Cristãos praticantes leem mais e consomem mais literatura do que o restante da população. A afirmação foi feita pelo presidente da editora evangélica Mundo Cristão, Mark Carpenter durante a Expo Cristã, maior feira gospel da América Latina que ocorreu em setembro do ano passado, em São Paulo. Para ele isso se deve à cultura das igrejas, que incentivam os fiéis à leitura da Bíblia não só nos templos ou grupos de estudo, mas também em casa. Ele atribui esse comportamento também à motivação entre os membros das comunidades, principalmente evangélicas, de lerem livros que complementem o aprendizado religioso.
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Apesar dos diversos desafios enfrentados com a recessão econômica e os novos hábitos de consumo de literatura pela população, o mercado de produção de literatura religiosa resiste com público fiel. Dados de 2017, fornecidos pela Nielsen BookScan, mostram que os títulos desse segmento tiveram um resultado de vendas positivo de aproximadamente R$1,8 bilhão – um leve aumento no faturamento em relação a 2015 e 2016, que foi de pouco mais de R$ 1,6 bilhão, nos dois anos.
Para André Fonseca, editor do setor de publicações de espiritualidade e autoajuda da Editora Planeta, a manutenção das vendas neste segmento do mercado editorial se deve à crise. Parece algo contraditório de se dizer, mas o fato é que em tempos de recessão econômica as pessoas acabam se apegando muito mais à religião, e assim consomem mais literatura sobre o tema. “Já começamos a sentir essa mudança no final de 2016, que continuou em 2017, manteve-se em 2018 e acreditamos que isso ainda se mantenha em 2019”, explica.
Estratégias de fidelização
Ainda que haja o saldo positivo de vendas, as editoras têm procurado inovar em suas publicações, investido em produtos que encantem os olhos na mesma medida em que tragam informação de qualidade. A importação de padrões visuais típicos de redes sociais também se tornou comum. “Estamos rediagramando livros para que sejam mais amigáveis àqueles que leem textos pequenos”, conta Carpenter, referindo-se aos trabalhos da Mundo Cristão.
Outra mudança feita pela editora, especificamente, para atrair e manter os leitores é apostar em autores locais. Por muito tempo a literatura evangélica consumida pelos brasileiros tinha origem estrangeira, especialmente aquela vinda dos Estados Unidos e Inglaterra. “Continuamos com o entendimento de que é preciso trazer o que há de melhor lá fora, para cá” – pontua Carpenter – “mas percebemos que há uma demanda maior atualmente por vozes nacionais e isso é bom para o departamento editorial, porque são produções inéditas em várias áreas do conhecimento”, comenta.
A aposta em autores nacionais também é uma das estratégias de Fonseca, com o selo Pórtico, responsável pelas publicações do segmento evangélico. Hoje eles trazem ao Brasil nomes traduções de nomes de destaque como CS Lewis, mas conta também com um grande número de autores brasileiros. “De 10 publicações nossas, seis são daqui e as outras quatro de fora”, diz Fonseca ao lembrar que o início da Pórtico na Editora Planeta, foi com o livro do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. “O livro do Edir Macedo abriu o mercado para nós e estamos até hoje entre os três mais vendidos da história do Brasil”. A ótima resposta do público mostrou à empresa o potencial dessa parcela da população que continua crescendo no país.
Futuro com olhos na tecnologia
Assim como acontece em outros segmentos editoriais, entre os livros religiosos já não há como fugir dos digitais. Por isso os lançamentos físicos já saem com suas versões em e-book. O mercado ainda é tímido, segundo Carpenter, mas sinaliza um bom e próspero futuro. “O crescimento é lento, mas constante. Não chega a 2% das vendas da editora, mas vemos o avanço contínuo”, explica.
E algo que também tem chamado a atenção da Mundo Cristão são os audiobooks, que têm movimentado nos Estados Unidos algo em torno de US$ 2,5 bilhões, de acordo com Carpenter. “Talvez essa realidade de lá acene um potencial aqui”, diz ele lembrando que os smartphones tornam essa experiência do usuário muito mais intuitiva, do que quando havia a dependência dos Cds. “Há plataformas em que você lê o primeiro capítulo do e-book, ouve o segundo e caso pare a leitura, na volta consegue optar por ler ou ouvir de onde parou”, comenta.
Já na Pórtico, onde os e-books representam menos de 10% do faturamento, a aposta para 2019 é trabalhar menos projetos, mas dar maior ênfase nas possibilidades oferecidas por esses títulos. “A ideia é trabalhar não só o livro nas livrarias, mas gerar conteúdo a partir dele, como material didático de palestras, conteúdo digital como webseries e lives nas redes sociais”, diz Fonseca. “Queremos chegar no público final, mesmo agora com a crise das livrarias”, completa.
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