Centro de Tel Aviv. Crédito: Bigstock.
Centro de Tel Aviv. Crédito: Bigstock.| Foto:

Os vizinhos hostis que juraram tirar o país do mapa estão longe de ser o único problema enfrentado por Israel. Internamente, a nação judia passa por um complexo debate existencial sobre a sua identidade, incluindo a questão de quão judeu o estado judeu realmente deve ser.

Pouco mais de três quartos (76%) dos judeus do país acreditam que estado pode ser ao mesmo tempo judeu e respeitar a pluralidade democrática, uma visão rejeitada pela maioria dos muçulmanos e dos cristãos israelenses, de acordo com uma pesquisa publicada pelo Pew Research Center, no início de março.

Árabes

O relatório também aborda a precária relação entre cidadãos judeus e árabes em Israel. Quase metade dos ouvidos (48%) afirmou ser favorável à expulsão ou à transferência dos árabes. “A pesquisa encontrou profundas divisões religiosas na sociedade israelense, não apenas entre judeus e árabes, mas mesmo entre os judeus”, disse ao site Deseret News o diretor de pesquisa sobre religião do Pew, Alan Cooperman.

Enquanto quase todos os judeus de Israel se reconheçam de fato como judeus, metade (49%) se considera secular nos costumes, mesmo que participe de algumas práticas religiosas. Um em cada cinco judeus do país sequer acredita em Deus. “A principal descoberta foi um enorme fosso entre judeus ultraortodoxos e judeus seculares”, disse Neha Sahgal, uma das autoras do estudo. Intitulada “A sociedade religiosamente dividida de Israel”, a pesquisa foi feita a partir de entrevistas pessoais com mais de 5.600 judeus, muçulmanos, cristãos e drusos do país.

Seculares

Judeus seculares, por exemplo, chegaram a dizer que se sentem mais desconfortáveis com a ideia de um filho se casando com um judeu ultraortodoxo do que com um cristão, segundo o relatório.

Sobre a questão de se deveria ser permitido que árabes vivessem em Israel, Cooperman diz que a pesquisa usou termos bem gerais, pois não há conhecimento de propostas oficiais do país para expulsa-los.

Ao mesmo tempo, “essa é uma ideia que surgiu e se espalhou há mais de uma década”, diz ele. “Tudo o que podemos dizer é que a ideia vaga de uma transferência ou expulsão também divide a população israelense”.

Os árabes em Israel, que correspondem a 14% da população, não se reduzem aos muçulmanos. 2% da população é composta por cristãos árabes.

62% dos judeus de Israel acham que os princípios democráticos devem se sobrepor à lei judaica quando ambos entram em conflito. No entanto, entre os haredim, os judeus ortodoxos mais fervorosos, 89% acham que a lei judaica é que deve ter precedência. É a mesma porcentagem dos judeus seculares – hilonim – que acham que a primazia é dos princípios democráticos.

Quando a questão a respeito do caráter judaico e democrático de Israel é posta a israelenses não-judeus – 19% da população – 63% dos muçulmanos e 72% dos cristãos dizem que Israel não pode ser democrático e judaico ao mesmo tempo.

Judeu diante do Muro das Lamentações, em Jerusalém. (crédito: Bigstock) Judeu diante do Muro das Lamentações, em Jerusalém. (crédito: Bigstock)

“Santuário”

O relatório também aponta algum consenso entre israelenses judeus, particularmente sobre a ideia de o país ser um santuário para judeus. Quase todos (98%) concordam que judeus do mundo todo têm direito à cidadania israelense. Essa visão está associada a outra compartilhada por mais de 90% dos israelenses judeus: a ideia de que o estado de Israel, fundado em 1948 na esteira do holocausto, é necessário para a sobrevivência a longo prazo do povo judeu.

O novo estudo do Pew vem três anos depois da publicação do seu “Retrato dos americanos judeus”, uma pesquisa que chocou muitos com a sua constatação de que a maioria dos judeus dos Estados Unidos consideram que o seu judaísmo se firma mais em cultura e ancestralidade do que em religião.

