É comum que, na vida adulta, os filhos se distanciem dos pais.
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Durante a infância, a todo momento ele chamava por vocês: “Ô, mãe!” ou “Pai, vem aqui!”. Depois, na adolescência, diante de todas as transformações que ele começou a enfrentar, seu filho começa a dar sinais mais fortes de independência social. Mas, na idade adulta, parece que ele está cada vez mais distante, ainda que vocês morem na mesma casa. Quanto ao filho que já saiu de casa, então, esse afastamento se torna ainda maior. E o que faz com que isso aconteça?

Antes de tudo é preciso entender o que faz de um jovem, um adulto. “Não há uma resposta exata para isso. Ele pode ser adulto pela idade, por ser independente financeiramente, ser casado ou ter filhos, ter maturidade emocional. É algo que varia de família e cultura”, explica a psicóloga Vitória Baldissera. E por essa compreensão ter relação direta com a formação familiar é que às vezes esse afastamento pode acontecer de uma maneira ruim.

No decorrer do desenvolvimento social do ser humano, ele naturalmente tende a procurar seu lugar no mundo. E quando se compreende como adulto, já não tem somente nos pais sua referência. “No ciclo da vida, aos poucos vamos dependendo menos dos pais e tendo outros interesses: saímos de casa para estudar, encontramos um parceiro amoroso, temos os amigos”, elenca Vitória. Essas questões vão, naturalmente, tirando os filhos debaixo das asas dos pais. “E não quer dizer que sejam ruins, só precisam ser compreendidas pelos dois lados”.

Sob o mesmo teto

Quando o filho adulto ainda mora com os pais, esse distanciamento pode significar uma tentativa de diferenciação dos pais, apesar da condição em que vivem. “Filhos adultos que estão com os pais podem ainda depender financeiramente deles e não conseguem sair da casa. Há a dependência afetiva também, mas em geral é financeira”, comenta Clarice Ebert, psicóloga e terapeuta familiar.

Então, neste contexto, ele precisa achar um modo de diferenciar-se dos pais e mostrar que ele já se compreende um adulto, mesmo que com essa limitação financeira. “Claro que sempre se deve considerar a possibilidade de haver conflitos e isso também pode ser o motivador do distanciamento, como no caso de pais aglutinadores”.

Casados

Os pais aglutinadores, que querem todos “debaixo de suas asas”, também podem fazer com que os filhos se distanciem, mesmo depois de eles já estarem fora de casa. O que implica aqui é o fato de que esse filho, principalmente quando já se casou, está agora em processo de formar sua própria família e firmar ainda mais sua identidade como indivíduo que está construindo algo seu.

Mas neste cenário há também a questão do parceiro. O marido ou a mulher desse filho pode querer ter seu amor somente para si, promovendo uma ruptura naquela família. “O parceiro às vezes pode ser narcisista e esse filho aceita se afastar por estar num processo de independência. Só que isso causa celeuma e uma série de conflitos familiares”, pondera Clarice.

É possível restaurar esse relacionamento?

Na evolução do ciclo familiar seria importante que quando os filhos chegam à idade adulta, todos – filhos e pais – já tivessem a compreensão de que a independência é um processo natural, que deve ser encarado de forma saudável e que, inevitavelmente, vai gerar um certo afastamento. Se esse distanciamento gerou mágoas, Clarice sugere algumas maneiras de restauração. “As ameaças precisam ser trabalhadas. Se for preciso, a família pode fazer uma terapia que ajude a resolver minimamente o problema e estimule a convivência”.

A especialista explica que essa restauração significa que os pais que se ressentem por não serem mais imprescindíveis na vida terão que aprender a abrir mão da monitoria e cuidado dos filhos. É deixar o filho crescer e alçar voo. Por outro lado, os filhos ao alçarem os voos para a independência não deveriam abandonar seus pais. "Crescer não significa romper com os pais. Distanciar dos pais sem romper a relação é uma arte a ser aprendida no mundo adulto", afirma. Dessa forma, tanto pais como filhos, tem responsabilidade na restauração de relações que ficaram estremecidas. O distanciamento pode ser um movimento saudável sem que se configure em rupturas e facilita o convívio nos encontros familiares.

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