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Esta entrevista foi feita em âmbito acadêmico, a qual reproduzo, na íntegra.

Karina Bastos é mãe de três meninos e pratica a educação domiciliar.

1) O que fez você se interessar em educar seus filhos em casa?

Eu sempre achei que a escola é a forma de ensino que atende a maioria das pessoas. No entanto, desde que eu estava frequentando uma escola ficava me perguntando se não poderia existir outra maneira de receber instrução formal. Apesar de ter tido acesso a uma escola considerada boa, sempre achei ruim o fato dos alunos receberem a mesma instrução, de não ser levado em conta suas individualidades de aprendizado e de interesse.
Quando descobri que existia o Homeschool eu ainda não era casada e comecei a pesquisar mais sobre o assunto por enxergar a prática como uma alternativa à escola.

2) De que forma as famílias podem adquirir o conhecimento e conteúdo a ser repassado para os filhos? Você acredita que conseguiria cobrir todos os conteúdos usualmente oferecidos por uma escola regular?

Ao assumir a tarefa de educar os filhos em casa, integralmente, estudar e se “auto educar” é uma prerrogativa indispensável. É necessário estudar, seja através de livros, ou através de cursos presenciais ou online.

Quando surgiu a ideia de EAD – Ensino a distância – lembro que existia bastante resistência sobre o assunto. Hoje isso já é um assunto superado, pois o tempo comprovou que é perfeitamente possível aprender através de aulas online com suporte remoto, desde que haja dedicação e o empenho diante do aprendizado.

Hoje temos acesso a toda e qualquer informação e assunto, existem inúmeros cursos e professores dedicados a ensinar através da internet. Livros podem ser adquiridos pela internet, mesmo alguns que estão fora de edição, através de sebos. Existem inúmeros cursos disponíveis na internet, gratuitos ou pagos, que cobrem todo o currículo necessário para a formação completa de um estudante.

Eu tenho certeza que consigo cobrir todos os conteúdos oferecidos por uma escola regular. Nunca tive dificuldades em nenhuma matéria e percebo que o Homeschool, ao menos na linha que estamos seguindo em nossa família, conduz o aluno a uma formação que, em muitos aspectos, proporciona ao aluno o desenvolvimento do autodidatismo.
Se em algum momento, no entanto, percebermos uma necessidade específica, penso que é possível contratar professores particulares para assuntos mais específicos. Outra possibilidade são os COOPs, cooperativas de famílias que se reúnem regularmente e onde os pais encontram apoio mútuo para seu ensino domiciliar. Uma das formas de ajuda é um pai ou mãe, que domine melhor determinado conteúdo, ensinar crianças de outras famílias cujos pais não tenham tanta habilidade naquele assunto em específico.

No Brasil começam a surgir iniciativas para oferecer materiais, currículos, tutoria e aulas à distância. Algumas famílias que conheço usam materiais americanos.

Nossa família está empreendendo neste ramo. Iniciamos em janeiro um
currículo de introdução ao latim para crianças. O português deriva do latim e pode ser considerado essencial para um domínio amplo e profundo de nossa própria língua.

Vejo que as famílias educadoras estão oferecendo um conteúdo que seria oferecido em uma escola, mas muito mais que isso.

3) Os filhos educados em casa correm o risco de ficar em desvantagem no vestibular ou na disputa por um emprego?

Eu considero essa possibilidade pouco provável. Já conheci algumas pessoas adultas que foram homeschoolers que cursaram as graduações que desejaram e estavam bem colocadas profissionalmente.

É possível olhar para os dados de outros países que já possuem gerações formadas integralmente em casa, como os Estados Unidos, e ver que os alunos homeschoolers não só se colocaram bem no mercado de trabalho como se destacam bastante nas universidades e no mercado de trabalho.
(http://www.techinsider.io/homeschooling-is-the-new-path-to-harvard-2015-)
As pesquisas americanas apontam que os alunos que obtiveram formação em casa muitas vezes têm resultados melhores nas notas de admissão das universidades e também depois, como alunos.

4. Como suprir as questões de socialização e convívio com a diversidade com crianças educadas em casa?

Acreditar que a socialização se dá apenas e principalmente no âmbito escolar é um erro grave. A escola é apenas uma de entre as possibilidades da criança exercer suas capacidades sociais.
Em nossa família procuramos proporcionar aos nossos filhos uma boa convivência familiar, eles têm a oportunidade frequente de passar um tempo com avós e bisavós. Eles frequentam aula de judô, onde encontram outras crianças e costumeiramente brincam juntos, antes ou após a aula. Frequentamos encontros regulares do grupo de apoio de famílias educadoras em Curitiba, no qual estão crianças de diversas faixas etárias.

Os seres humanos, mesmo dentro de um mesma família, podem ser muito diferentes, quem tem irmãos que o diga! Na escola é situação bastante comum a criança sofrer abusos morais pelos mais diversos motivos. Sabemos que as escolas, algumas vezes, até tentam trabalhar essas questões, mas poucas conseguem realmente fazer com que as crianças mudem verdadeiramente seu comportamento aceitando seus amigos “diferentes”. Não que seja impossível, mas não acredito que esse trabalho de socialização, de aceitação, aconteça na escola exatamente como aqueles que são contrários à prática da educação domiciliar imaginam.

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