Estudo mostrou que antes da pandemia, 52% dos pais não sabiam nada sobre o que os seus filhos faziam online
Estudo mostrou que antes da pandemia, 52% dos pais não sabiam nada sobre o que os seus filhos faziam online| Foto: Sven Brandsma/Unsplash

A pandemia de coronavírus afetou todas as parcelas da sociedade, principalmente com os desdobramentos do distanciamento social. Entre elas estão as crianças e adolescentes que intensificaram significativamente o tempo de uso e acesso à internet. Se antes as multimídias e o entretenimento já eram as principais atividades desse grupo, agora, com as aulas e as atividades de ensino a distância eles estão ainda mais expostos e vulneráveis.

De acordo com Relatório TicKids Brasil, realizado em 2018, o grupo entre 9 e 17 anos já somava 24 milhões de usuários até aquele ano. Com a pandemia de coronavírus e a necessidade de isolamento social, a tendência é que esse número tenha aumentado significativamente. Isso porque, além de diversão e entretenimento, a internet tem sido usada inclusive pelas instituições de ensino como uma alternativa para manter o vínculo com os estudantes nesse período.

Diante desse cenário, é hora de os pais ligarem o alerta e redobrarem a atenção dentro de casa sobre o conteúdo acessado, o tempo de uso dos eletrônicos e das vulnerabilidades que aumentam os riscos no ambiente cibernético. O TicKids Brasil também mostrou que, em períodos normais, 52% dos pais não sabiam nada sobre o que os seus filhos faziam online.

Sabemos que, neste momento em que os desdobramentos da quarentena começam a aparecer, principalmente na economia, é compreensível que outras questões sejam o foco da preocupação e da ansiedade dos pais. A segurança digital precisa ser um ponto de atenção, principalmente com o crescimento dos golpes virtuais nesse período. Mais do que nunca o controle do conteúdo digital é uma questão de segurança para toda a família.

Controle de conteúdo e tempo

Segundo o levantamento, 93% dos entrevistados utilizavam a internet pelo celular e normalmente em locais com mais privacidade, como o quarto, o que acaba dificultando o monitoramento dos pais no uso da rede. Mas é imprescindível que os responsáveis estejam atentos às atividades das crianças na internet.

O controle de como elas navegam e o que elas acessam precisa ser somado ao diálogo e aos acordos familiares. Apenas o monitoramento tecnológico não é suficiente. É preciso cumprir o papel de educá-los.

No sentido mais tecnológico, existem dispositivos e programas disponíveis em diversas plataformas de streaming, navegadores de busca na internet, lojas de aplicativos e consoles de videogames que funcionam como um filtro. Isso ajuda a diminuir (mas não elimina) o tempo de acompanhamento pelos adultos.

Existem também ferramentas e aplicativos que promovem a segurança e o monitoramento digital, servindo como aliados dos pais no controle dos dispositivos. Por exemplo o Family Link, o FamiSafe, o Qustodio, o SafeKids e o ScreenTime. As funcionalidades incluem o controle de termos nas pesquisas, o tempo de uso, bloqueando conteúdo impróprio para as crianças. Também permitem o bloqueio remoto, controlam o limite de uso por dia e a hora de dormir.

Outro recurso que pode auxiliar os pais e responsáveis é a Classificação Indicativa (ClassInd), disponibilizada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. Essa classificação apresenta recomendações de produtos para televisão, mercado de cinema e vídeo, jogos eletrônicos, aplicativos e jogos de RPG, dividido por faixa etária. Também disponibiliza alguns tutoriais de configuração do controle parental para consoles de vídeos games, sistemas de busca e serviços de streaming.

É necessário entender que a supervisão parental vai além da proteção de dados, mas é essencial para a preservação da saúde das crianças e dos adolescentes. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda dosar o tempo de exposição das crianças aos dispositivos, balanceando com outras tarefas diárias e atividades.

O tempo recomendado de exposição às telas varia conforme a idade. Estima-se em uma hora para crianças entre 2 e 5 anos, de uma a duas horas para crianças entre 6 e 10 anos. Para aqueles com idade de 11 a 18 anos, o tempo pode variar de 2 a 3 horas. Já para os menores de 2 anos a exposição às telas é contraindicada pelos especialistas. Além disso, é fundamental as crianças e adolescentes desconectarem de 1 a 2 horas antes de dormir.

Vulnerabilidade e riscos

As vulnerabilidades do ambiente digital nesse momento são praticamente as mesmas do mundo fora da pandemia. Porém, com o aumento das atividades migradas para o ambiente online, é muito importante identificar e corrigir certos problemas. Entre pontos que merecem atenção estão os sistemas operacionais desatualizados, falta de antivírus e firewall, uso de softwares piratas e senhas fracas e repetitivas.

No caso de vazamento de senhas em um site, os hackers tentam acessar outros aplicativos e sites com as mesmas credenciais. Uma dica para evitar problemas é criar senhas em formato de frases e substituir algumas letras e/ou números por caracteres especiais. Essa é uma forma de criar senhas fortes e sem correr o risco de esquecer. Também existem outros riscos como o vazamento de dados pessoais, golpes e a exposição dos filhos, principalmente durante os jogos online.

A pesquisa TicKids Brasil revelou que 42% das crianças e adolescentes entrevistados confirmaram já terem adicionado estranhos em suas redes de contatos. Uma analogia que é preciso fazer nesse momento é que se os pais e os responsáveis não deixam uma criança sozinha em uma praça, então não deveriam deixá-la na internet.

* Janete Bach Estevão é DPO e especialista em proteção de dados, e diretora comercial na Datalege Consultoria Empresarial. É doutora e mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

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