Pais vivem a desafiadora função de serem responsáveis por outro indivíduo dedicados a darem seu melhor.
Pais vivem a desafiadora função de serem responsáveis por outro indivíduo dedicados a darem seu melhor.| Foto: Bigstock

Quando nasce um bebê, nascem pais orgulhosos de filho. Afinal, a "cria" é a concretização de sua maior realização. Invadidos por uma mistura de medo e alegria, pais vivem a desafiadora função de serem responsáveis por outro indivíduo dedicados a darem seu melhor.

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Ainda que assustados, não medem esforços para desempenhar a função com esmero aprendendo na prática e, no começo, também na teoria. Assim, cada avanço do bebê é celebrado como feitos dignos de Oscar e, entre sorrisos e choros prontamente correspondidos e atendidos, pais confortam e suprem suas necessidades de forma natural e, por vezes, até prazerosas.

Na adolescência, contudo, toda esta disposição e iniciativa parecem se esvair. Talvez porque o bebê tenha "sumido" e, no lugar dele, um "desconhecido" tomado o lugar, como alguns dizem. Fato é que a dinâmica muda e os conflitos surgem. Pais orgulhosos do seu filho então vão se tornando intolerantes e desinteressados das novas necessidades afloradas pela fase.

A missão de formar uma novo indivíduo, no entanto, continua valendo. Tanto quanto antes, o filho continua precisando de pais comprometidos em ajudá-lo a viver a fase de transformação com igual dedicação e interesse. Para tanto, não há outra saída senão continuarmos aprendendo a sermos pais... agora de adolescente.

Onde estão os pais orgulhosos

Quando mãe de bebê, fui narcisisticamente amorosa: me embevecia com seus feitos e me admirava com a incrível evolução daquele pequeno ser. Sempre atenta, me desdobrava em cuidados e em energia extra mesmo depois de estafantes dias de trabalho. Decifrar, atender e participar das necessidades e da evolução do filho não era dever; era amor.

Pais orgulhosos de seu filho não medem esforços para atender seus desejos (até os mais silenciosos) e cercá-lo de cuidados. Como super-heróis, desenvolvem habilidades um dia inimagináveis. Nem a mais exaustiva rotina torna a missão de formar outro ser menos inspiradora. Pelo contrário: formam perseverantes pais orgulhosos do seu filho.

Então chega à adolescência e, sem aviso prévio, pais orgulhosos de filho mudam para pais intolerantes... e perdidos. Nem as profecias sobre a difícil fase parecem nos precaver da queda de disposição e interesse por seu mundo. De repente a dinâmica, antes cansativa, mas instigante, fica penosa e sem graça.

Pais nessa fase não querem aprender mais nada. Oniscientes, esperam obediência irrestrita. Intolerantes, desconhecem o processo de transformação pelo qual filho passa. Autoritários exigem autoridade na luta infrutífera de manter a dinâmica de outrora.

Cansados, esquecem os motivos pelos quais foram um dia pais orgulhosos de filho.

Pais mudam porque não mudam quando o filho muda

Um dia, o pai desabafou:

- Ele não me ouve! Quando mando fazer uma coisa, me enfrenta; está sempre querendo discutir tudo, saber o porquê de tudo!  Que saco! Só quero que me obedeça! Onde foi parar aquele garoto bom, parceiro que me escutava e me atendia? Depois, quando algo dá errado, quer minha ajuda!  Pra isso, eu sirvo, né?

Reconheci naquele pai o que um dia vivi com meu filho. Suas palavras refletiam a angústia de não saber mais como lidar com o filho então adolescente. Na fase de (in)tensa transformação, o filho não mais repetia os passos do pai. Dava novos, tentava outros, fazia diferente, argumentava, questionava, experimentava outros caminhos enquanto o pai... se ressentia de toda esta mudança.

Pais sucumbidos

A adolescência é mesmo uma fase desafiadora; para todos. A exaustiva – e rica – dinâmica da infância é gradualmente substituída por um mau relacionamento com o filho adolescente graças a um cansaço crônico e interesse morno sobre o novo ser em formação.

À medida que o tempo passa, pais orgulhosos de filho passam a ser pais cansados e desinteressados. Entre o desejo bucólico e a responsabilidade realista, pais se perdem da missão, sucumbem ao desconhecimento sobre a fase e, enfim, paralisam.

Pais orgulhosos de seu filho

É preciso resgatar e nutrir os pais orgulhosos de seu filho para não só seguirmos na missão de formar adulto saudável como também sermos melhores para o mundo. A transformação é de — e necessária a — todos. O que por vezes esquecemos é que a nós, pais, cabe o esforço de mudar junto com filho. Do contrário, falhamos na missão de ajudá-lo a descobrir e formar sua própria identidade.

O trabalho sempre será exaustivo, mas também compensador. Humanos que somos precisamos nos entender eternos aprendizes e, assim sendo, crescer e nos aprimorar continuamente também como pais e mães.

Independentemente da fase – e das expectativas em relação ao filho – sempre haverá motivos para se fazer (re)nascerem pais orgulhosos. O que nos falta são olhos para enxergá-los além da superfície e continuar nos maravilhando com o dom de sermos pais e mães... também de adolescente.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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