Orientações podem mudar conforme aumento no número de casos da região, mas alguns cuidados devem ser tomados em qualquer situação
Orientações podem mudar conforme aumento no número de casos da região, mas alguns cuidados devem ser tomados em qualquer situação.| Foto: Volodymyr Hryshchenko/Unsplash

As festas de fim de ano estão chegando, e a grande dúvida é: como serão os encontros familiares em meio a uma pandemia? Apesar de uma temporária estabilização no número de casos da Covid-19, todo o país vê um novo crescimento, inclusive com dados recordes, no início de novembro.

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Embora seja difícil prever, por enquanto, como será no próximo mês, é fato que muitos cuidados deverão ser adotados por todas as famílias durante as festividades de Natal e Ano Novo, para evitar a contaminação e a disseminação do Sars-CoV-2.

Confira o check list abaixo, de acordo com as orientações de Vitor Mori, pós-doutorando na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, e membro do Observatório Covid-19 Brasil, iniciativa independente de pesquisadores que visam a disseminação de informações cientificamente embasadas sobre a infecção pelo novo coronavírus. Lembre-se que essas orientações não garantem segurança total em encontros e que o ideal, por enquanto e talvez, caso o contágio aumente nas próximas semanas, é evitar contatos próximos com pessoas que não dividam a unidade domiciliar em que você reside.

Como deixar o Natal mais seguro?

O primeiro passo que todos os familiares precisam tomar antes de organizar qualquer encontro de fim de ano é: tenha em mente que reuniões com muitas pessoas, dentro de ambientes fechados, que não façam uso de máscaras e nenhuma outra medida de prevenção, formam as condições perfeitas para um evento de superespalhamento da Covid-19.

Exemplos desse risco não faltam, como foi o caso de uma família nos Estados Unidos que, depois de uma festa surpresa, 18 membros acabaram infectados. No Brasil, histórias em São Paulo e no Ceará reforçam a importância dos cuidados.

De acordo com Mori, sabe-se hoje que o novo coronavírus se transmite por três vias principais:

  • Por superfícies contaminadas (por exemplo, quando alguém infectado pelo novo coronavírus espirra na mão e depois a encosta em uma mesa que, antes que seja limpa, acaba sendo encostada por outra pessoa que, na sequência, leva a mão ao rosto e se infecta);
  • Por gotículas (perdigotos que pulam da nossa boca enquanto falamos, cantamos, etc. Esses perdigotos caem até dois metros da pessoa que os expelem, por isso a importância do distanciamento);
  • Por aerossóis (gotículas menores e mais leves que não caem como os perdigotos maiores, mas permanecem suspensas no ar).

Embora as três vias sejam importantes, as duas últimas são as mais prevalentes, e exigem maior atenção na hora de encontrar os familiares e amigos. "Quando você se protege dos aerossóis, você está também está se protegendo das gotículas, porque a forma de proteção é a mesma, que é o distanciamento de dois metros e o uso de máscara, além da ventilação", explica o especialista, que completa:

"A proteção por aerossol protege da gotícula também, mas não necessariamente o contrário. Para gotículas, deve-se praticar o distanciamento e o uso da máscara, mas para o aerossol também é importante ressaltar a ventilação".

Faça uma quarentena de 14 dias

A partir do dia 10 de dezembro, todas as pessoas que estão planejando se reunir poderiam começar uma quarentena de 14 dias, para que, no dia 24 de dezembro, o risco de uma contaminação diminua, sugere Mori.

Sair de casa apenas para o essencial e sempre usando a máscara da forma correta. Se não puder completar 14 dias, procure permanecer em isolamento por pelo menos sete dias, uma semana. "Todos devem fazer. Não adianta só um ou outro", reforça Mori sobre a importância de todos aderirem à medida de segurança.

Se mesmo sete dias não forem possíveis, reduza a quantidade de pessoas no encontro. Quanto menor o número de participantes, menor será o espalhamento de um vírus, caso alguém esteja contaminado. "É um ano atípico. O mínimo possível de participantes é melhor", destaca.

Vá para o quintal

Uma das vantagens de celebrar as festas de fim de ano no hemisfério sul é que essa é a época da estação mais quente. Aproveite esse benefício para fazer a reunião do Natal ou Ano Novo ao ar livre.

Vale uma chácara, quintal, jardim, laje, ou mesmo na calçada em frente de casa, desde que seja uma ambiente aberto, com boa ventilação e que as pessoas consigam manter um distanciamento de 1,5 a 2 metros entre si.

O especialista explica ainda que, caso não seja possível se reunir em um ambiente ao ar livre, que o local esteja o mais ventilado possível. Um apartamento, por exemplo, deve ficar com todas as janelas e portas abertas. Para aumentar a circulação de ar, Mori sugere o uso de ventiladores, mas de uma maneira diferente.

