Perdido na confusão emocional da fase, as provocações de filho adolescente viram recurso de compensação ao “incômodo” com os pais.
Perdido na confusão emocional da fase, as provocações de filho adolescente viram recurso de compensação ao “incômodo” com os pais.| Foto: Anastasia Gepp/Pixabay

Não parece, mas provocações de filho adolescente nem sempre são ou tentam ser ofensa contra os pais. Ouso dizer que, na maioria das vezes, são – ou tentam ser – disfarçadas demonstrações de... afeto! Não acredita? Entendo; também duvidei desta ideia. Precisei mudar minha lente sobre a situação vivida com filho adolescente para enxergar além do que muitos – eu inclusive – afirmavam ser puro desrespeito.

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Quando reagimos por auto preservação incorremos em erros. Por exemplo: ao reagir intempestivamente às provocações de filho adolescente me cegava à mensagem subliminar do que parecia ser pura agressão pessoal e o resultado era sempre o mesmo: brigas e mágoas. Nossa humanidade é mesmo traiçoeira.

A ideia superficial

Comumente recebia as provocações de filho adolescente como crítica pessoal. Os comentários jocosos me deixavam, no mínimo, desconfortável e, inesperadamente, a descontração cedia a discussões que sempre acabavam envolvidas por mágoa e bicos: "Ai, mãe, para de dançar... que vergonha... você é muito desengonçada", filho zoava.
Em contrapartida, reagia lhe respondendo ofendida: "Que grosso você é, hein? Precisa falar assim comigo? Não posso mais dançar... é isso?" "Saco, mãe! Não pode nem brincar! Se ofende à toa...", retrucava.

A imediata interpretação às palavras e atitudes de filho adolescente frequentemente me levavam a revidar o que assumia como agressão contra mim. Não sabia mas, ao mesmo tempo, perdia a chance de descobrir e alargar meu entendimento sobre filho e, por fim, aprofundar nosso relacionamento.

Assim o comentário virava bate boca, a "brincadeira" acabava em briga e as provocações de filho adolescente, em críticas pessoais... e mútuas. Reagindo às provocações de filho adolescente, mordia a isca de repetir clichês e resultados catastróficos sob uma leitura superficial que, pouco a pouco, ia contaminando nossa relação e nos distanciando.

Por trás das provocações de filho adolescente

Uma das descobertas mais inusitadas – e libertadoras – que tive como mãe de adolescente foi tomar ciência da súbita – e temporária – alergia aos pais o qual o jovem é acometido nesta fase da vida.

A estranha condição atinge o adolescente sorrateiramente e gera nele sentimentos antagônicos em relação aos pais. De repente, nem ele entende o porquê de tamanha incapacidade de sentir e demonstrar afeto aos pais. Perdido nesta confusão emocional, as provocações de filho adolescente então viram recurso de compensação ao seu – diria – “incômodo” com os pais. Soa falacioso? Não me surpreendo: pensei o mesmo que você no começo.

A boa notícia é que a tal alergia tem prazo de validade: alguma hora – se tudo der certo – após a adolescência, passa. A má é que, se não mudamos a lente sobre a inexorável situação, a oportunidade de transformar as provocações de filho adolescente em intimidade também passa.

Provocações de filho por uma outra lente

Na verdade, o adolescente é capaz de manifestar afeto; só não se sente à vontade para isso e a tal alergia aos pais certamente potencializa esta natural condição. Entre o afeto e a irritação ao pais, as provocações de filho adolescente são meio de disfarçar sua falta de jeito e, de certa forma, compensar o dúbio sentimento.

Precisei conhecer as mudanças inerentes à fase para entender as atitudes de filho adolescente. Só então consegui voltar para junto dele nesta fase de profundas – e irritantes – mudanças. Não sabia, contudo, que eu precisaria também mudar.

A começar por observar mais suas atitudes em vez de simplesmente reagir contra elas. Substituindo a reatividade por observação surpreendentemente descobri nas provocações de filho adolescente possibilidades até então inimagináveis... o que nos leva à incrível ideia apresentada no começo desta história

A mudança de paradigma

Receber provocações de filho adolescente como mensagens de afeto foi drástica mudança de paradigma para mim. Entender sua crítica como esforço de demonstrar afeto sufocado por sua alergia a mim aumentou minha responsabilidade de facilitadora deste processo de amadurecimento pessoal pelo qual – nós dois – passamos. "Afff... mãe, não começa, vai... todo mundo tá olhando você dançando feito doida..." "Aaaamo esta música! Dancei muito em discoteca!", e seus olhos reviraram "Que saudade!", e a pista improvisada naquele espaço ficou pequena para outros pais e mães animados com o revival musical.

Sentia-me como que reconhecendo outras vítimas de provocações de filho adolescente que, como eu, ansiavam por um breve estímulo para se libertar de seus filhos-algozes. Estes, como que testemunhas estarrecidas com o número de pais subitamente leves, iam cedendo à inquietante situação com sorriso tímido e breves balanços de cabeça de um lado a outro.

Então o semblante preocupado revestiu-se de luz e brilho sugerindo resignada mudança de opinião sobre o que acontecia desta vez: "Minha mãe me faz passar cada vergonha... mico... maluca...", disse por fim ao amigo do lado que, estupefato, conclui com riso conciliatório o episódio de cúmplice descontração.

Por uma nova história com filho adolescente

Várias vezes reagi às provocações de filho adolescente como ataques pessoais. O modo automático de conviver com filho adolescente decerto contribuiu com o aumento da minha reatividade, acumulou mágoas exageradas e levantou barreiras despropositadas entre nós.

A intempestiva reatividade às provocações de filho adolescente me levava a atitudes por vezes desmedidas e até irremediavelmente danosas para nós. O revide de autodefesa é atitude tipicamente adolescente e parte dos motivos estão aí para compreendermos e aprendermos a lidar com eles de forma diferente.

Ao entrar na onda e rirmos juntos da situação descobrimos a leveza da cumplicidade entre mãe e filho. O que era percebido como “ofensa” ganhou ares de intimidade e nos transformou em testemunhas de uma situação vivida entre nós. “Imperfeitos" nos aceitamos como cúmplices de amor.

Sua alergia decerto passará e as oportunidades de transformar nossa relação em intimidade, também. Somos pais e, neste papel, aprendi a necessidade de continuamente testar lentes diferentes sobre as situações vividas com filho adolescente para tornar nossa história única e pessoal. Escolhi aproveitar... enquanto consigo escrevê-la como espero.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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