Desde que observado o tempo mínimo e máximo, as crianças têm diferenças em alcançar os marcos de desenvolvimento.
Desde que observado o tempo mínimo e máximo, as crianças têm diferenças em alcançar os marcos de desenvolvimento.| Foto: Sebastian Pandelache/Unsplash

Há crianças que demoram mais do que outras para começar a desempenhar algumas atividades e alcançar os marcos de desenvolvimento, como andar, subir e descer escadas, falar, reconhecer as pessoas, ser capaz de fazer contas matemáticas simples e até mesmo entender e obedecer a comandos.

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Isso pode preocupar os pais, principalmente ao compararem o desenvolvimento de seu filho com outras crianças. Mas calma! A pediatra Ana Márcia Guimarães Alves explica que as crianças têm diferenças em alcançar os marcos de desenvolvimento, desde que observado o tempo mínimo e máximo estabelecido para alcançar aquela habilidade.

Segundo ela – que é membro do departamento científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria – o desenvolvimento da criança “é caracterizado por uma sequência de processos pelos quais cada indivíduo assimila, adapta e integra suas experiências com o mundo de acordo com suas limitações e potencialidades genéticas” e depende de dois fatores: a carga genética e os fatores ambientais.

Claro que os estímulos externos, o nível socioeconômico e cultural, assim como fatores protetores, a ausência de estresse tóxico e diversas oportunidades oferecidas, podem modular o cérebro da criança, através da neuroplasticidade, e melhorar o seu desenvolvimento. Assim como se as alterações ambientais forem negativas, desde o período pré-natal até o crescimento da criança, pode acarretar o atraso de seu desenvolvimento. E isso, pode impactar no tempo de desenvolvimento de cada criança.

Agora, se ultrapassado o marco máximo estabelecido, não se pode esperar e aguardar o suposto “tempo próprio da criança”, mesmo que tenha sido assim com outras pessoas da família, alerta a médica. “É preciso recorrer ao acompanhamento profissional e intervir imediatamente com o estímulo da habilidade atrasada”, explica ela.

Atraso nos marcos de desenvolvimento podem indicar transtornos de neurodesenvolvimento

Bebês muito irritados, que não se sentam sem apoio até os 7 meses ou não andam até os 16 meses de idade, assim como o atraso na fala, não olhar ao ser chamado pelo nome, restrição nas brincadeiras, sem criatividade ou sem interação, não são comportamentos comuns dentro do marco de desenvolvimento infantil, e devem ser investigado por especialistas.

E para notar o atraso no marco de desenvolvimento, seja motor, de linguagem, cognitivo, socioemocional ou adaptativo, a puericultura, ou seja, o acompanhamento pediátrico periódico se torna muito eficaz. “A criança deve visitar o pediatra, a cada 30 dias até o sexto mês, a cada três meses até 1 ano e meio de idade e a cada seis meses até os 3 anos, mesmo que não esteja doente”, indica Ana Márcia, já que nas consultas o médico poderá fazer uma avaliação e perceber algum desenvolvimento atípico.

“Detectada a ausência de uma habilidade dentro do marco de desenvolvimento esperado ou uma involução no desenvolvimento psicomotor, o profissional deve encaminhar a criança para uma avaliação especializada”, complementa a neuropediatra Juliana Gurgel Gianetti, que é vice coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Infantil da Academia Brasileira de Neurologia.

Somado a isso, os pais podem acompanhar o desenvolvimento infantil por meio da caderneta de saúde da criança fornecida pelo Ministério da Saúde, no qual o próprio departamento de Pediatria e Desenvolvimento da SBP contribuiu para a confecção. O documento estão orientações sobre as aquisições motoras, de linguagem e comportamento que a criança deve atingir de acordo com a sua faixa etária, além das orientações sobre a estimulação adequada para cada fase.

A preocupação com o desenvolvimento infantil é tamanha, pois muitos transtornos podem ser identificados quando não se atinge alguns dos marcos estabelecidos. O transtorno de espectro autista, o déficit de atenção e hiperatividade, o transtorno opositor desafiante, as síndromes genéticas e o transtorno de sono, são alguns deles.

E, se detectado o atraso precocemente, maiores as chances de a criança tentar alcançar seu potencial máximo através da estimulação adequada por equipe especializada. “Nos primeiros anos de vida ainda está ocorrendo o desenvolvimento do encéfalo e novas conexões neuronais podem ser estabelecidas devido a capacidade que o cérebro tem de se reorganizar, estabelecendo novas conexões neurais e permitindo um novo aprendizado”, explica a neuropediatra.

Mas então, não seria benéfica a estimulação precoce para adiantar os marcos de desenvolvimento?

Não, longe disso. O estímulo exagerado e inadequado pode causar inúmeros prejuízos para as pequenas. “Exigir que uma criança apresente uma habilidade que ainda não está preparada, do ponto de vista de maturação, e não conseguir atingir o objetivo final, pode provocar estresse tóxico, sofrimento e até comprometimento na saúde da criança”, alerta Ana Márcia. E isso pode gerar ansiedade e se tornar mais como barreira do que estímulo, complementa a neuropediatra.

Por isso, os estímulos devem ser conforme a idade e limite de capacidade da criança. “Elas devem ter um ambiente rico em brincadeiras, estímulos e socialização, mas sem ultrapassar o limite de maturidade, capacidade e de idade, não exigir o que ela não é capaz”, ensina a médica pediátrica.

Além disso, Juliana destaca que atingir precocemente marcos do desenvolvimento psicomotor não é sinal de inteligência superior aos dos outros. Afinal, inteligência é um dos pilares do desenvolvimento, assim como o motor ou o da linguagem, e alcançar um destes marcos, não significa que necessariamente a criança será ágil em outros.

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