Foto: L'Oservatore Romano
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Durante os dias que se seguiram à histórica renúncia do papa Bento XVI, muitos observadores especularam que um lobby gay dentro do Vaticano teria feito pressão junto a outros grupos para que o pontífice resignasse. Em um novo livro-entrevista, a ser publicado em setembro, o papa emérito admite a existência de um lobby assim, mas diz que conseguiu desarticulá-lo e que o grupo tinha apenas “quatro ou cinco membros”.

Bento XVI – Últimas Conversas é o título do livro que será lançado mundialmente em 9 de setembro. É a primeira vez que um papa – ou papa emérito – admite publicamente a existência de um lobby gay no Vaticano.

O papa Francisco teria já se referido a esse lobby em um encontro privado com dirigentes da Confederação Latino-Americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR), mas, depois de divulgar um resumo do encontro, a CLAR voltou atrás e publicou uma declaração dizendo que aquelas palavras não podiam ser atribuídas ao papa.

Pouco depois, no voo de volta do Rio de Janeiro, onde esteve para a Jornada Mundial da Juventude,  Francisco não deixou clara a existência do lobby. “Escreve-se muito sobre o lobby gay. Eu ainda não encontrei ninguém com a carteira de identidade no Vaticano dizendo que é gay. Dizem que há. Eu acho que, quando alguém se encontra com uma pessoa assim, deve distinguir entre o fato de que uma pessoa seja gay e o fato de formar um lobby”, disse ele.

“Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar?”, explicou Francisco, em frase que ficou famosa. “O problema não é ter essa tendência. O problema é fazer lobby dessa tendência: lobby de gananciosos, lobby de políticos, lobby dos maçons e tantos outros”.

Vaticanistas dizem que um lobby gay seria uma rede de clérigos gays que protegem o segredo uns dos outros e tentam se ajudar dentro do sistema.

A renúncia e Francisco

 O livro-entrevista é o quarto que o jornalista alemão Peter Seewald realiza com Bento XVI, depois de Sal da Terra (1996), Deus e o Mundo (2000) e Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos (2010), os dois primeiros realizados antes da sua eleição como sucessor de João Paulo II.

No novo livro, de 240 páginas, Bento fala também do seu papado e do de seu sucessor, de sua renúncia e da vida como papa emérito.

Segundo o jornalista italiano Luigi Accattoli, que deu uma prévia do livro no jornal Corriere della Sera, Bento fala tanto do que tem em comum com Francisco quanto das suas diferenças. O papa emérito conta que acompanhou o anúncio da eleição de seu sucessor pela televisão e que se surpreendeu com a escolha dos cardeais: “Ele havia pensado em alguns nomes, mas não em Bergoglio”, escreveu Accattoli. “Depois da surpresa, veio a alegria de ver como o novo papa rezou e se comunicou com a multidão”, acrescentou o jornalista.

O papa emérito diz ainda que fez poucas pessoas saberem da decisão de sua renúncia, por temer que um vazamento da informação faria o anúncio perder força. Diz ainda que fez a declaração de renúncia em latim porque, embora vivendo em Roma desde 1981, temia cometer algum erro na língua italiana.

Bento reconhece que lhe faltava firmeza no governo da Igreja, mas rejeita a ideia de ter sido um papa concentrado apenas em estudar e escrever, bem como o rótulo de “restaurador” no que diz respeito à liturgia. O papa emérito diz ainda que escreveu diversas notas sobre vários assuntos durante o seu papado, mas planeja destruí-las.

Ratzinger fala ainda sobre a sua infância na Alemanha nazista, seu serviço militar e suas tentativas de limpar a “sujeira” na Igreja, isto é, o abuso sexual da parte de clérigos. É a primeira vez em dois mil anos que um papa oferece uma avaliação do próprio papado.

Bento e Francisco se encontraram recentemente, em 28 de junho, para comemorar o 65º aniversário da ordenação sacerdotal do papa emérito. Na ocasião, ele admitiu se sentir tocado pela bondade do papa Francisco. “Mais do que os Jardins Vaticanos, com a beleza que têm, é na sua bondade que eu moro e me sinto protegido”, disse o alemão de 89 anos ao seu sucessor, de 79.

 

Colaborou: Felipe Koller

Com informações de Crux Now.

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