19.

No início da pandemia, especialistas acreditavam que os anticorpos produzidos após uma infecção pelo novo coronavírus permanecessem durante um longo tempo no corpo humano, mas pesquisas mostraram que esse não é o caso. Estudos feitos em vários países mostraram que os anticorpos podem sumir do sangue de pessoas recuperadas da doença em dois ou três meses – mas isso não significa que elas não estão imunes a uma nova infecção, já que os anticorpos são apenas uma parte da defesa contra o vírus.

"Inicialmente tratávamos a Epicovid como uma filmadora, que poderia mostrar a evolução da soroprevalência no país ao longo da epidemia, de forma cumulativa. Agora sabemos que os anticorpos têm duração limitada e, portanto, o que temos são várias fotografias de momentos diferentes. Embora não seja possível estimar o total de brasileiros que já teve contato com o vírus em algum momento da vida, conseguimos ver com precisão o percentual de pessoas que foram infectadas recentemente e esse número está claramente caindo", explica Pedro Hallal, coordenador da pesquisa, à Agência Fapesp.

Nas três etapas anteriores – uma concluída em maio e outras duas no mês de junho, nas mesmas 133 cidades – a soroprevalência havia seguido tendência de elevação: 1,9%, 3,1% e 3,8%, respectivamente. A exceção foi a região Norte, onde algumas regiões que foram fortemente afetadas no início da pandemia registraram queda no percentual de pessoas com anticorpos na segunda e na terceira fase do estudo. Outras duas etapas da pesquisa ainda serão realizadas.

Hallal disse à Agência Fapesp que os resultados da quarta fase mostram claramente a interiorização da pandemia. "Hoje o vírus está muito mais forte nos municípios do interior do que nas capitais – o que é muito diferente do observado nas fases anteriores", comentou.

O pesquisador destacou que nos primeiros meses da pandemia, a soroprevalência era maior ente pessoas de 20 a 50 anos – aquelas em idade produtiva e que tiveram mais dificuldade de manter o isolamento social. Nesta fase, a proporção diminuiu nesse grupo e aumentou entre crianças e idosos.

Pessoas de famílias que se encontram entre as 20% mais pobres da população apresentam prevalência mais de duas vezes maior do que a observada entre os 20% mais ricos. Essa tendência não se alterou entre as fases do estudo.

Houve queda da prevalência de anticorpos entre a população indígena, explicada pela desaceleração da epidemia na região Norte. Pretos e pardos continuam a apresentar maior chance de infecção em comparação aos brancos.

As cidades com maior soroprevalência na medição mais recente foram as cearenses Juazeiro do Norte (8%) e Sobral (7,2%), seguidas pelas paraenses Santarém (6,4%) e Altamira (5,2%). No estado de São Paulo, as primeiras colocadas são Ribeirão Preto (2,8%), Araçatuba (2%), Campinas (0,8%) e a capital (0,8%).

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