Não da para repassar experiência a filho adolescente sem nos atermos às variáveis do processo de amadurecimento deste período.
Não da para repassar experiência a filho adolescente sem nos atermos às variáveis do processo de amadurecimento deste período.| Foto: Bigstock

Mãe tem sempre uma lição a dar a filho e, nesta toada, complica o que pode ser simplificado. Quando filho é adolescente, a coisa piora. Por experiência própria, tendo a crer que parte disso se deva a uma necessidade materna angustiante de querer ensinar a todo custo e parte de crer que precisamos ensinar em todas ocasiões, não importam quais sejam.

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Filho cresce confiando na sabedoria dos pais, o que é fundamental ao desenvolvimento da criança. A questão é quando insistimos em tentar enfiar goela abaixo conhecimento e experiência em toda e qualquer circunstância sem nos atermos às variáveis do processo de amadurecimento na adolescência. Vivi saias justas com filhos adolescentes por isso.

Presa nos moldes de mãe de criança que aponta, corrige e dá lição todo o tempo, não notara que a nova fase me exigia diferentes habilidades para seguir com a desafiadora missão de formar adulto – saudável – para o mundo.

Mãe de respostas

Os anos iniciais de filhos me cobraram dar respostas pra tudo; até quando não as tinha ou sabia. As constantes perguntas da criança curiosa esperavam solução, explicação, justificativa e direção. Assim aprendia até sobre o que ainda desconhecia.

Naquela fase, lembro de como precisei aprender a falar mais e também a explicar, ensinar e comandar, competências úteis e necessárias ao período de vida. Na adolescência, a dinâmica mudou vertiginosamente e a regularidade das perguntas caiu drasticamente. De repente, toda a capacidade adquirida como mãe de criança pareceu inútil às então raras interações com filho.

Mãe de lições

Inversamente proporcional à escassez de perguntas, a complexidade delas passaram a exigir – a meu ver – respostas mais elaboradas. Temas do mundo adulto complicavam minhas respostas que soavam profundas demais aos olhos de meu adolescente: "Mãe, quem é o bandido nessa situação?" "Veja bem, filho... a questão é que de um lado..." "Fala sério, mãe? Dá só pra responder?"

Ou então: "O que é globalização, mãe?" "O mundo mudou bastante, filho. Veja que no passado, quando tinha sua idade..." "Aaaai, mãe, dá pra simplificar? Não precisa dar uma aula, né?"

As poucas perguntas de filho adolescente viraram testes à minha capacidade de mantê-lo perto. Ser sucinta e focar no que interessa à questão do filho virou uma espécie de pegadinha a qual não me sentia segura de vencer. O jogo havia mudado e, por mais que notasse a interação em novo ritmo, ainda não sabia identificar exatamente o que fazia a dinâmica ser tão negativa até que... "Mãe, só fiz uma pergunta! Dá pra responder sem ter que se aprofundar na questão? Que saco!" Precisava ser mais direta nas respostas a filho adolescente em processo de aprendizado da vida adulta.

Mãe de script

Responder questões do mundo adulto de forma simples foi exercício, no mínimo, fatigante pra mim. Perguntas curiosas e lógicas às vezes até esdrúxulas ao meu entendimento – colocavam em xeque minha necessidade de ensinar além do nível suportado por um adolescente.

Naquele dia, filho me abordou com tom de perito: "Mãe, sabe por que malhador encurta os braços?" Pra começar, não entendi a pergunta mas antes que caísse na cilada de pedir que a “refizesse melhor”, reagi fingindo curiosidade à resposta tal como fazia quando mãe de criança, uma das poucas táticas ainda úteis em conversas com adolescente, especialmente em momentos críticos de iminente conflito.

Do conhecido script, respondi em disfarçado tom infantil: "Não... por quê??" "Porque usam muito peso! Assim: o músculo incha e aí, fica mais curto. Muito louco, né?", explicou (a seu modo) confiante da clara resposta. A capacidade de sintetização do adolescente é assustadora. Há quem a classifique de outra forma mas, com o tempo, passei a admira-la. A depender da situação, é habilidade até louvável.

Mãe de novo aprendiz

Na realidade, adolescente ainda não sabe e, arrisco dizer, não deseja se aprofundar em questões cotidianas. Nem sempre – senão nunca – espera respostas que o levem a pensar mais do que necessário ao seu superficial entendimento sobre algo. Quando pergunta, não tem a pretensão de sair com toda a informação. Basta parte ou pouco; se contenta em dar um passo de cada vez. Quando fala, quer mostrar conhecimento, exibir sua capacidade de também ensinar algo – mesmo que parcialmente – a nós, adultos detalhistas e profundos.

A pouca destreza na elaboração e construção de uma ideia e opinião – ou mesmo na narrativa de uma informação – é parte de um processo de desenvolvimento vivido a cada dia. Participar desta nova dinâmica, me forçou a abrir mão de algumas competências adquiridas e aprender novas para firmar um relacionamento diferente com meus agora filhos adolescentes.

O que realmente importa

Aceitei o convite imposto pela adolescência de também mudar. Ao desenvolver a capacidade de sintetização – e várias outras – para manter-me conectada com filho, descobri ser desafio de ambos viver a fase em que todos precisamos mudar. Valer-me de respostas despretensiosas para assegurar a conexão com filho rende frutos surpreendentes.

Aquele papo esquisito de “braço curto de malhador”, por exemplo, evoluiu para uma inesperada conversa – o que já foi um avanço – sobre a importância da atividade física com orientação profissional. As não mais assim tão raras interações com filho adolescente ganharam ar de aparente superficialidade e, junto, provaram o poder da simplicidade das respostas em mudar a dinâmica de uma relação que evolui para uma conexão mais profunda de vida. É o que importa e, por ora, o que nos basta para continuarmos crescendo... juntos.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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