"O ideal é, se tiver apenas um ventilador, colocá-lo virado para a janela, para que puxe o ar de dentro da sala e jogue para fora, porque o ar de dentro vai estar potencialmente contaminado. Se tiver mais de um, coloque-os em pontos diametralmente opostos no ambiente. Um puxando o ar de dentro e jogando para fora, pela janela, e outro em outra janela puxando o ar de fora para dentro, para que tenha a troca de ar", explica Mori.

Quanto mais janelas e ventiladores colocar para fazer o ar circular, melhor, segundo o especialista. "Outra sugestão é, cada convidado pode trazer um prato de comida e um ventilador."

Como sei que há pessoas demais?

Pode ser difícil convencer a família de que, neste ano, a reunião deve ficar restrita a poucas pessoas. Mas ter um número controlado é importante para evitar uma transmissão a grandes grupos.

Esse número não é universal e varia de acordo com alguns fatores, como:

  • A festa será em ambiente aberto ou fechado? Locais fechados exigem menos pessoas.
  • Há espaço para que os participantes fiquem 1,5 a 2 metros de distância entre si? Se não houver, o número de pessoas deve ser reduzido.

Para ficar mais claro o risco, Mori sugere uma comparação com a fumaça do cigarro. "Quando você vai ao parque e tem gente fumando, você pode até sentir na hora o cheiro do cigarro, mas passa. Em um lugar fechado é totalmente diferente, e dá para entender o risco inclusive da transmissão do coronavírus por superfícies. Se alguém fuma dentro de casa, o cheiro se impregna na roupa, no cabelo. Com os aerossóis da Covid-19 é a mesma coisa, a roupa fica cheia de aerossóis contaminados", diz.

Só tire a máscara para comer

Depois de oito meses de pandemia, sabemos que a máscara não é o item mais confortável de se usar. Além de abafar o som, aperta nas orelhas e embaça os óculos. Mas, ainda assim, é um item importante, visto que impede que as gotículas de saliva - que pulam normalmente durante uma conversa ou ficam suspensas no ar na forma de aerossóis - atinjam outras pessoas.

"É importante usar a máscara o máximo de tempo possível, especialmente quando se está conversando o que, infelizmente, é o oposto do que muitas pessoas estão fazendo. Muitas abaixam a máscara na hora de falar porque, sabemos, a máscara abafa o som", explica Mori.

Ao ar livre e com vento, segundo o especialista, o item é recomendado, mas o risco em não usar pode ser menor. Já em locais fechados, sem a mesma circulação de ar, o risco é grande.

"Sabemos que quando a pessoa bebe, acaba mais descuidada. E sabemos que não tem como passar pelas festas abstêmio, mas se você perceber que alguém está bebendo demais e descuidando do uso da máscara, dê um toque, peça para a pessoa colocá-la", indica Mori.

Hora da ceia: cada um em um canto

Na hora de comer, uma sugestão é que cada um faça o próprio prato e coma distante um do outro, ou mesmo em forma de rodízio. O importante é que, nesse momento, haja um distanciamento maior entre as pessoas, e que seja uma refeição mais silenciosa - para evitar que perdigotos voem de uma pessoa a outra.

Embora sejam recomendações que, a princípio, pareçam absurdas, lembrem-se: trata-se de um ano atípico, fora da curva, com uma pandemia para a qual não há, ainda, tratamentos ou vacinas aprovadas.

"Apesar de a transmissão por superfície não ser tão comum quanto as outras vias, compartilhar copos e talheres é algo a se evitar também, porque a pessoa estará colocando a saliva dela ali. Outro hábito a ser evitado é ficar cutucando a comida com o próprio garfo ou colher, ou ficar falando enquanto se serve", explica Mori.

Pode abraçar?

Se todas as recomendações acima forem mantidas - desde a quarentena antes do encontro familiar ao uso da máscara em todos os momentos -, o abraço ao familiar não vai aumentar o risco de transmissão, segundo Mori.

"Nessa pandemia, estamos tratando tudo com muito ou oito ou 80, tudo ou nada, sem as nuances da transmissão. Não é que você não possa abraçar ou tocar em ninguém. Se é uma pessoa que você não convive, e que não manteve os cuidados, mantenha distância. Mas se já tem um contato maior e fez todos os cuidados, pode abraçar, desde que use a máscara", diz.

Embora possa parecer bobeira, Mori explica que vale segurar a respiração e não falar durante o abraço. "Ninguém deseja que a sua festa de Natal contamine a família toda, então é importante manter os cuidados", resume.

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