O catequista brasileiro que o Vaticano chamou para ser jornalista credenciado
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Com um crescente sucesso desde seu lançamento, em 2011, o site O Catequista formou uma legião de fãs e seguidores abordando com bom humor e muita zoeira os temas da fé católica. No começo deste ano, a fama do portal chegou até mesmo ao Vaticano. Alexandre Varela, que mantém o site junto com a esposa Viviane, foi credenciado em março como jornalista na Sala de Imprensa da Santa Sé.

O projeto do casal carioca, ambos catequistas da Paróquia de Nossa Senhora de Copacabana, hoje conta, além do site, com um canal no YouTube, uma página no Facebook com 480 mil seguidores, um programa semanal na Rádio Catedral – “A Hora da Treta” – e o livro As grandes mentiras sobre a Igreja Católica, publicado pela editora Planeta, que chegou a figurar entre os cinco mais vendidos na Livraria da Folha.

O Sempre Família conversou com Alexandre durante a ExpoCatólica 2017, em São Paulo, sobre o trabalho desenvolvido pelo casal e o seu credenciamento junto ao departamento de comunicação do Vaticano. Confira:

 

Como aconteceu o contato entre vocês e o Vaticano?

Chegou um e-mail, na caixa de entrada do contato do site, que pedia “o telefone do Alexandre”, tudo em inglês. É claro que eu fiquei assustadíssimo, porque, se chega um e-mail “@vatican.va” pedindo teu telefone, o que você faz? Obedece e reza. Na minha cabeça eu pensei: “Caramba, já era. Chegou a excomunhão. Chegou a hora de acabar com O Catequista. Acabou a carreira”. No dia seguinte, veio a ligação. “Eu sou a Paloma [García Ovejero], sou vice-diretora da Sala de Imprensa do Vaticano”. Eu tremi todo. Ela disse: “A gente lê tudo o que você escreve, ouve tudo o que você posta, vê todos os seus vídeos, sabe tudo o que você faz…” Pensei: “Ela tá justificando a excomunhão”. Eu estava esperando pelo pior. Aí ela falou: “… E nós não temos palavras para agradecer o que você faz pela Igreja e pelo papa”. Antes de ela terminar a frase, eu já estava chorando – passando a maior vergonha, porque eu estava no meio de um restaurante. Mas feliz e absolutamente realizado, porque era um grande sinal de que a gente está fazendo alguma coisa certa. Então ela ofereceu a possibilidade de ser um jornalista credenciado do Vaticano.

 

O que o credenciamento proporcionou a vocês?

Tem duas coisas especiais nisso: a primeira é que se tratou de uma exceção, porque os vaticanistas – como são chamados esses profissionais – precisam morar em Roma, e esta foi a primeira vez em que se abriu uma exceção. A segunda é que, por ser credenciado, recebo por e-mail lá pelas 5h, 6h da manhã todos os textos e a agenda do papa para aquele dia. Então eu posso saber o que vai acontecer e reagir antes que algum jornal fale besteira. Outra coisa muito legal que tem acontecido é que, como se espalhou essa notícia do meu credenciamento, já tem muito jornal secular que liga para mim para confirmar informações sobre o papa Francisco. Isso significa o seguinte: que, para além dos jornalistas que distorcem as coisas com má intenção, aqueles que têm boa intenção acharam uma maneira de não falar bobagem por desconhecimento. Só isso já valeu muito a pena.

 

É possível ver que o papa Francisco procura se comunicar de modo inteligente e isso envolve também o setor de comunicação do Vaticano. Você acha que o credenciamento de alguém que faz um trabalho como o seu é parte dessa estratégia?

Eu acho que sim. Acho que a abertura a um blogueiro, a um site que não é um veículo profissional de imprensa, e o reconhecimento de um jornalista que atua dessa maneira é um sinal de mudança de mentalidade. Existe outra maneira de comunicar. O meu processo de credenciamento começou em janeiro e nós divulgamos o fato em março, quando chegou a carta oficial. Talvez a essa altura já existam mais vaticanistas fora de Roma.

 

E o salto de catequista para blogueiro, no começo do site, como foi?

Foi naturalíssimo. Foi provocado pela própria turma de catequese. Eles perguntavam muito sobre a atualidade. “Ah, a Ilze Scamparini [correspondente da Globo na Itália e no Vaticano] falou tal coisa no Fantástico. Por quê?” Chegou um momento em que eu estava me ocupando tanto disso, que falei: “Olha, vocês vão sair daqui completamente profissionais em imprensa vaticana e não vão saber nada de catequese. O resultado é que não vão conseguir julgar com a própria cabeça. Então vamos fazer o seguinte: aqui a gente faz catequese de verdade e na internet eu abro um bloguinho para responder às questões de vocês”. E isso valeu tanto para questões de imprensa quanto para assuntos secundários da catequese, tipo exorcismo. Foi aí que as coisas começaram a acontecer. Vimos que tinha mil, duas mil, três mil pessoas acessando e decidimos: se as pessoas estão vindo querendo catequese, então vamos catequizar esse povo com a graça de Deus.

 

Vocês ainda dão catequese na sua paróquia?

Sim. Nunca paramos de ter, desde 15 anos atrás.

 

Mas e o tempo? Tem a profissão, o site, os quatro filhos…

(Risos) Você já percebeu que o tempo para você não é o mesmo que o tempo para outra pessoa? Um acha que o tempo passa mais rápido, outro mais devagar. Por mais que a gente tente metrificar o tempo como algo objetivo, ele não é. Por mais que a gente tente domesticar, domar o tempo, não dá. Aliás, como todas as outras coisas, o tempo é feito por Deus. O tempo é dado por Deus. Ele resolve. Como? Das formas mais criativas possíveis. Você perde o sono, vira a noite e nem percebe. Você dorme pouco e mesmo assim está satisfeito. Você tem um insight e faz um negócio que deveria durar horas em um minuto. Deus cuida disso.

 

Conheça o canal O Catequista no YouTube:

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