As filhas do professor Miguel, Marjorie (ao fundo) e Miriam, no quarto que dividem
As filhas do professor Miguel, Marjorie (ao fundo) e Miriam, no quarto que dividem| Foto: Arquivo pessoal/Miguel Przybycien

Que bom seria se em todos os lares cada filho tivesse o seu próprio quarto, não é mesmo? Talvez resolvesse metade dos problemas entre eles. Só que nem sempre essa é uma escolha que passa pelos pais: muitas vezes (ou na maioria delas) é uma questão pura e simplesmente de falta de espaço – e aí não tem o que fazer. Então, como amenizar os conflitos e tornar essa relação o mais saudável possível?

“É mais uma daquelas coisas que os irmãos, quando novos, odeiam e que depois sentem falta”, diz a psicóloga Marjorie Rodrigues Wanderley, professora da Faculdade Estácio Curitiba. Por isso, a primeira dica é mostrar para eles como essa experiência pode ser positiva. “Para a criança, é um ótimo exercício para aprender a estabelecer o próprio espaço e respeitar o momento do outro (que às vezes não tá afim de brincadeira)”, argumenta Marjorie. Isso sem falar na manutenção dos vínculos e nas memórias que serão criadas.

Segundo a psicóloga, dividir quarto tende a ser mais complicado quando um dos filhos entra, ou está, na adolescência. “É uma fase em que eles começam a sentir que precisam de uma privacidade maior, justamente por causa da formação da identidade, que passa pela necessidade de ficar sozinho”, ressalta. Nesses casos, a orientação é criar um “clima de intimidade”, que independe de espaço físico.

“Isso se faz com objetos, itens de decoração, ou com os próprios toques da personalidade do adolescente que gerem identificação com o ambiente”, afirma a especialista. Caso não seja o bastante para os momentos de introspecção, Marjorie sugere que os pais entrem em cena e promovam períodos a sós, deixando o filho mais velho sozinho no quarto – por alguns instantes – nos dias mais sufocantes.

Filhos menores

Na hora de distribuir os quartos da casa nova, o professor de Filosofia, Miguel Przybycien, fez exatamente o que pedem os especialistas: colocou as duas filhas meninas e de idade parecida para dormirem juntas – o que não quer dizer que o convívio entre elas seja “só flores”. “Os conflitos acontecem quando o objeto de desejo é o mesmo entre as duas e nenhuma quer ceder, seja um brinquedo ou qualquer outra coisa que estejam usando durante uma brincadeira”, conta.  

Pelo que narra o pai, pedir que as irmãs, de 8 anos e 10 anos, ajudem na arrumação do cômodo também pode virar motivo de atrito. “Às vezes elas brigam porque uma quer varrer, mas não quer arrumar os brinquedos, ou vice-versa”, diz Miguel, que completa: “Aí eu preciso agir para equilibrar”.

Para a psicóloga Marjorie, em quarto onde só vivem crianças, o caminho tem que ser mesmo o livre diálogo e, principalmente, doses generosas de paciência. “No começo pode ser difícil, mas depois elas vão crescendo juntas e aprendendo a se relacionar melhor”, acalma.

O que os pais precisam fazer, no entanto, é aproveitar esses momentos para ensinar aos filhos noções sobre como devem se relacionar, como falar, como pedir, como são ser rude, como ceder e por que saber esperar é tão importante.

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