Algumas famílias não têm o conhecimento específico e outras que talvez tenham, não sabem como passar isso aos filhos.
Algumas famílias não têm o conhecimento específico e outras que talvez tenham, não sabem como passar isso aos filhos.| Foto: Bigstock

Mesmo as escolas mais organizadas na transmissão dos conteúdos exigiram uma dose extra de empenho, por parte dos pais, neste ano letivo. Foi preciso buscar as atividades presencialmente (e depois entregá-las), baixar aplicativos, aprender a mexer em sistemas, acompanhar as lives, fazer a lição junto e principalmente, estar disponível – o que acabou afetando, em cheio, a rotina dos adultos.

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“Muitas das atividades eles conseguem fazer sozinhos, mas algumas vezes precisam sim de auxílio”, diz a educadora Cris Martinez, que precisou adaptar a programação da casa para atender os pequenos de 7 e 9 anos. “É mais cansativo, porque querendo ou não no ambiente familiar é mais difícil fazer com que se concentrem”, argumenta.

A mãe, que também passou a trabalhar em esquema de home office, conta que a carga emocional também aumentou. “Tinha dia em que não queriam fazer a lição, aí eu tinha que ficar brigando. Tirava alguma coisa que eles gostavam. Às vezes me sentia impotente”, lamenta.

Estresse

“Nós já vínhamos num grau de estresse bastante elevado. Quando chega um evento dessa magnitude [a pandemia], que traz fatores como o medo e a ansiedade, esse grau de estresse é super alterado ainda mais”, pondera a psicóloga Jeanine Rolim.

Citando a metáfora da gota d'água, ela acredita que ter que participar ativamente do aprendizado dos filhos fez “o copo de muitos pais transbordar”. “Aquilo que já se vivenciava é potencializado. As pessoas estão mais tristes, mais irritadiças”, garante. E não foi só de estresse que os pais sofreram...

Questionamento

Para Melody Lynn Falco, psicóloga escolar do Conselho de Psicologia do Paraná (CRP-PR), a necessidade do ensino remoto trouxe apreensão e fez com que os responsáveis se questionassem sobre a função que ocupam na vida dos filhos: “Mas sou eu que tenho que ensinar isso?”, descreve. “A maioria dos pais não vivenciava esse momento. A criança podia até trazer uma lição ou outra para fazer em casa, mas a participação ativa durante a aula não era uma realidade para as famílias”.

Angústia

Outro ponto foi a angústia gerada pela “nova função” de ensinar. “O papel da família não é ensinar, mas sim educar no sentido de dar suporte moral, oferecer espaço e condições para que a criança aprenda. E esse limite [entre ensinar e apoiar] ficou nublado durante a pandemia”, avalia Melody. Segundo ela, a condição atingiu em cheio as diferentes realidades existentes. “Você vai ter famílias que não têm mesmo aquele conhecimento e outras que têm, mas não sabem como passar”, garante.

Frustração

Já Marcos Meier aponta que a experiência de acompanhar as crianças nas aulas online também trouxe para os adultos uma sensação (para muitos) desconhecida. “Os pais têm uma forte tendência a acreditar que os filhos são extremamente criativos, capazes, inteligentes e competentes acima da média. Então, uma pequena dificuldade da criança e já podem ficar irritados. Mas como assim você não sabe isso?”, ressalta o psicólogo. E aí vem a frustração do: meu filho não é bem como eu pensava.

Comparação

Se tem uma coisa que dói para um pai é ouvir dos filhos que “Fulano faz isso melhor do que você”. E com o ensino em casa, não foi diferente. “As habilidades de um professor são desenvolvidas ao longo de quatro anos de estudos a respeito da teoria da mediação, da educação, da interação professor – aluno e de várias outras técnicas, além da valiosa experiência em sala de aula. É absolutamente normal que, diante dos pais, a criança perca a atenção e não tenha foco. Os pais não têm a mesma didática, a mesma paciência”, conclui.

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