Juntas, as duas pesquisas dizem muito sobre as crenças de 80% dos 14 milhões de judeus do mundo e convidam a comparações entre as duas maiores comunidades nacionais judaicas, que são quase do mesmo tamanho.

“Há laços profundos entre os judeus nos dois países”, diz Cooperman, ao Deseret. A maioria dos judeus de Israel (59%), por exemplo, diz que os judeus americanos têm forte influência sobre o país.

Sinagogas

Religiosamente, entretanto, judeus americanos e israelenses mostram uma distinção muito grande. Judeus ortodoxos são um em cada cinco judeus israelenses, mas apenas um em cada dez judeus americanos. Enquanto os judeus de Israel tendem a se posicionar nos extremos, os dos EUA se concentram em uma posição equilibrada.

Altas porcentagens de judeus israelenses dizem que vão à sinagoga semanalmente, acendem velas no Sabbath e seguem as regras judaicas de alimentação. “Mas há também um paradoxo aqui”, diz Cooperman. “Em alguns aspectos, os judeus de Israel são menos observantes que os americanos como um todo”.

A porcentagem de judeus israelenses que dizem que nunca vão à sinagoga é mais alta: 33% contra 22% dos americanos. E cerca de um terço dos judeus dos EUA (35%) dizem que vão à sinagoga “algumas vezes por ano, para as festas maiores”, enquanto apenas 14% dos de Israel dizem o mesmo.

Shabat

Uma característica do novo estudo foi repartir os judeus israelenses em quatro subgrupos, que podem ajudar a visualizar como a observância religiosa se relaciona com os diversos pontos de vista sobre questões sociais importantes.

Entre os haredim em uma extremidade (9% dos judeus do país) e os hilonim na outra (49%), a pesquisa usou outras duas categorizações. Os datim (13%) são judeus ortodoxos que se engajam muito mais com a sociedade do que os haredim. Já os masortim (29%) ficam entre a ortodoxia e o secularismo.

As opiniões sobre questões de lei judaica e sociedade variam significativamente entre os quatro subgrupos. Um exemplo: o transporte público deveria parar de funcionar no Shabat? São favoráveis a isso 96% dos haredim, 85% dos datim, 44% dos masortim e 6% dos hilonim.

E ainda que as respostas variem bastante entre os judeus, um contraste ainda mais forte divide judeus e árabes em algumas das questões mais fundamentais da vida do país.

42% dos judeus de Israel dizem que os assentamentos da Cisjordânia ajudam na segurança do país e 30% dizem que essas comunidades judaicas – ilegais sob o ponto de vista da lei internacional – a prejudicam. Mas entre os muçulmanos, são 29% os que acham que os assentamentos ajudam e 61% os que dizem que prejudicam.

Além disso, enquanto apenas 21% dos judeus israelenses dizem que “há muita discriminação contra os muçulmanos” no país, 79% dos árabes têm esse ponto de vista.

Outras características

Outros resultados da pesquisam são:

– cerca de um terço dos homens judeus de Israel dizem que usam um quipá ou outro adereço na cabeça que denota respeito a Deus;

– cerca de metade dos judeus israelenses são asquenazes, ou seja, com raízes na Europa Central e do Leste, e metade são sefarditas ou mizrachim, com raízes na península ibérica, no Mediterrâneo e no Oriente Médio;

– os muçulmanos são de forma geral mais religiosos que os judeus em Israel – 68% dos muçulmanos dizem que a religião é muito importante em suas vidas – mas menos religiosos que os muçulmanos de outros países da região.

A pesquisa, financiada parcialmente pela Neubauer Family Foundation, tem uma margem de erro de mais ou menos 3 pontos percentuais entre os judeus, 6 pontos entre muçulmanos, 9 entre cristãos e 11 entre drusos.

 

Com informações de Deseret News

Colaborou: Felipe Koller.

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