Com o passar dos anos, os golpistas se especializam e é importante sempre lembrar que as vítimas jamais têm culpa.
Com o passar dos anos, os golpistas se especializam e é importante sempre lembrar que as vítimas jamais têm culpa.| Foto: Bigstock

Parecia a saída ideal para a crise financeira que estava instalada na vida da Rita (que teve o nome preservado a pedido dela), empresária e dona de uma loja que tinha acabado de fechar. Ela conseguiu encontrar uma pessoa que compraria um lote de roupas por R$ 40 mil. O comprador buscou a mercadoria, apresentou um comprovante de pagamento, mas o dinheiro nunca caiu na conta. Foi desesperador.

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Histórias assim parecem absurdas, mas são muito mais comuns do que a maioria da população imagina ou já vivenciou. “A pessoa me passou muita segurança. O comprovante estava ali e o dinheiro ia cair no dia seguinte. Deu 10 horas da manhã e cadê o dinheiro? Entrei em desespero, em pânico”, revela. O rombo financeiro poderia ser a maior preocupação, mas foi o julgamento das pessoas próximas que mais afetou Rita.

“Eu precisava de dinheiro, perdi mais dinheiro e ainda fui tachada de idiota”, revela a empresária, que ficou tão traumatizada a ponto de pensar em tirar a própria vida. Ela só conseguiu contar para os familiares mais de um ano depois. Tais Targa, psicóloga especialista em carreira, mestre em educação, explica que o luto de passar por isso é bem comum, mas que culpa e vergonha prevalecem.

Lembre-se: a vítima jamais tem culpa

Foi a vergonha que calou Rita por muito tempo, mas Tais reforça que esse pensamento deve ser combatido. “A pessoa se questiona e pensa em como foi cair nisso. Por isso essa tendência ao isolamento”, diz a psicóloga, que ainda completa: “Chega uma hora que a pessoa tem que buscar ajuda e é importante que compartilhe”.

A psicóloga ressalta que, com o passar dos anos, os golpistas se especializam e esclarece que as vítimas jamais têm culpa. “Até os criminosos tiveram que se reinventar e ficaram cada vez mais especializados”, comenta. Mariana Mansur, psicóloga clínica, concorda: “É importante a pessoa pensar que não é burra, não é boba. O golpista que é esperto”.

Rita demorou a entender e aceitar que uma pessoa como ela, com curso superior, poderia passar por uma situação desse tipo, mas percebeu que, como vítima, não poderia carregar essa culpa. “A lábia de alguém que dá um golpe é muito boa. É uma pessoa má, que sabe o que está fazendo e a pessoa que cai não é idiota por isso. Simplesmente não faria o que a outra pessoa faz”, lembra ela.

Mariana insiste, também, que o normal não é o comportamento do golpista. “Quem não tem a mente criminosa não vai pensar nesse tipo de coisa”, argumenta. Outro aspecto levantado pela psicóloga é que de fato o dinheiro é algo importante no meio em que se vive e que traz certa segurança. É por isso que falar a respeito de um baque financeiro assim deve ser algo natural, porque as consequências podem, sim, ser graves emocionalmente.

“Você fica inseguro. Como vai se sentir seguro a ponto de abrir outro negócio? E assim o medo vai tomando conta. Às vezes é muito difícil sair sozinho desse estado”, avalia ela. É por isso que as crises de ansiedade e até a depressão se instalam, de acordo com a psicóloga. Com apoio e empatia, porém, é possível dar a volta por cima.

Ao passar por situação semelhante é fundamental não deixar de procurar a polícia e, sim, conversar a respeito com as pessoas para alertá-las e dividir esse peso. Rita conta que aprendeu a ter mais empatia e conseguiu se recuperar emocional e financeiramente. E nunca é demais lembrar: “Não é uma vergonha para quem sofre. Vergonha é quem aplica (o golpe)”, conclui Mariana.


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