Violência sexual infantil: o perigo pode morar dentro de casa
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A criança sempre foi alegre e tranquila, mas passa a ter atitudes agressivas, apresentar oscilações de humor e não se interessar mais por atividades que sempre gostou. Seus familiares percebem que ela tem falado coisas inadequadas para sua idade e que as dores de estômago, de cabeça ou infecções se tornaram frequentes. Além disso, tem dificuldade para controlar a raiva ou o medo quando está na presença de outras pessoas e, em alguns casos, se torna mais agitada ou apresenta fortes indícios de depressão. O que está ocorrendo?

De acordo com a psicóloga e pesquisadora Lídia Weber, esses são os principais sinais de uma criança vítima de violência sexual e, por isso, os pais devem estar atentos a mudanças de comportamento e conversar sobre o assunto com seus filhos. “Fale calmamente para que ele se sinta seguro e amado, e não culpado ou assustado”, orienta Lídia, doutora em psicologia e professora sênior na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

No entanto, se o diálogo não for suficiente para que a criança conte o que ocorreu e os pais continuarem suspeitando que há algo errado, é necessário procurar um psicoterapeuta para avaliar o paciente e identificar o problema. “Aí, se a violência sexual for confirmada, a situação precisará ser denunciada imediatamente ao Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria) ou na delegacia da cidade”, afirma a sargento e especialista em pedofilia, Tânia Guerreiro.

Atuante na Polícia Militar há 35 anos, ela já acompanhou centenas de vítimas e afirma que 90% delas sofre abusos dentro de casa. “Infelizmente, os agressores costumam ser padrastos ou parentes como irmão mais velho, tio e avô”. Além disso, eles não escolhem suas vítimas por idade e há inúmeros casos de bebês que são violentados diariamente. “Me sinto mal ao acompanhar qualquer situação, mas as que envolvem recém-nascidos me marcam, porque entro em desespero querendo salvá-los”, lamenta a policial.

Outra questão que a assusta é o fato de algumas mulheres se tornarem cúmplices do crime por não acreditarem nos filhos. “A menina ou o menino denuncia o padrasto, mas a mãe diz que a criança está inventando aquilo para que seu pai verdadeiro volte para casa”, conta, revoltada, ao citar outras situações em que mães culpam a criança pelo ocorrido. “A pequena tem apenas quatro ou cinco anos de idade e a mulher diz que ela provocou aquilo por andar com roupa curta dentro de casa”. Sem dúvida, são “situações que nos deixam apavorados”.

“Infelizmente, os agressores costumam ser padrastos ou parentes como irmão mais velho, tio e avô”

Por isso, na tentativa de diminuir a ocorrência desses casos, Tânia realiza diversas palestras dentro e fora do Brasil focando em prevenção para que os pais estejam mais atentos aos filhos e evitem que sejam as próximas vítimas. “Você precisa vigiá-los, não permitir que durmam na casa de outras pessoas e nem deixar que usem banheiros públicos sem que você esteja junto”. Além disso, é necessário desconfiar quando algum adulto insiste em ficar sozinho com a criança ou lhe dá muitos presentes, fazendo de tudo para conquistá-la. “O agressor sempre se esforçará para ‘parecer’ uma boa pessoa e ter a confiança da vítima”, alerta.

Também é necessário observar com frequência se a criança não apresenta assaduras e olhar diariamente suas roupas íntimas para verificar se há alguma sujeira incomum. “Lembrando que o principal fator de prevenção será a conversa de forma natural com essa criança para que ela entenda que não pode deixar ninguém tocá-la e saiba como se proteger, se for necessário”, alerta a psicóloga Lídia Weber, que dá sete dicas para direcionar os pais nessa tarefa.

  1. Ensine a respeito do corpo

    Mostre à criança, desde cedo, quais são as partes que integram seu corpo. Assim, quando falar dos órgãos reprodutores, será possível utilizar palavras corretas em vez de realizar citações genéricas, como “a parte de baixo”, por exemplo.
  2. Explique que a criança tem partes íntimas

    É preciso falar aos filhos que algumas partes de seu corpo são especiais e, por isso, somente os pais podem vê-las em situações específicas como banho, troca de roupa ou para verificar alguma doença. Ou seja, nenhuma outra pessoa pode ter acesso a essas áreas. “E, para explicar isso às crianças menores, é possível dizer que ninguém pode mexer onde a roupa de praia cobre”, sugere a doutora.
  3. Incentive seu filho a contar se alguém tocá-lo

    Esclareça que, algumas vezes, encostar nas áreas íntimas pode proporcionar cócegas ou ser agradável e que alguém pode querer brincar assim, em segredo. Só que isso não é permitido e, ainda que o outro diga que é um “jogo” ou fale que ele não deve contar aos pais, é preciso dizer, sim, o que ocorreu. “O agressor pode falar à criança que os pais ficarão bravos e a tendência é que ela esconda a situação para não magoar sua família”, aponta Lídia. Por isso, é necessário que exista um ambiente de confiança dentro de casa para que os filhos não tenham medo de se abrir, principalmente se o pedófilo estiver dentro da própria residência.
  4. Esclareça que a criança também não pode tocar em ninguém

    Assim como outras pessoas não podem ter acesso às suas partes íntimas, nenhum indivíduo pode pedir que ela toque nele e nem mostrar à criança seus órgãos genitais. Os pequenos devem saber que essas situações são inaceitáveis e que precisam contar aos pais imediatamente se alguém tentar isso.
  5. Não force a criança a beijar ou abraçar quem ela não quer

    Se seu filho prefere não dar demonstrações físicas de carinho a alguém – abraçando, beijando ou sentando no colo –, não insista. “Ensine ele a ser educado e a dizer bom dia, mas diga que tocar não é obrigatório”, orienta Lídia.
  6. Ensine a criança a dizer “não” de maneira firme

    Também é necessário mostrar aos pequenos a importância de dizer “não” com firmeza ao perceber que alguém está agindo de forma inapropriada. Isso vale para amigos, colegas mais velhos e adultos, pois “o abuso sexual pode partir de qualquer pessoa que exerça algum poder sobre a criança”.
  7. Esteja atento ao que seus filhos acessam na internet

    Por fim, oriente os pequenos a respeito do uso seguro das redes sociais e bloqueie todos os conteúdos que achar inadequado para a idade deles. Além disso, acompanhe o que acessam nos meios digitais e os ensine a nunca passar dados pessoais a alguém que conheceram na internet.
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