A tecnologia interfere nas relações sociais, incluindo a mais importante que existe: a entre pais e filhos.
A tecnologia interfere nas relações sociais, incluindo a mais importante que existe: a entre pais e filhos.| Foto: Bigstock

Muitos adultos passam mais tempo em frente às telas do que recomendam os profissionais da saúde. A exposição excessiva a celulares, tablets e computadores já foi responsabilizada, inclusive, pelo aparecimento de doenças graves como obesidade e por distúrbios de ordem mental. Para amenizar os efeitos negativos, no entanto, é preciso entender o que leva as crianças a passarem tanto tempo conectadas.

Vale lembrar, aqui, que as crianças aprendem e desenvolvem seu comportamento observando os outros, principalmente os pais –  e isso inclui o uso das tecnologias. De fato, os tipos de dispositivos que os pais usam e o tempo que gastam com eles ​​são os preditores mais fortes para a exposição dos filhos. Afinal, são eles (os adultos) os responsáveis pela disponibilidade desses aparelhos e pelas regras de quem vai usá-los.

Pais distraídos

Embora os pais devam estabelecer limites, as demandas do mundo moderno –  juntamente com os deveres do trabalho e da vida moderna –  podem dificultar essa desativação por parte dos próprios adultos. A conectividade constante que os telefones celulares permitem torna cada vez mais difícil gerenciar a rotina online e pode, sim, resultar em pais mais distraídos e alheios.

"Só um minuto" é uma das frases mais ouvidas pelas crianças. E, de fato, muitos pais admitem passar tempo demais no telefone enquanto estão com os filhos. Os efeitos de tais frases levaram os cientistas sociais a cunharem o termo "tecnoferência" para descrever como a tecnologia interfere nas relações sociais, incluindo a relação mais importante de todas: a que existe entre pais e filhos.

A tecnoferência dos pais pode ter sérias consequências negativas para bebês e crianças pequenas, incluindo bem-estar emocional prejudicado, falta de ofertas de atenção por parte dos pais, interações menos positivas, comportamento infantil ruim, atraso no desenvolvimento da linguagem e até mesmo aumento de lesões nas crianças.

Tempo sem tela

Um estudo com cerca de 6 mil crianças entre 8 e 13 anos mostrou que mais de um terço delas não se importam quando os pais usam o telefone durante as refeições, conversas ou outros momentos em família. Os filhos cujos pais são distraídos pela tecnologia durante esses momentos, no entanto, podem sentir que estão competindo por atenção –  o que muitas vezes pode resultar em comportamentos extremos, já que se sentem tristes, zangados e solitários.

É certo que as crianças evoluem mais e melhor quando se sentem seguras e recebem a atenção devida dos pais. Desligar e se afastar das telas durante o tempo da família é essencial para pais felizes, filhos felizes, relacionamentos positivos e fortes conexões.

As evidências sugerem, ainda, que estar presente leva os pais a sentirem as recompensas de seu ambiente social imediato. A mesma evidência indica que a tecnologia que pretende nos conectar pode, ironicamente, minar a conexão com as pessoas mais importantes de nossas vidas.

Embora se pense que, hoje, os pais passam mais tempo com seus filhos do que no passado, acredita-se que a qualidade das interações tenha diminuído. Em um estudo feito nos Estados Unidos, pais de crianças de 5 a 18 anos relataram passar menos tempo de qualidade com seus filhos do que com seus telefones.

Sociólogos, teóricos da mídia e especialistas em tecnologia argumentam que a tecnologia digital está nos distraindo e resultando em consequências sociais e emocionais negativas. Embora saibamos que o tempo de exposição dos pais influencia no tempo de exposição dos filhos, fala-se pouco sobre as consequências dos pais distraídos.

*Pesquisadora na área de atividade física e saúde pública na Loughborough University, na Inglaterra.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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