Brasil corre contra o tempo para adquirir respiradores suficientes aos pacientes mais graves de Covid-19
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Enquanto medicamentos e vacinas são testados para tratar a Covid-19, o principal aliado na batalha dos profissionais de saúde para salvar vidas são os respiradores. O aparelho é de fundamental importância para manter vivos os pacientes em estado mais grave da doença. O Brasil ainda não sabe ao certo quantos respiradores, também chamados de ventiladores pulmonares, serão necessários para dar conta da pandemia, que ainda não atingiu o pico no país. Ainda assim, corre contra o tempo para ter um número minimamente suficiente desses aparelhos.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 80% dos infectados pela Covid-19 são assintomáticos ou têm sintomas mais brandos, mas 20% deles desenvolvem quadros mais graves – o que exige a internação e o uso do respirados.

Dados divulgados na quarta-feira (1) pelo Ministério da Saúde, indicam que há 21.426 pacientes hospitalizados por Síndrome Respiratória Aguda Grave no país, sendo que 6% deles têm a confirmação para a Covid-19.

No momento, os hospitais do país contam com 65.411 respiradores, sendo que 46.663 estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados do Ministério da Saúde. O governo planeja comprar mais 32 mil desses equipamentos. Ou seja, ampliar em 50% a capacidade atual.

Um edital finalizado na última terça-feira (31), e em fase de análise das propostas, prevê a compra de 15 mil novos respiradores para todo o país. Ainda de acordo com o ministério, há expectativa que outro edital seja publicado visando à compra de mais 17 mil respiradores.

Possível escassez do equipamento

A urgência do Ministério da Saúde em adquirir novos equipamentos se justifica pelo medo de que faltem respiradores nas próximas semanas, quando a doença atingirá o pico.

É preciso lembrar ainda que qualquer cálculo que estime a necessidade de ventiladores pulmonar deve levar em consideração quais são as medidas de contenção à disseminação do novo coronavírus adotadas, e os efeitos das mesmas. Estudos preliminares têm indicado que o isolamento e o distanciamento social têm sido a melhor arma para reduzir a contaminação de grande parte da população. Assim, reduzir o número de pessoas que precisarão dos respiradores.

Pesquisas baseadas em taxas de contaminação e necessidade de hospitalização em países fortemente afetados pela Covid-19, como China e Itália, tentam fazer essa conta de quantos desses equipamentos serão necessários.

Um desses estudos (ainda preliminar e sem revisão), feito por especialistas da Universidade de Harvard (EUA) e pelo secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, traça 12 possíveis cenários no combate ao novo coronavírus no Brasil.

Um dos resultados aponta que, ainda neste mês de abril, os hospitais poderiam sentir a falta de disponibilidade de leitos – principalmente em unidades de terapia intensiva (UTI) – e de aparelhos respiradores. "O fornecimento de leitos hospitalares provavelmente enfrentará escassez após 21 de abril e de ventiladores mecânicos apenas alguns dias depois", diz trecho da publicação.

Os pesquisadores ressaltam que "os cenários simulados não devem ser usado como estimativas precisas para o momento exato", mas que "visam informar o planejamento".

Segundo o Ministério, a expansão dos respiradores está acontecendo juntamente com o aumento da oferta de leitos – os ventiladores fazem parte do kit.

Três mil leitos de UTIs volantes (de instalação rápida) foram contratados e 200 já foram instalados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A pasta ressalta ainda que está em diálogo permanente com produtores brasileiros do equipamento para que seja garantida a oferta no país.

Problema na hora da compra

Na quarta-feira (1.º), o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta relatou problemas na compras de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e respiradores da China, pois os Estados Unidos estavam  "recomprando" encomendas já feitas por países como o Brasil. "Nós estávamos comprados (sic). Entregaram uma primeira parte. Mas, depois, mesmo com contrato assinado, disseram que não teriam como entregar", disse o ministro.

Com a alta demanda pelos equipamentos e a produção afetada no principal país produtor, Mandetta afirmou: "Só acredito a hora que estiver dentro do país e na minha mão. Hoje conseguimos uma possível compra de 8 mil respiradores. Tem 30 dias para nos entregar. Se receber ótimo, acalmo".

O ministro também incentivou outras iniciativas de compras de menor porte por parte de estados e prefeituras para aumentar o número de respiradores. Paralelamente, universidades públicas como UFRJ e USP desenvolvem protótipos de ventiladores mecânicos para produção em larga escala.

O equipamento da universidade paulista custaria 15 vezes menos do que os ventiladores mais baratos do mercado, na faixa de R$ 15 mil. Em reportagem publicada pela Folha de S. Paulo, os pesquisadores cariocas estimaram o custo do seu equipamento em até R$ 5 mil e que o país necessitaria de pelo menos mais 20 mil deles durante a crise.

Em outros países, a estratégia para ter mais respiradores conta com grandes montadoras e players da indústria. Nos EUA, somente a Ford e General Electric pretendem produzir 50 mil ventiladores nos próximos 100 dias. Já na Inglaterra, o esforço conta até com a ajuda da equipe da Fórmula 1 Mercedes. Na Itália, a Fiat anunciou que vai produzir respiradores.

Manutenção dos respiradores

Dos mais de 65,4 mil equipamentos atuais no Brasil, cerca de 3,6 mil não estão em condição de uso, segundo a LifesHub Analytics e a Associação Catarinense de Medicina (ACM).

Diante disso, desde o início desta semana o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e dez grandes indústrias se disponibilizaram para fazer a manutenção voluntária dos aparelhos. Ao todo, a iniciativa tem 25 pontos espalhados por 13 estados do país para receber os equipamentos que necessitam de reparos.

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