Crédito: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.
Crédito: Daniel Castellano/Gazeta do Povo.| Foto:

Décadas atrás, quando o videogame ainda era visto como coisa de adolescente, o senso comum decretou que jogos eletrônicos eram inimigos do bom desempenho escolar e um empecilho na relação pais e filhos. Uma pesquisa divulgada em fevereiro deste ano, entretanto, mostra como essa percepção mudou. Os fãs de games de décadas atrás cresceram, mas nunca deixaram de gostar de jogos eletrônicos. E agora jogam com seus filhos.

A pesquisa Game Brasil 2015 ouviu 909 pessoas em todo o país, de 5 a 23 de janeiro, e constatou que 82% dos pais com videogame em casa jogam com seus filhos. O levantamento mostrou também que, embora 61,8% preocupem-se com o tipo de jogo com o qual os filhos se entretêm, 71,2% gostam que seus filhos joguem games e nenhum dos entrevistados disse que proíbe os filhos de jogar.

Pais mais velhos tendem a ter filhos nerds e geeks, diz estudo

Para analistas, os dados mostram que um comportamento paterno raro há 30 anos virou tendência com a nova geração de pais que cresceram jogando videogames. “Os gamers dos anos 80 já constituem família e a cultura de jogos eletrônicos entra de maneira natural nas vidas de seus filhos; não existe o medo ou o preconceito da geração dos seus pais”, conclui Guilherme Camargo, da Sioux, empresa especializada no ramo de games e responsável pelo estudo.

O advogado Thiago Lemos joga videogames com seu filho, Vitor, de 4 anos.

O advogado Thiago Antônio de Lemos Almeida, 33 anos, é um exemplo dessa geração que aprendeu a transformar o videogame num instrumento útil ao fortalecimento de vínculo entre pai e filho. “Sempre conversamos sobre o jogo. Ele me pede ajuda quando tem dificuldade e, quando não estou por perto, ele me conta o que conseguiu ou não fazer. Enfim, é uma ótima forma de brincarmos juntos”, conta Almeida, sobre como os momentos de diversão em frente ao PlayStation 4 são relevantes na relação dele com seu filho Vitor, de quatro anos, fã do jogo Lego Marvel.

O levantamento da Sioux também mostrou outros aspectos no que diz respeito ao controle exercido pelos pais no hábito de jogar em casa. Quase a metade dos entrevistados (49%) afirmou que controla o tempo que os filhos jogam; 35% optam por controlar o horário em que jogam; 22% supervisionam a companhia dos filhos, selecionando com quem podem ou não jogar. Aqueles que disseram não exercer controle algum somam 14,4%.

Aprendizagem

A ideia de que videogames atrapalham no rendimento escolar é outra sentença que foi, no mínimo, relativizada por descobertas recentes. Naturalmente, quando o hábito de jogar videogame se transforma numa espécie de vício, quase sempre causado pela falta de controle no tempo dedicado aos jogos, o desempenho nos estudos fica comprometido. No entanto, pesquisas neurológicas desenvolvidas em diferentes universidades do mundo têm mostrado que os jogos eletrônicos contribuem para o aperfeiçoamento de diferentes habilidades cognitivas.

Em 2013, na Alemanha, o Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, em parceria com a Universidade St. Hedwig-Krankenhaus, de Berlim, divulgou um estudo apontando que pessoas habituadas a jogar videogame com regularidade tiveram partes da massa cinzenta do cérebro aumentadas, com ganho especialmente para as regiões associadas à navegação espacial, memória, habilidades motoras e planejamento estratégico.

49% dos entrevistados afirmaram que controla o tempo que os filhos jogam; 35% optam por controlar o horário em que jogam; 22% supervisionam a companhia dos filhos, selecionando com quem podem ou não jogar

No mesmo ano, outros pesquisadores da Universidade de York, no Canadá, pesquisaram a atividade cerebral de homens com cerca de 20 anos que jogaram videogame por pelo menos quatro horas semanais nos três anos anteriores. Eles chegaram a resultados parecidos com as de seus colegas alemães e concluíram que o hábito de jogar videogame contribui para o desenvolvimento de habilidades motoras e visuais necessárias para a realização de tarefas complexas.

Em 2011, um estudo feito pela Escola de Educação da Universidade de Nottingham com crianças com síndrome de Down ou autismo mostrou que o uso de videogames que trabalham a interatividade de jogo com a movimentação do próprio corpo, como o Nintendo Wii ou o Kinect, melhora em até 54% a capacidade de aprender em crianças com essas características.

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