A procrastinação na adolescência parece superar a tolerância dos pais: quem nunca sofreu ao fazer o filho adolescente cumprir tarefas indesejadas?
A procrastinação na adolescência parece superar a tolerância dos pais: quem nunca sofreu ao fazer o filho adolescente cumprir tarefas indesejadas?| Foto: Bigstock

Procrastinar significa adiar, postergar, deixar para depois. Isso logo me traz à mente frases corriqueiras do meu filho adolescente:

- Mãe, daqui a pouco eu faço!

A procrastinação na adolescência parece uma doença. Como inúmeras viroses comuns na infância, lidei com a procrastinação na adolescência como que com uma das mais típicas e resistentes nesta fase: esperando que simplesmente passasse.

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No entanto, a prática mostrou meu erro. A cilada do “depois eu faço” não é uma virose: é uma realidade adolescente. Para combatê-la, precisava mais do que paciência: precisava ser estrategicamente determinada.

Primeiro, focando no objetivo certo que era fazer meu filho cumprir com sua tarefa. Segundo, entendendo que a genética é um complicador desta dinâmica, mas superável quando conscientemente administrada.

Que mãe nunca?

Perdi a conta das vezes que discuti com meu filho pelo banho não tomado, o lixo não trocado, o passeio com cachorro perdido, a arrumação da cama pendente. Como se não bastassem as ladainhas diárias das cobranças de tarefas não cumpridas, eu mesma acabava por fazê-las. Não sem, antes, discutir muito.

Assim era a dinâmica: pedido, respostas procrastinadoras, reclamação, discussão, conflito... eu fazendo. Dia seguinte, tudo de novo. Irritada e antevendo a cena como um “deja vu”, caía na mesma cilada das discussões fora de foco e da tarefa, mais uma vez, pendente. Como resultado, humores alterados, discussões sem nexo, cansaço, sentimento de impotência e injustiça e tarefa a mais... para mim.

- Saco, mãe! Já disse que daqui a pouco eu vou! – respondia ele.

Com o intuito aparente de adiar, meu filho na verdade se livrava da tarefa. Enquanto adiava o máximo que conseguia, me vencia pelo cansaço. Admito: desconhecia a estratégia certa para demovê-lo daquele quadro crítico de procrastinação na adolescência. Por certo erro meu, mas... quem nunca?

O mundo “explode”, mas não por causa dele

Naturalmente procrastinamos tarefas indesejadas. Acontece com todo mundo e, até certo ponto, é normal. Porém, a procrastinação na adolescência parece superar a tolerância dos pais: afinal, quem nunca sofreu ao fazer o filho adolescente cumprir tarefas indesejadas?

A procrastinação na adolescência é uma habilidade quase insuperável. Ainda que não seja habilidade exclusiva de adolescentes, parece ser superior nesta fase da vida. Constatar o fato na prática me provocou muitos surtos de impaciência e desequilíbrio emocional.

Enquanto o mundo gira e cumprimos nossos deveres diários, os filhos adolescentes esperam a “vontade bater” para fazer o mesmo. Desnecessário dizer que a tal “vontade” nunca chega. Assim, quando o mundo explode, ele se espanta e, apesar de intacto, ainda se sente “injustiçado”, retrucando:

- Que exagero, mãe! Já tava indo!

A procrastinação de filho adolescente

Especialistas defendem que procrastinação na adolescência, além de ser diferenciadamente superior à dos adultos, é também diferente entre meninas e meninos.

Ainda que hábeis procrastinadores na adolescência, elas cumprem a obrigação um dado momento para se livrarem da cobrança; eles, ao contrário, empurram com a barriga o quanto possível na expectativa de vencer os pais no duelo. Por certo, uma questão quase genética.

Diante desta curiosa tese e sendo mãe de meninos, pensei comigo:

- Tô ferrada! O trabalho vai ser mais duro comigo.

Certo dia, como habitualmente fazia, lhe cobrei o passeio com o cachorro ao que respondeu como de costume:

- Daqui a pouco eu vou, mãe.

Naquela ocasião, a tese da genética, de alguma forma, até aliviou minha ansiedade, mas não serviu de justificativa para lidar com a procrastinação na adolescência. Precisei, então, usar o conhecimento para mudar a estratégia e, consequentemente, o resultado daquela dinâmica improdutiva.

Assim, passei a me manter firme no intuito de fazê-lo realizar a tarefa sem dar margem a discussões inúteis que me desviavam do objetivo de vê-la cumprida. Em vez de cair na cilada das discussões pouco – na maioria das vezes, nada – objetivas, permaneci na frente do filho até que saísse da inércia:

- Tô esperando...
- Ai, mãe, já disse... tô indo! Não precisa ficar aí parada me olhando! Já vou!
- Ok, tô esperando... Preciso que vá agora.
- Tá bom, tá bom! Não pode esperar! Tudo tem que ser na sua hora! Que saco! - e saiu com o cachorro.

Desafio vencido

Superar a procrastinação na adolescência dos filhos continua sendo um exercício cansativo para mim e, não duvido, para muitos pais. Se por um lado mudar é trabalhoso (e extremamente cansativo), por outro, traz resultados efetivos: ainda contrariado, hoje meu filho adia menos as tarefas indesejadas e, efeito cascata, vivemos menos conflitos, diria, desnecessários.

Portanto, se você vive o mesmo com seu filho, sugiro experimentar nova estratégia. Com conhecimento de causa, aprendi que o adolescente pode até dominar a arte de procrastinar, mas não é invencível.

Talvez, sem querer, meu filho tenha descoberto que a estratégia feminina de se livrar da obrigação o liberta mais rápido da minha amolação. Talvez não: seja mesmo uma questão de genética com a qual mães precisam aprender a lidar com mais conhecimento de causa.

Não importa o que motivou a mudança, mas o fato de, finalmente, cada um fazer a sua parte – sim, em meio a bufadas e reclamações – sem procrastinação me liberou para voltar-me a desafios maiores com meu filho adolescente. Posso dizer que, este, venci.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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