O fator mais significativo que interfere na qualidade da experiência de criação dos filhos é a pressão. Tanto interna, provocada principalmente por autocrítica, como externa, materializada pelo julgamento das outras pessoas.
O fator mais significativo que interfere na qualidade da experiência de criação dos filhos é a pressão. Tanto interna, provocada principalmente por autocrítica, como externa, materializada pelo julgamento das outras pessoas.| Foto: Bigstock

Diversos fatores são considerados antes de um casal decidir ter filhos. Para algumas pessoas a questão financeira adia os planos, para outras não estar pronto para a responsabilidade exigida é o que é mais determinante, ou ainda são pesados o impacto na vida profissional e até o fato de ter algum familiar próximo que possa oferecer uma rede de apoio.

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Sentir segurança ao tomar uma decisão assim é uma grande dificuldade. Ainda mais nos dias de hoje em que a exposição da vida pessoal faz parte da rotina e aumenta a pressão social.

Não é fácil criar um filho. Mas também não é tarefa 'impossível', como explica o psicólogo do Hospital Pequeno Príncipe, Bruno Mader. A facilidade de informação vivenciada na era da internet e com os dispositivos eletrônicos cada vez mais acessíveis, novas dúvidas surgem diariamente para os pais de primeira viagem. Ao mesmo tempo em que possibilitam mais conhecimento, geram insegurança. “O que realmente importa são os valores. É em cima deles que se cria um filho”, diz o psicólogo.

Interessada em saber quais são as aflições e desafios dos pais do século 21, a Nestlé encomendou um estudo realizado em 16 países, incluindo o Brasil, que resultou em um ranking relacionado à qualidade da experiência como pais em vários países. O chamado Índice de Parentalidade identificou 11 fatores universais que afetam a vida dos pais nos dias de hoje.

Pressão total

Baseado na opinião de 8 mil pais e mães de bebês com até um ano de idade, concluiu-se que o fator mais significativo que interfere na qualidade da experiência de criação dos filhos é a pressão. Tanto interna, provocada principalmente por autocrítica, como externa, materializada pelo julgamento das outras pessoas.

Pela pesquisa, 60% das pessoas ouvidas afirmaram que sentem que todos têm uma opinião sobre como criar os filhos, mesmo que não queiram ouvir; 31% relataram estar despreparados para o dia-a-dia como pais; e 53% confessaram que precisaram fazer mais concessões do que o esperado.

Bruno explica que essas dúvidas todas são normais e que se questionar o tempo todo é importante. “Educação é uma construção e não a aplicação de uma verdade. Algumas vezes você precisa errar”, ressalta.

Com relação aos participantes brasileiros, especificamente, 59% afirmaram que a questão financeira é muito relevante, mas a pressão externa é o principal fator comum. É o poder das redes sociais e desse novo mundo hiperconectado, analisa Bruno. “É muito recente, de menos de 10 anos pra cá, então as pessoas ainda estão experimentando esse fenômeno e as consequências desses relacionamentos ainda não são muito claras”, destaca.

Solidão conectada

Por mais que os dispositivos eletrônicos conectem as pessoas, a solidão foi bastante citada pelos entrevistados. Bruno ainda enfatiza que a interação possibilitada pelas redes sociais é insuficiente.

Apesar de ter imagens e palavras, referências de linguagem não-verbal são perdidas. “Por mais que você possa conversar com muitas pessoas, o apoio vem num olhar, num sorriso”, salienta.

Entenda o índice

Onze pontos foram avaliados para estruturar a compreensão da experiência como pais em 16 países e a ideia é mapear esse panorama periodicamente. Os quesitos listados são os que mais interferem no Índice de Parentalidade:

  • 1. Ausência de pressão (contribui com 22,6% para a classificação no Índice): as pressões internas e externas que os pais enfrentam ao criar seus filhos. Menos pressão torna a parentalidade mais fácil;
  • 2. Resiliência financeira (16,7%): o nível de estabilidade das finanças familiares. Maior resiliência significa menor impacto;
  • 3. Apoios para a vida profissional (15,6%): políticas e proteções trabalhistas locais, combinadas com acesso a creches, que impactam na capacidade dos pais de ficarem em casa ou trabalharem como desejam;
  • 4. Bebê de temperamento fácil (10,1%): a percepção de que um bebê de temperamento fácil torna a parentalidade mais fácil;
  • 5. Recursos de saúde e bem-estar (9,0%): acesso a cuidados de saúde adequados e informações confiáveis ​​para os pais;
  • 6. Ambiente de apoio (8,0%): um ambiente que permite aos pais fazerem o que desejam, sem barreiras, de fácil acessibilidade aos pais e seus bebês; 
  • 7. Parentalidade compartilhada (5,8%): envolvimento dos parceiros e compartilhamento de responsabilidades;
  • 8. Confiança dos pais (2,7%): como os pais se sentem sobre si mesmos; seu senso de confiança, satisfação e resiliência;
  • 9. Licença Maternidade Paga (3,5%): licença maternidade, com proteção do emprego para mulheres empregadas, durante a época do parto;
  • 10. PIB PPC - per capita (3,1%): uma medida de riqueza entre diferentes países que usa os preços de bens específicos para comparar o poder de compra da moeda local;
  • 11. Gini reverso (2,8%): uma medida de dispersão estatística destinada a representar a renda ou distribuição de riqueza dos residentes de uma nação.

Embora não exista um lugar perfeito para criar a família e haja dificuldades em todos os países, a Suécia foi a melhor colocada no ranking, seguida de Chile e Alemanha.

O Brasil ficou na décima quinta posição mas foi o que mais se destacou com relação à divisão de responsabilidades entre pai e mãe: 45% disseram que em casa ambos têm atribuições equivalentes.

E, mesmo, que essa não seja uma verdade para todos os lares brasileiros, Bruno lembra que filho é um compromisso para a vida toda e que educar é enfrentar todas as situações adversas.

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