É necessário que pais estejam preparados para liderar e ensinar isso não como algo benéfico a si mesmos, mas para o bem comum.
É necessário que pais estejam preparados para liderar e ensinar isso não como algo benéfico a si mesmos, mas para o bem comum.| Foto: Bigstock

Ainda que sejam estimulados na escola ou em outro ambientes de convívio social a se tornarem líderes, é em casa que os filhos têm seus maiores exemplos de liderança. Por isso é imprescindível que os pais se perguntem se o exemplo dado está motivando as crianças e os adolescentes a serem meros seguidores (de ideias ou mesmo de pessoas) ou se está mostrando a eles que é possível ser protagonista nas situações que a vida impõe.

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Famílias que protegem em demasia os filhos, não deixando que sofram consequências de seus atos, ou mesmo que não tenham contato com os problemas existentes no mundo, infelizmente estão criando uma geração que terá sérios problemas de adaptação à realidade imposta na vida adulta.

Situações de crise dentro da família ou questões globais são complexas de se viver. Mas períodos como este, se vividos pelos filhos com um entendimento dentro de suas limitações, são valorosos. E por isso, é necessário que os pais estejam preparados para liderar e ensinar isso não como algo benéfico a si mesmos, mas para o bem comum.

O caminho para criar filhos fortes, felizes e líderes que saibam tornar a vida dos que os cercam melhor, é longo, mas não impossível de se seguir. Este foi o tema do evento "Lideranças do Amanhã", realizado em Curitiba, pelo Colégio do Bosque Mananciais, que contou com a participação de Pablo González Blasco, doutor em medicina, especialista em educação e fundador da SOBRAMFA – Educação Médica e Humanismo. O Sempre Família conversou com Blasco e você confere abaixo a entrevista:

Como ensinar as crianças superarem as adversidades?

Os pais precisam ir na frente e superá-las junto com as crianças. Elas se espelham muito no que veem ao lado. Se as crianças enxergam um mundo sem frustrações, só com o sucesso próprio ou de seus amigos, não saberão superar as adversidades. É preciso delegar responsabilidades, elas precisam ver que os pais se esforçam na vida cotidiana e tomam decisões difíceis.

Na minha infância, por exemplo, passei por muitos momentos difíceis, meu pai nunca reclamou. Mas, em um desses momentos, minha mãe explicou a situação em que estávamos e exigiu que eu tirasse notas boas e ajudasse meus irmãos, já que não trabalhava fora.

Muitos dizem que evitam que os filhos sofram, porque não quer que passem pelo que passou na sua infância. Isso é um absurdo, é ótimo que seu filho passe pelo mesmo que você passou, até mesmo coisas piores. Qual o problema? Talvez ele esteja passando e você acredita que não, por uma falsa proteção.

Como o protagonismo familiar pode auxiliar na formação da liderança dos jovens?

Por meio da referência. É poder dar ao jovem a oportunidade em dizer "como minha mãe falava, como o meu pai fazia, etc." A educação e o exemplo familiar não têm resultados imediatos. É necessário se empenhar e acreditar no trabalho feito e aguardar o crescimento da criança, assim como aguardamos o crescimento de uma planta, que não pode ser puxada para cima para agilizar seu processo. Na verdade, nos custa esperar. Por isso, é importante iniciativas que mostrem os bastidores da família, que saibam contar e ouvir histórias da vida real.

Qual deve ser o limite da interferência dos pais? Como auxiliar as crianças seguirem sua própria vontade?

Educar a responsabilidade, a criança tem que tomar as decisões. Como médico, habitualmente preciso dizer ao meu paciente: "Você já reparou que a sua filha agora é uma mulher? Se não reparou, olhe e pare de tratá-la como um bebê".

É bom dividir os problemas com as crianças e lhes dar responsabilidade nas decisões, dando-lhes tempo para que possam pensar sobre as consequências que implicam cada uma delas. Se não ensinam a refletir, se não lhe dão tempo para amadurecer, acaba sendo refletida a vontade dos pais, já que os jovens não tomarão uma decisão própria.

Qual importância da liderança na família?

Liderança é uma palavra importante, sem dúvida. Porém, já teve um grande desgaste, como outras palavras que emergem em um dado momento e, com o passar do tempo, acabam se banalizando. Precisamos voltar à origem.

No cinema, por exemplo, Sylvester Stallone, em Rocky Balboa, ao ouvir seu filho dizer que não precisava lutar, nos dá uma lição: "Olha, eu não sei quando você deixou de acreditar em si. (...) Ninguém vai bater em você tão duro com a vida, mas não se trata de bater duro. Se trata do quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o importante é quantas vezes você se levanta".

Isso é a liderança que se precisa fazer, não pode ser uma liderança de protocolo ou para os outros verem. É o pai conversando com o filho, que sabe o momento de falar e direcionar o jovem. Então, liderança é saber ser modelo. Assim como um livro que li e dizia: "Os filhos são sempre um pouco surdos para o que os pais falam, mas nunca erram ao ver o que os pais fazem".

O pai e a mãe precisam destacar a importância de escutar, de deixar o telefone de lado para participar de uma conversa, dando exemplo, em primeiro lugar. Além disso, devem se lembrar que são muito mais do que os amigos das redes sociais, que confiam nas atitudes dos seus filhos e no que eles compartilham com a família.

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