A partir do momento em que se começa a perdoar as próprias atitudes, a vida deixa de ficar estagnada.
A partir do momento em que se começa a perdoar as próprias atitudes, a vida deixa de ficar estagnada.| Foto: Denys Nevozhai/Unsplash

Para muitas pessoas perdoar alguém é uma dificuldade imensa. E quando falamos em passar uma borracha sobre os próprios comportamentos, esse número é ainda maior. Não é fácil reconhecer erros e se livrar da culpa que as falhas provocam pode ser um desafio e tanto. Esse processo é um exercício diário e, acredite, faz um bem danado.

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Ana Carolina de Carvalho Pacheco é psicóloga e explica que o autoperdão não é fácil porque não é natural do ser humano. “Estamos em uma sociedade em que o julgamento e a crítica são muito fortes e isso passa por nós mesmos”, esclarece. Autoboicote é recorrente entre os pacientes, diz Ana Carolina, que garante que a partir do momento em que a pessoa começa a ser mais complacente com ela mesma, até a vida deixa de ficar estagnada. “Você se abre para criar e correr atrás do que acredita”, aponta.

Culpa constante

As relações interpessoais também são afetadas quando se exercita esse ato de perdoar a si mesmo. Com a dona de casa, Michele do Amarante, a história é quase engraçada. Ela buscou terapia para lidar com uma lista de defeitos do filho. Ao ouvir da psicóloga que era ela quem precisava frequentar as sessões é que a ficha caiu. “Eu era muito rígida com ele me punia. Era devastador pra mim porque eu não deixava meu filho se aproximar de mim”, confessa.

Michele revela que a culpa era constante: “Eu dormia e acordava com culpa. Era companheira do dia, da noite, da madrugada”. Até que um dia a dona de casa entendeu que o amor do filho por ela era incondicional e que educar exige que ela diga "não" pra ele em vários momentos. “Muita coisa que ele fazia era por ciúme depois que a irmã nasceu”, diz Michele, que completa: “Quando eu consegui aceitar o abraço dele, aquilo me libertou”.

Cinco anos depois de iniciar a terapia, Michele revela que a relação com o filho, hoje com 14 anos, é outra. “Ele é muito de abraçar, de beijar. Eu não deixava ele me amar. Hoje somos muito companheiros”, conta ela.

Com os outros, tudo bem

Ana Carolina ressalta, ainda, que ao analisar a situação de outra pessoa, o pensamento normalmente é mais solidário. “Tem muita coisa que se um amigo teu fez você dá a maior força e é gentil. Mas se é você que age daquela forma, você não faz isso. É autoxingamento, a gente não aceita”. Esse comportamento se replica automaticamente no dia a dia porque, segunda a psicóloga, o cérebro tem a tendência de repetir padrões. “Pessoas negativas tendem a ser cada vez mais negativas”, alerta. Por isso esse processo de autoperdão deve ser diário.

Mudança interna

Essa expectativa de esperar que o outro mude também se altera. A partir do momento em que se reflete sobre os próprios atos, as reclamações da vida, do cônjuge, dos filhos, diminuem. “É uma mudança interna que melhora tudo que está em volta”, defende a psicóloga. O caso da Michele foi exatamente assim. Foi a atitude dela e o próprio comportamento que interferiu positivamente em casa.

A saúde agradece

Os benefícios interferem, inclusive, na saúde. “Cada vez mais os estudos demonstram como a mente altera a biologia humana”, enfatiza Ana Carolina. Uma mesma doença afeta de formas diferentes pessoas que têm visões de vida mais positivas e aqueles mais pessimistas, de acordo com ela. Por isso a conclusão é colocar o passado no lugar que ele deve ocupar e viver a vida de um jeito mais leve, sem remorsos ou vitimização.

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