Para ajustar o tempo com os dispositivos móveis, é preciso mostrar as vantagens de ficar um pouco fora do mundo online.
Para ajustar o tempo com os dispositivos móveis, é preciso mostrar as vantagens de ficar um pouco fora do mundo online.| Foto: Cottonbro/Pexels

Irritabilidade, problemas de socialização, dificuldade para lidar com a frustração, insônia e alterações no padrão de alimentação. Essas são algumas das possíveis mudanças de comportamento devido ao uso excessivo de telas por crianças e adolescentes. E o acesso aos dispositivos móveis se tornou ainda mais frequente com a pandemia da Covid-19, trazendo as aulas online para os mais jovens, e impossibilitando as saídas para brincar fora de casa.

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Segundo a pesquisa Primeiríssima Infância, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, mais crianças assistiram a vídeos durante a pandemia. A análise aponta que a frequência diária do uso de TVs ou dispositivos eletrônicos pelas crianças cresceu em torno de 40%, chegando a 60% entre a classe D. O estudo também mostrou o tempo que elas ficaram em frente às telas por dia, durante a pandemia: as respostas mais frequentes foram de até uma hora e também de uma a duas horas.

A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) é evitar exposição de crianças de menos de 2 anos às telas e também limitar o uso entre crianças de 2 a 5 anos a no máximo uma hora por dia. Dessa forma, um detox digital pode ser uma opção caso os pequenos ultrapassem esse limite recomendado. A especialista em Neurociência Comportamental Infantil e idealizadora da Educação NeuroConsciente, Telma Abrahão, explica haver alguns sinais de quando há a necessidade de um detox de telas. “Quando começa a apresentar maior irritabilidade, agressividade, falta de interesse em socializar, sair de casa ou participar de outras atividades que não sejam as telas”, destaca.

De acordo com Telma, há alguns problemas com o uso excessivo de tecnologia. Caso seja uma criança pequena, pode afetar o desenvolvimento motor, pela falta de movimentação no corpo, e causar atraso na fala, por conta da falta de conversa com outras pessoas. “Além disso, pode prejudicar a socialização e o desenvolvimento de habilidades como a autorregulação, que é a capacidade de lidar com as próprias emoções. Nos adolescentes pode causar isolamento, problemas de relacionamento, autoestima e até depressão”, exemplifica.

Detox é benéfico a toda a família

Daiane Santos Cordova tem dois filhos, o Guilherme com 13 anos e a Marina com 5. Eles usam com frequência os dispositivos móveis. Porém, às vezes, Daiane faz um detox digital com eles. “Percebo que os dois perdem o foco em algumas atividades e têm alteração no sono. Eles deixam de ter vontade de realizar outras brincadeiras, ficam esquecidos e entediados, se irritam fácil e todas as outras coisas perdem a graça”, comenta a assistente administrativa. Ela percebe alguns benefícios desse detox digital. “Eles voltam a realidade, brincando mais com seus próprios brinquedos e interagem mais em casa”, conta.

A orientação aos pais é de sempre supervisionarem o que os filhos estão assistindo na televisão ou celular. Além disso, esse detox digital pode trazer vários benefícios a toda a família. “A criançada tem mais tempo de exercitar a criatividade e o aprendizado. Até mesmo a possibilidade de assumir responsabilidades no dia a dia, como organizar o material de estudo e arrumar o próprio quarto. Com o passar dos dias, ficará nítido no comportamento da criança e do adolescente o benefício disso”, diz a psicóloga e especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Simone Nosima.

Para ajustar o tempo com os dispositivos móveis, os pais precisam conversar com a criança e também mostrar as vantagens de ficar um pouco fora do mundo online. Simone recomenda dar exemplos dos problemas do uso excessivo dos celulares e buscar programas interessantes para os filhos. “Traga possibilidades de atividades longe do digital e dê recursos para que a criança tenha tempo de qualidade no seu cotidiano que não envolvam telas. Não é só proibir, é ajudar a encontrar um mundo novo, repleto de possibilidades e criatividade”.

Mostrar essas possibilidades também é benéfico para que a criança ou o adolescente consiga perceber as mudanças em seu comportamento. “Não espere a criança ou o adolescente aceitar essa nova rotina. É preciso que os pais tenham entendimento do que é necessário. E após alguns dias, retome a conversa e mostre as mudanças positivas que aconteceram com a diminuição da exposição ao digital”, aconselha Simone.

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