As peculiares frases de filho adolescente têm nelas escondido o objetivo de desviar a atenção para o que não interessa.
As peculiares frases de filho adolescente têm nelas escondido o objetivo de desviar a atenção para o que não interessa.| Foto: Bigstock

Fujo de rótulos: pelo menos tento. Sou gato escaldado: sei que rotular filho adolescente deturpa minha visão e, por consequência, me induz a erros evitáveis e às vezes até injustos. Assim, me esforço em evitar a repetição de frases feitas e clichês sobre adolescência e afins. Isso, contudo, não descarta a existência de padrões de comportamento tipicamente adolescentes.

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Dentre vários, destaco um que definitivamente me tirou do sério por muito tempo: as recorrentes frases de filho adolescente. Não se trata de cair na cilada de rotular filho mas de reconhecer fato inerente a esta fase: adolescentes repetem frases caracteristicamente exageradas... e furtivas. Sim, as peculiares frases de filho adolescente têm nelas escondido o objetivo – eficaz – de desviar a atenção – normalmente dos pais – para o que não interessa.

Quando entendi a estratégia detrás deste irritante modus operandi adolescente, passei a lidar com as tais frases também de forma estratégica. Então educar ficou tão complexo quanto... eficaz.

A estratégia das frases de filho adolescente

Rotular filho adolescente igual a tantos outros me poupava do trabalho de conhecê-lo de perto, de observa-lo em suas atitudes e de até tentar um convívio melhor com ele. A preguiçosa opção de assumir a caricatura adolescente me fazia cair em ciladas invariavelmente desgastantes como bate bocas e discussões – repetitivas e progressivamente agressivas – que não só não educavam como tornavam filho e eu cada vez mais "rotuláveis".

Assim se confirmava o ciclo vicioso do mau relacionamento entre pais e filho adolescente. Às vezes magoada, outras profundamente irritada, me deixava atingir pelas frases de filho adolescente. Então envolvida pelas más circunstâncias, perdia clareza no confuso cenário em que me metia.

Errava grosseiramente porque, ao rotular filho, seguia também um padrão de mãe de adolescente sorrateiramente sugada para o centro de discussões improdutivas e totalmente fora do foco. Distraída, não via que frases de filho adolescente não passam de estratégia antiga – e continuamente seguida – de despistar pais do que realmente precisa atenção.

O combate entre mãe e filho adolescente

Neste ciclo vicioso, mãe e filho adolescente cumprem seu papel com maestria. De um lado: "Impossível lidar com filho adolescente!", gritava exasperadamente cansada da discussão. De outro, filho e as conhecidas frases: "eu te odeio", "não estou me sentindo bem", "não é justo" e "você nunca/sempre", para citar apenas algumas delas.

De tão rotineiras, as frases de filho adolescente começaram a me despertar para o escancarado – e até então curiosamente desapercebido – padrão de comportamento. Desperta para o fio da meada, passei então a observar em vez de retrucá-las e o resultado mudou: decifradas de outro ângulo, descobri a autodefesa de filho adolescente contra circunstâncias das quais tentava se livrar.

Desviar o foco de atenção para mim era a estratégia (aparentemente) perfeita de filho suavizar seu descontentamento e/ou angústia. Ao desferir golpes contra mim, me desestabilizava e me deixava vulnerável às suas frustrações. Então aliviado do peso de ser contrariado em um mundo pouco afeito aos seus desejos, filho saía do "combate" evitando o real problema e ainda se achando vitorioso enquanto, eu, profundamente frustrada por minha incompetente, ruminava a derrota de cair nas mesmas ciladas.

Estratégia adolescente desvendada

Diariamente discutia com filho pelo uso desenfreado do computador. Daquela vez, o rompantes de fúria foi mais forte e cheguei a desligar o monitor repentinamente claro descontrole e crise de autoridade: "Mããe, eu te odeio!", desferiu filho. "Me odeeeia?? Faço tudo por você e é assim que me retribui?", retruquei escandalizada com a frase. "Faz nada! Você nunca deixa fazer o que gosto; tudo te irrita! Não é justo! Tudo tem que ser do seu jeito e na sua hora! Que saco!"

O extravase verborrágico assustadoramente voraz cresceu: virou bate boca em ritmo progressivamente agressivo. Atordoada pelas frases de filho adolescente, invariavelmente perdia o foco original da discussão. Distraída e, na maioria das vezes, profundamente ferida e raivosa, caía no campo minado dos clichês também repetindo frases como “essa falta de respeito comigo” e outras que me poupavam o trabalho de ser estratégica para educar.

Ao me desestruturar com as frases de filho adolescente, abria espaço para escutá-lo reclamar de mim – e do mundo – por algo indesejado ou responsabilidade imposta. O ataque preciso me levava a morder a isca facilmente o que estrategicamente o beneficiava. De repente, o mundo hostil – personalizado em mim e no filho – nos desviava da questão principal. Descoberta a ponta do iceberg, o caminho se abriu para novas tentativas – e estratégias. Aquele tipo de conflito, finalmente, começou a mudar.

Estratégia para crescer

Depois de vários dias seguidos enfiado na casa do Vitinho, determinei: "Filho, hoje você fica em casa. Se o Vitinho quiser, será bem vindo aqui." "Ah, mãe! Lá a gente pode usar o equipamento do irmão dele, é muito maneiro...", argumentou. "Hoje você fica aqui. Não é legal abusar ficando todo dia lá, né? Dá um tempo... o convide a fazer outra coisa, sei lá...", sugeri. "Mãe, você é um saco! Nunca deixa eu fazer o que quero. Eu te odeio!", reagiu.

Daquela vez atenta, antevi o embate e consciente, não embarquei na onda de rebater as esperadas frases. Fixei-me no fato – não o querer na casa do Vitinho – em vez de na forma como ele reagia à minha decisão. "Sinto muito se você está com raiva de mim por isso mas, hoje... é aqui.", e encerrei o assunto. A ladainha continuou – claro – mas agora sem eco.

Vencida o desafio do não revide ao habitual ataque, me blindei contra o que costumava vir em seguida: bate boca e discussão. Sob enorme esforço, confesso, me mantive fixa na meta de mantê-lo em casa. O que não antevi – e encaro como bônus da mudança – foi a mensagem da nova dinâmica que se iniciava: "Não vou mais me desestruturar e perder o foco da questão discutida. Hora de encarar e aprender a lidar com as contrariedades da vida que, aliás, só estão começando."

Viver estrategicamente com filho adolescente

Desperdiçamos energia em conflitos inúteis com filho adolescente. Entramos na pilha das frases de filho adolescente facilmente e as valorizamos demais. No fim das contas, ajudamos a desviar filho adolescente de temas e situações realmente importantes.

Conscientizar-me desta dinâmica me permite hoje reconhecer o campo minado das frases de filho adolescente e evitá-lo com redobrada atenção; feito gato escaldado que foge das situações vividas... e as quais escolhe não viver mais.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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