O grito que ameaça dispara níveis de cortisol e adrenalina da criança, fazendo com que ela fique em constante estado de preocupação.
O grito que ameaça dispara os níveis de cortisol e adrenalina da criança, fazendo com que ela fique em constante estado de preocupação.| Foto: Bigstock

Chamar a atenção dos filhos é algo que nenhum pai gosta de fazer, mas eventualmente, vai acabar passando por isso. Repreender algumas posturas da criança faz parte da educação e ela aprende muito pelos exemplos que tem em casa. O problema é quando essa atitude é explosiva e vem acompanhada de gritos. E especialmente para os bem pequenos, esse comportamento pode ser prejudicial.

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Antonio Carlos de Farias, neurologista infantil do Hospital Pequeno Príncipe, explica que até os 18 meses de vida a comunicação dos bebês é não verbal. Por isso a criança é muito observadora e aprende primeiro a linguagem das emoções. “É muito sensorial esse período. De toque, cheiro, de pegar. É o que faz os neurônios formarem as conexões no cérebro”, diz. As expressões corporais dos pais, portanto, são extremamente relevantes nessa fase.

O médico destaca, ainda, que o timbre de voz e as expressões corporais intensas têm impacto direto na percepção das emoções pela criança. “Se você fala para uma criança de 9 meses que a ama, mas com gestos abruptos, ela observa muito mais os gestos do que a linguagem”, exemplifica.

Normalizar o grito

Para a educadora parental e psicanalista Thais Basile é ilusório acreditar que é possível nunca levantar a voz com os filhos. Ela garante que em algum momento isso vai acontecer. “O problema é a normalização. Se a periodicidade for uma coisa crônica, isso gera um estresse tóxico na criança”, alerta. Thais também enfatiza que hoje em dia é comum que os pais descontem as frustrações nos filhos chamando esse hábito de educação.

“Em geral os gritos vêm acoplados de ofensa, julgamento. Esse é o pior tipo de grito porque a neurociência já mostrou que a criança sente essa dor emocional como uma dor física”, argumenta Thais. O grito que ameaça dispara os níveis de cortisol e adrenalina da criança, fazendo com que ela fique em constante estado de preocupação e, consequentemente, ansiosa, segundo a educadora. “Ela vai ter os instintos de correr, pular, fazer besteira porque é uma criança. É muito difícil controlar esses instintos,. Não tem controle inibitório ainda”, destaca.

Cada vez mais alto

Ainda, outro aspecto que Antonio Carlos ressalta, é o problema de crescer em um ambiente em que todo mundo fala alto. “A criança vai organizando os circuitos neuronais em função dessa característica. Ela vai automatizando esse tipo de percepção”, avisa. Isso quer dizer que, se desde muito cedo a pessoa é acostumada a tons elevados, os mecanismos cerebrais se adaptam a ouvir só em volumes mais altos. A tendência é a criança falar alto também. “É como se você fosse ficando surdo para timbres mais baixos então você começa a nem perceber que está falando alto”, reforça.

Pedir desculpa

Entender do que a criança precisa antes de gritar com ela é a orientação da Thais. Ela aponta que muitos pais reclamam que o filho só ouve o que eles têm a dizer quando falam mais alto. “Em geral mudando a forma de lidar com essa criança, há uma boa aceitação”, ensina. Levantar a voz para se fazer ouvir não é saudável nem para um adulto nem para uma criança. E caso seja inevitável adotar um tom de voz mais elevado, a lição é se desculpar. “Pedir desculpa já serve para a criança visitar aquela memória dolorida e ressignificar aquilo”, conclui.

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