Birras são comuns e irritantes, mas podem ser oportunidade para crescimento.
Birras são comuns e irritantes, mas podem ser oportunidade para crescimento.| Foto: Bigstock

Uma birra pode ser tão escandalosa e, para nós, inexplicável, que é bem compreensível que a nossa primeira reação seja querer dar um fim nela o quanto antes. No entanto, quando acabar com aquela 'cena' se torna o nosso foco absoluto, podemos perder oportunidades de conexão com a criança e, além disso, prejudicar o seu aprendizado. 

Siga o Sempre Família no Instagram!

É que, na maioria das vezes, uma birra é o resultado do predomínio da parte mais primitiva do cérebro, relacionada às emoções, sobre o córtex frontal, responsável pelo raciocínio e pela tomada de decisões.

“Ao contrário da parte mais primitiva, que se desenvolve muito cedo, o córtex frontal termina de se desenvolver somente em torno dos 20 anos de idade”, explica a psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz. “E essa parte primitiva, quando assume o controle da situação, usa justamente as armas que tem: choro, grito, descontrole”. 

É por isso que o sermão, nessas horas, não adianta: a birra costuma ser muito mais uma expressão natural de um estágio do desenvolvimento humano do que outra coisa. “A criança não dá conta de compreender, simplesmente porque o cérebro dela está ocupado em crise”, diz Ana Caroline. “Como a criança vai dar uma explicação coerente para o adulto se ela está desorganizada nesse momento? Não dá”.

Se à criança falta o desenvolvimento do córtex pré-frontal, são os pais ou cuidadores que têm a responsabilidade de exercer esse papel.

“Eles precisam acalmá-la, dizer que está tudo bem, nomear o sentimento do momento, auxiliá-la a se situar”, orienta a psicóloga. “Momentos como esses são oportunidades de exercício do desenvolvimento saudável, de ajudar a criança a desenvolver estratégias de autogerenciamento, reconhecimento de emoções e aprendizagem de diferentes formas de comunicação”.

Foco não deve ser cessar apenas

Por isso, diante de uma birra, o objetivo principal não é cessá-la a qualquer custo. “Se, por exemplo, eu dou um fim à birra mudando as regras e acatando o que a criança quer, a mensagem que eu passo é a de que o mundo irá sempre se adequar a cada necessidade dela, e aí a criança pode ter uma compreensão de que essa forma de comunicação — a birra — é válida e funcional”, alerta Ana Caroline.

Isso a incentiva a recorrer a esse comportamento, não apenas como expressão natural do seu estágio de desenvolvimento, mas como estratégia premeditada. Ao mesmo tempo, dificulta à criança o aprendizado de outras maneiras de se comunicar.

Estar do lado em momentos difíceis

Virar a chavinha a respeito do que significa um momento de birra pode ser uma dica de ouro para lidar melhor com a situação. “Em vez de ‘quero encerrar essa birra o quanto antes’, o norte para os pais e cuidadores poderia ser ‘o que será que eu estou ensinando para a minha criança nesse momento?’”, aponta Ana Caroline.

“Será que o comportamento dos pais está informando para essa criança: ‘eu só quero estar com você quando você está bem’ ou ‘estou aqui para os momentos difíceis também’?”  

Daí a importância de os próprios pais e cuidadores percorrerem caminhos de autoconhecimento. “Isso os ajuda a não serem simplesmente reativos nas situações, e possibilita que se conectem mais com suas crianças”, explica a psicóloga.

“Pais e cuidadores não darão conta de tudo o tempo todo, e está tudo bem! Aquilo que não sai como o planejado não precisa ser visto como algo falho ou errado: é uma oportunidade de crescimento. O importante é ir aprendendo ao longo das tentativas, avaliando o que está funcionando ou não, mudar estratégias que não são positivas e buscar ajuda sempre que necessário”.

Deixe sua opinião