A transição da infância para a adolescência deve ser construída com relações baseadas no afeto e nos limites.
A transição da infância para a adolescência deve ser construída com relações baseadas no afeto e nos limites.| Foto: Bigstock

Todos nós já passamos por aquela fase na qual nos sentimos novos demais para algumas coisas e velhos demais para outras. E, muitas vezes, ficamos até meio perdidos. É a famosa adolescência, que chega por volta dos 12 anos de idade.

Neste período, muitas vezes as crianças começam a estar fisicamente prontas para a vida adulta, porém psicologicamente imaturas, buscando separar-se dos pais e se autoconhecer, o que pode causar muita confusão. Mabel Cymbaluk, mestranda em educação e orientadora pedagógica no Colégio Marista Paranaense destaca a importância da preparação para transição da infância para a adolescência.

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A especialista explica que essa transição deve ser construída com relações baseadas no afeto e nos limites, de modo equilibrado, para evitar que haja um rompimento brusco entre o jovem e sua família. “É muito comum ouvirmos pais e professores dizerem: 'Mas você já está grande para isso!' ou 'Você ainda não tem idade para...!' Essas falas não contribuem com o período em que os adolescentes se encontram. Seria mais importante promover momentos de conversa afetuosa, escuta e acolhimento. Pensar que o jovem está num período novo, de dúvidas, com ansiedades e inúmeros sentimentos”, explica ela.

Para auxiliar os filhos nesta transição, as famílias podem trabalhar a autonomia e responsabilidade das crianças desde a primeira infância. “Deixar que a própria criança faça aquilo que é possível, dar pequenas tarefas em casa. À medida que cresce, ela mesma percebe o que é capaz de fazer sozinha. Crescer e assumir novas posturas torna-se mais natural”, conta a profissional.

Na escola, as marcas de passagem ficam mais evidentes. É muitas contam com projetos bastante interessantes de transição entre os segmentos, contribuindo com este processo de amadurecimento, por meio de atividades desafiadoras, que incentivam a superação de dificuldades. Desta forma, Mabel acredita que as crianças transitam melhor pelas diferentes fases de seu desenvolvimento.

Para toda regra, há exceção

Na maioria das vezes a transição da infância para a adolescência é conhecida como uma fase difícil, permeada pela rebeldia do jovem. Porém, Mabel Cymbaluk lembra que isso não é uma regra e é possível lidar com naturalidade.

“O que ocorre é que até uma determinada fase as crianças fazem o que os pais e professores pedem sem questionar, por que ainda não têm uma bagagem de argumentos construídos, não têm uma firmeza de opinião sobre as situações e ainda não descobriram o que realmente faz parte dos seus gostos ou desgostos pessoais. Mas à medida que a criança cresce, vai adquirindo conhecimentos, conquistando seu espaço e sua identidade. E nem sempre a identidade está de acordo com as expectativas construídas pela família e pela escola”, analisa a orientadora educacional.

Isso acontece porque, por meio do amadurecimento da criança e da aquisição de sua identidade, nasce a divergência de opinião com os pais, professores e colegas. “Aquela criança doce e 'obediente' passa a questionar, querer, se impor como pessoa. E isso, em geral, gera a crise nos lares e nas escolas”, explica Mabel que completa lembrando que neste momento "há um misto de sentimentos e a melhor forma é entender o momento e acolher as dificuldades, porque esta fase é envolvida de mudanças físicas, psicológicas e sociais".

Mabel reforça, e lembra, que esse conjunto de mudanças influencia o comportamento humano de maneira geral. E no caso dos indivíduos que estão na transição para a adolescência, a especialista aconselha que os pais a busquem o equilíbrio. “Os pais podem e devem impor limites, mas com abertura para diálogos, deixando claro o que é negociável ou não”.

Luto da infância

Algumas pessoas consideram a adolescência como um período de luto da infância e de fato há algumas perdas significativas. É que quando a criança é pequena, os pais e escolas têm alguns momentos bastante próximos, por exemplo, nas datas comemorativas (como aniversários, Páscoa, Natal), na qual se constroem as lembranças afetivas, o que aos poucos vão ficando para trás.

Além disso, a fantasia, a magia, as expectativas vão se perdendo se não forem valorizadas e mantidas. Porém, devemos nos atentar e destacar para o jovem os ganhos que também acontecem nesse período com o seu amadurecimento.

Escuta atenta e acolhimento

Este período de crescimento exige cuidado, abertura de diálogo e acolhida, mas exige também limites muito claros estabelecidos. É importante que a criança cresça sabendo quais os valores da família e no que acreditam.  

A educação e a formação se solidificam por meio dos exemplos e das atitudes de pais e educadores. “É comum ver pais que desejam que os filhos tenham hábito de leitura, mas na casa não há livros disponíveis e ninguém mais lê. Eles aprendem mais com o que percebem de suas famílias e escolas do que com aqueles grandes discursos unilaterais, com muitos 'nãos' ou com a permissão excessiva”, alerta Mabel.

Além do mais, a orientadora educacional aconselha que os pais estejam atentos ao momento atual, às necessidades que os jovens conectados têm, impor as regras da casa com afeto, dar possibilidade de expressão aos pequenos. “Não dá para viver do passado, dizendo ao adolescente que na sua época era diferente, que você já tinha responsabilidade. É preciso entender o momento atual. Firmes, porém serenos. Ser pai, ser mãe, ser educador, tudo isso traz muitas alegrias, mas também desafios. O 'pacote' é completo”, finaliza.

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