Durante a adolescência, o apoio familiar é fundamental para que os filhos aprendam a enfrentar mudanças e novas emoções.
Durante a adolescência, o apoio familiar é fundamental para que os filhos aprendam a enfrentar mudanças e novas emoções.| Foto:

É durante a adolescência que questões como a personalidade, a ética e o caráter são desenvolvidos e aprimorados no indivíduo. E com a velocidade da tecnologia, as mudanças do mundo e as transformações comportamentais da sociedade, cada vez mais as gerações estão chegando a essa fase da vida com diversos problemas acentuados nestas áreas.

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Um dos grandes dilemas da adolescência, que é saber lidar com as conquistas e encarar o medo de falhar, é um desses fatores que hoje são evidenciados pelas redes sociais. Estamos em um tempo em que as cobranças e a pressão pela perfeição se intensificaram com o acesso fácil à suposta vida bem estruturada de influenciadores.

Para a pedagoga e teóloga Ana Cristina dos Santos, o acompanhamento dos pais e escola é a chave do sucesso para que o adolescente saiba como atuar com as situações de uma forma positiva e saudável. Ela explica que os pais e a instituição de ensino devem lembrá-lo de que as conquistas são exercícios de esforços, dedicação, comprometimento e responsabilidade para chegar ao objetivo traçado. "O adolescente precisa saber, que o reconhecimento é muito importante, porém, não podemos deixá-lo pensar que agora ele é “o máximo” e que não precisa fazer mais nada. Muitos se acomodam nesse processo. Por isso, o diálogo sempre deve existir, para que ele lembre de todas as etapas para o sucesso”, pontua Ana.

A pedagoga sinaliza que a adolescência é uma fase complexa na vida, e exige muita paciência de todos. "O Estatuto da Criança e Adolescente aponta até 12 anos como criança, e adolescente entre 12 e 18 anos. E é nessa segunda fase que o ser humano busca independência e a autonomia. É um período de crescimento em todas as suas dimensões: física, emocional, intelectual e social, com um “turbilhão” de emoções à flor da pele", diz Ana, ao reforçar que, apesar de ser um período conflituoso entre pais, filhos e aqueles que estão no entorno, é o momento em que todos os envolvidos devem buscar ajuda para que o ambiente se torne saudável para esse crescimento.

"Uma reflexão importante aos pais nesse momento é sobre fortalecer os laços afetivos, por mais exauridos que estejam na relação que às vezes parece desgastada; manter o acolhimento, diálogo, cuidar do 'julgar'; e fazer com que o filho sinta a proximidade dos pais sem invasão de privacidade. É fundamental estabelecer confiança para que essa transição se torne mais leve”, analisa.

Enfrentando medos

Até mesmo os adultos sentem medo. E você deve se lembrar das preocupações que teve durante sua adolescência, um tempo de experiências totalmente diferentes e cheia de mudanças. O medo faz parte do crescimento, mas se não tiver acompanhamento, poderá virar um problema.

A psicóloga e mestre em educação, Áurea E Om Spricigo Siqueira, conta que os medos variam de família para família. "A estrutura familiar interfere na construção de uma base emocional saudável. Se o adolescente está inserido em uma família que possui valores e princípios rígidos, acompanhada de posturas autoritárias, a situação acaba exigindo condutas e performance do adolescente que são condizentes com essa forma de compreender o mundo. Então, possivelmente esse jovem pode se sentir insuficiente, inseguro, incapaz e manifestar um medo muito grande de fracassar em diferentes âmbitos da sua vida", reflete. Por isso, o diálogo e orientações para que o jovem siga um caminho saudável faz toda a diferença.

Áurea reforça, ainda, que os adolescentes em geral temem uma série de fatores, como: não conseguirem fazer ou manter amizades, não serem correspondidos em suas experiências amorosas ou serem rejeitados em suas tentativas; assumirem responsabilidades, escolherem uma profissão sem ter certeza de que é a ideal, não obterem sucesso no primeiro vestibular e pensarem em como será sua renda no futuro. "Com isso, existe alta tendência dos adolescentes a usar cigarro, álcool e drogas, na tentativa de anestesiar a ansiedade ou o medo", explica.

Esse medo de errar, especificamente, pode estar associado à uma elevada autoexigência e tendência ao perfeccionismo. "Em grande parte da vida, quando erramos, temos contato com consequências desagradáveis para nós, e vamos aprendendo que ter êxito é bom e errar é ruim – mesmo que isso não seja verdade em sua totalidade".

Na adolescência, existem comparações, competições, cobranças dos pais em relação à dedicação e boas notas, além do adolescente ser designado para responsabilidades mais complexas. Assim, a pressão para corresponder às expectativas é elevada e se soma à autocobrança, ocasionando ansiedade e irritabilidade nos jovens, e em alguns casos, falta de iniciativa para tentar algo novo ou desafiador. Entendendo todo esse processo, Áurea explica que é possível auxiliá-los acolhendo suas inseguranças e insatisfações, na mesma proporção que elogiamos suas conquistas.

Além disso, é necessário que haja um canal aberto de diálogo entre pais e filhos e, se possível, o acompanhamento psicológico para ajudar a lidar com tudo isso. Estar inserido em uma comunidade religiosa também pode ser benéfico. A partir de uma comunicação sem julgamentos, especialmente os pais, podem mostrar que errar é uma condição inerente de se estar vivo, que eles também já erraram incontáveis vezes e nem por isso são pessoas/profissionais/pais piores do que os outros.

"Também cabe aos pais e até mesmo a escola ou comunidade religiosa, mostrar aos adolescentes que cumprir com excelência um objetivo é um gesto nobre, que requer determinação e constância. No entanto, lembrar que em algumas situações, mesmo fazendo o seu melhor, uma pessoa não corresponderá ao que foi solicitado, e isso não é indicativo de que falhou", diz a psicóloga. "É possível tirar algum aprendizado de toda experiência, se fortalecer e estar mais hábil para realizá-la em um outro momento. Ajudá-los a desenvolver uma compreensão mais ampla, ao invés de focar atenção somente no insucesso, é um passo mais próximo da maturidade”, diz a psicóloga.

Então, como ajudar o adolescente a achar um equilíbrio?

A pedagoga Ana Cristina dos Santos orienta que o equilíbrio na vida do adolescente é possível quando os pais deixam claro as possibilidades e o que não contribui para o crescimento. “É preciso ser firme em seu “sim” e no seu “não”. Ter segurança na colocação dos limites é papel fundamental. Portanto, pais, sintam tranquilidade em passar os valores que sua família tem cultivado dentro de sua casa”, finaliza.

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