É importante que a família ofereça apoio nesse momento, mas sem impor que o enlutado more com os filhos, por exemplo.
É importante que a família ofereça apoio nesse momento, mas sem impor que o enlutado more com os filhos, por exemplo.| Foto: Bigstock

Após 30, 40 ou 50 anos ao lado do cônjuge, é comum o idoso se sentir desorientado diante da morte do companheiro. “Afinal, falamos da perda de um projeto de vida que era compartilhado, e isso gera mudanças”, afirma o psicólogo Henrique Shody Batista, ao citar a importância de a família oferecer apoio nesse momento, mas sem impor que o enlutado more com os filhos ou que não case novamente, por exemplo.

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De acordo com o especialista, essa decisão deve ser avaliada com cautela e depende do estado de saúde do idoso, principalmente em situações de doenças incapacitantes ou déficits cognitivos que impactem a rotina. Além disso, nos casos de pessoas saudáveis, é necessário considerar se a morte do companheiro afetou o autocuidado dele, se prejudicou seus hábitos de higiene, alimentação e sua habilidade de lidar com finanças.

Inclusive, “pode ser que nos momentos iniciais a pessoa precise de auxílio nessas atividades, de ajuda para lembrar de medicamentos que usa e também de suporte emocional”, pontua o especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde. “Lembrando que a fase de luto costuma trazer sentimentos de tristeza, choro e medo do abandono”, completa.

Segundo ele, isso pode ser demostrado de maneira direta, por meio de falas que indiquem solidão, ou ainda de forma indireta, com mudanças abruptas de comportamento. Ou seja, “a pessoa se isola, descuida com a alimentação e higiene, e perde o interesse no convívio com seus queridos e na realização de atividades que gostava”, enumera o terapeuta, sugerindo que alguém permaneça sempre com o idoso nesses casos.

No entanto, ele garante que não há regra para o processo de luto e que algumas pessoas conseguem lidar bem com essa fase, voltando à rotina de forma saudável e rápida. “O luto pode até trazer o sentimento de liberdade para alguns diante de uma relação familiar que não era funcional”, explica o psicólogo, ao mencionar casos em que o indivíduo começa a se exercitar e até a realizar outras atividades que não tinha oportunidade antes.

Diante disso, é preciso verificar as particularidades de cada situação e ponderar se a preocupação da família a respeito do idoso sentir solidão ou não ter capacidade de se cuidar são realmente necessárias. “Afinal, não existe um momento especifico que proíba os pais de morarem sozinhos”, afirma o advogado Guilherme Kowalski.

O que diz a lei

Segundo ele, o que acontece é que homens e mulheres com mais de 65 anos têm cuidados garantidos por lei quando precisarem, principalmente em casos de perdas cognitivas ou de locomoção que os coloquem em risco. “Então, assim que os médicos confirmarem que o idoso precisa desse cuidado, ele deve receber amparo dos filhos”, informa o advogado, ao ressaltar que a negligência é julgada como crime de abandono de incapaz com pena de multa e reclusão de seis meses a três anos.

No entanto, o que mais acontece é o contrário, com o cuidado extremo do idoso a ponto de impor decisões e destruir sua capacidade de autonomia. Por isso, a orientação do psicólogo Henrique Shody Batista é que a família tenha cautela e avalie com tranquilidade a situação e todas as opções disponíveis. Para isso, algumas dicas podem ajudar. Veja quais são:

  1. Mantenha as consultas médicas do idoso em dia para garantir que ele está bem de saúde.
  2. Inclua-o no processo de decisão e dê atenção às preferências dele para que, dentro das possibilidades da família, esse idoso se sinta acolhido e mantenha sua rotina.
  3. Cuidado para não assumir uma postura de infantilização do idoso, como se ele fosse incapaz de decidir por si. Afinal, ainda que dependa de cuidados em algumas esferas da vida, pode ter autonomia para planejar algo do seu dia e expressar sentimentos, desejos e vontades.
  4. Ouça-o e valide as expressões emocionais dele, respeitando seu tempo e o espaço que precisa. Assim, tanto o idoso quanto seus familiares terão abertura e flexibilidade para negociar as demandas de cada um.
  5. Se o idoso precisar de ajuda, tente primeiro fazer a atividade junto com ele e não em seu lugar, pois isso incentivará sua participação ativa e mostrará que ele é capaz.
  6. Nos casos em que a pessoa idosa decide morar sozinha e tem condições para isso, ela deve saber que não está abandonada e que pode contar com o apoio e carinho de sua família.
  7. Por fim, não tenha pressa ao tomar essa decisão, pois atitudes impulsivas ou impostas podem ser vistas pelo idoso como atitudes de abandono e negligência, além de fazer com que o idoso se afaste de sua família.
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