Às vezes, os filhos não estão em busca de soluções e respostas, mas de aconchego. E que melhor lugar para isso do que o colo de mãe?
Às vezes, os filhos não estão em busca de soluções e respostas, mas de aconchego. E que melhor lugar para isso do que o colo de mãe?| Foto: Bigstock

Frequentemente vivia a tortura de tentar ajudar a solucionar algum problema do meu filho adolescente. Nada do que eu falava parecia ajudá-lo com suas questões.

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Pelo contrário: o irritava ainda mais. Sempre a reclamar dos meus argumentos e ideias de solução, acabávamos brigando e nos afastando mais do que no começo. Era simplesmente frustrante tentar ajudar a resolver os problemas do meu filho.

Saco! Saco cheio de ser o idiota da história! Quando o Zeca precisa da minha ajuda, vem todo malandro, cara de amigo. Depois que se vale de mim, faz que nem me conhece. Ah, vá te catar! Ele que me aguarde porque não sou otário. Todo mundo já se afastou dele porque acham ele mimado, interesseiro. Sou o único que ainda ajuda, mas tô de saco cheio dessa palhaçada! - esbravejou meu filho adolescente certo dia.

– Filho, calma... será que não está exagerando? Ele sempre pareceu tão seu amigo... me cumprimenta com simpatia toda vez que me vê, quando falta, me pergunta de você... – respondi tentando tranquilizá-lo.

– Ah, é... tô exagerando... claro que não mãe! Não é à toa que ninguém mais anda com ele! Sou o único que ainda fico por perto... por pena dele! Mas o cara é um idiota mesmo!

– Veja: se você quer ajudá-lo, que tal conversar com ele a respeito disso? Talvez nem entenda o motivo do afastamento dos outros...

– Conversar? Tá doida? O cara é egoísta, mãe! Não tá nem aí pra ninguém e eu vou "conversar" com ele? Pirou?

Nesse instante, toca o celular; é o Zeca. Meu filho olha para o visor e diz:

– Não vou atender! Palhaço! Se vira! – gritou possesso para o aparelho.

A solução

Por mais que tentasse enxergar os problemas do meu filho adolescente de um ângulo diferente e ajudá-lo a buscar soluções, ele ficava ainda mais bravo. Todo meu esforço se reduzia a pó e, de repente, a luta era entre nós. Sem saída, desistia e me afastava.

De um lado, meu filho continuava ruminando o problema sem solução; de outro, eu seguia minha vida esperando a poeira baixar até tentar de novo em outro momento. Definitivamente, solucionar problema de filho adolescente era mais difícil do que lidar com os meus. Diante de tanto insucesso, me coloquei em seu lugar até que curiosamente percebi: a tática era mesmo ruim.

Lembrei das inúmeras vezes que, como meu filho, também me irrito quando tentam me “acalmar” com soluções imediatas sobre meus problemas. Antes de partir para as soluções, desejo mais é “botar pra fora” a angústia de viver determinada situação de desconforto. Só isso.

Pode soar diferente, mas extravasar não significa necessariamente brigar. Significa, antes, manifestar insatisfação e angústia. Nestas horas, dividir a apreensão por si só ajuda... e muito. Ainda não estou em busca de soluções e respostas, mas de conforto... colo mesmo. E que melhor lugar para receber aconchego senão no colo de mãe?

A empatia – palavrinha muito utilizada e mal compreendida – me fez enxergar e entender os problemas do meu filho adolescente sob a lente e suas insipientes condições, ou seja, de uma perspectiva diferente da minha o que, definitivamente, mudou minha atitude e, consequentemente, minha relação com ele.

Problema de filho adolescente sob outra perspectiva

Ao dar-me conta da descoberta, o dilema de acolher os problemas do meu filho adolescente virou ação efetiva: em vez da racional busca de soluções, passei a escutá-lo atentamente e a demonstrar empatia com seu sofrimento como eu mesma desejo em situações similares: dividir o problema e ser, primeiro, acolhida. Puro afeto.

Assim, já não me ocupo de buscar saídas. Primeiro, escuto e me solidarizo. Daí descobri que, na maioria das vezes, os problemas do meu filho adolescente não são razoáveis. Mais: que meu filho não me busca para obter soluções, mas para sentir-se acolhido e confortado.

Tais achados tornaram minha ajuda efetiva. Passei a usar minha experiência e maturidade de forma útil. Primeiro, redimensionando os problemas do meu filho adolescente: na maioria das vezes a gravidade da situação tende a se esvair com o tempo e, junto, a relevância do problema. Mas atenta, não minimizo os problemas do meu filho adolescente; apenas cuido de não entrar na mesma perturbação que ele.

Tudo muda

Adolescentes tem a incrível – e inesgotável – habilidade de contra argumentar tudo. Portanto, qualquer tentativa racional de apontar solução para algum problema do meu filho adolescente é esforço em vão: ele sempre consegue me convencer de que meus motivos são inválidos.

Diante dessa valiosa constatação, passei a canalizar meu esforço – antes voltado para soluções – para o nem tão simples apoio afetivo que significa compactuar com seu “sofrimento” e deixando-o extravasar simplesmente o escutando genuinamente.

Ilógico pensar que a simples mudança seja suficiente, mas, creia, é. Adolescentes podem ser ilógicos... como nós.

Foi assim, então, que a nova situação evoluiu diferente daquela vez:

– Atenda, filho. Não saberá o que ele tem a dizer se não o escutar. – insisti até que finalmente atendeu.

– Fala! O que você quer de mim agora? – disse rispidamente.

Escutou brevemente e, mais calmo, se despediu com um “valeu” logo depois.

– Então? – perguntei curiosa com a repentina mudança de tom.

– Ligou pra agradecer a ajuda e dizer que sou o único com quem ele conta pra resolver seus problemas... coitado... deu pena. – falou baixinho.

O problema virou amizade

Por mais que os problemas do meu filho adolescente ganhe dimensões exageradas, meu papel é ajudá-lo acolhendo as situações trazidas antes de lhe ensinar a lidar com as adversidades da vida. Esta dinâmica de fato contribuiu não só para o seu amadurecimento emocional, mas para o meu próprio: passei a me solidarizar – melhor – com o sofrimento alheio.

Depois desta experiência diferente, meu filho me buscou para contar o desenrolar de sua conversa com o Zeca. O diálogo ajudou os dois, concluí comigo mesma. Desde então se tornaram amigos inseparáveis... daqueles que escutam o problema um do outro e, assim, se ajudam... até quando a solução é só esperar o problema esfriar e o tempo torná-lo notícia velha.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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