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Por Cibele Scandelari, esposa, mãe de duas meninas e de uma a caminho, professora e orientadora familiar.

Você sai de casa radiante, com sua preciosidade, cuidadosamente segura na cadeirinha do carro e a deixa na porta da escola. Enche aquela bochecha rosada e fofa com muitos beijos e vai trabalhar. Ao voltar, algo tira o sorriso de seu rosto… ali, pra todo mundo ver, cravada naquele lindo rostinho, está a marca dos dentinhos de outra criança. Como pode? Como deixaram isso acontecer? Um misto de indignação com o acontecido e dó pelo pimpolho sobem por sua jugular e a vontade é… pular no pescoço de alguém. Pior ainda é se a situação se repete… sai de perto!

Sei como é. Em seu primeiro ano de escolhinha, minha filha levou uma dentada na testa que os avós quase pegaram as minhas costelas pra fazer o churrasco do domingo. Explico… é que, além de mãe, sou professora na escola em que a doçura em questão estuda. Um tempo depois a doçura revidou e deixou a sua própria marquinha… ai… Tive a triste oportunidade de vivenciar o desagradável fato tanto como mãe quanto como professora.

Bom, uma coisa é certa: a fase das mordidas é desagradável, precisa de atenção por parte dos adultos, mas quando trabalhada dentro de uma educação positiva, será apenas isso: uma fase.

Churrasco

Na maioria dos casos, as situações envolvendo mordidas ocorrem por volta dos dois anos, podendo começar um pouco antes e rarear aos três. Nesta fase a criança está começando a aprender a se expressar e se relacionar com o mundo, seu vocabulário costuma ser limitado e ainda não compreende tudo aquilo que está sentindo. Nessa realidade, muitas crianças lidam com os acontecimentos que não entendem ou que as irritam. Como se estivessem em um churrasco, todo mundo vira picanha.

Crédito: Bigstock. Crédito: Bigstock.

Segundo a psicóloga e amiga, Carolina Marcondes Formaggio, nem sempre a mordida é uma agressão por parte da criança. “Para algumas crianças é uma demonstração de amor. Principalmente quando os pais dão aquelas ‘mordidinhas de amor’”, afirma Carolina. É importante lembrar também que nessa idade a criança encontra-se na fase oral. É através da boca que sente prazer. Ao morder, observa também a reação do colega e das pessoas ao redor. Começa a testar… será que consegue aquela reação novamente?

Pais e educadores devem estar atentos para mapear os fatos que costumam desencadear o processo e ainda aproveitar para educar a afetividade de seu filho(a) ou aluno(a). Situo a educação da afetividade aqui como um processo de ajuda à criança para que se conheça e conheça tudo aquilo que a afeta, seja no âmbito emocional, no físico ou no social. Aos poucos, o adulto deve mostrar que a linguagem é o meio mais adequado de expressar aquilo que quer e/ou sente. Quando for possível, é interessante dar nome ao que a criança estiver sentindo ou querendo, com muita clareza. Ela ainda não sabe nomear aquilo que a incomoda…

É necessário verificar quando a mordida acontece ou está para acontecer se a criança está com todas as suas necessidades básicas atendidas (fome, sede, sono, etc.), se está passando por alguma situação emocional tensa (separação dos pais, falecimento, etc.), se atividade está de acordo com suas possibilidades, se a criança está entediada.

Tive um aluno, um doce de criança, que antes de um ano e meio, estava desenvolvendo o hábito de deixar a marca de sua incompleta arcada dentária passear pelos bracinhos dos colegas. Para conseguir desvendar o que estava acontecendo e evitar que fizesse outras vítimas, grudei nele. Algumas vezes fiz isso de forma física mesmo. Ficava de mãos dadas e quando ele queria desvencilhar-se explicava que era uma pena, mas que enquanto estivesse a machucar os amiguinhos teria que ficar ao lado da professora. É claro que ele não gostava… coisa mais natural! Fomos feitos para sermos livres! Outras vezes grudava meus olhos nele e o observava. Descobri que, quando estava muito cansado, bastava uma criança se exaltar no outro lado da sala e ele já abria sua boca com poucos dentes e se colocava rapidamente na direção da sua próxima vítima. Assim evitei a mordida e aprendi que devia dizer-lhe, com muito carinho e poucas palavras, que o que estava sentido era sono. Dito e feito! Ele dormia por mais ou menos 1 hora e acordava um verdadeiro vegetariano. Bom… pelo menos até o final daquele dia.

Atenção

Atividades que prendam a atenção da criança ajudam a evitar essas desagradáveis situações. Tanto na escola como em casa (com irmãos, em festas ou encontros), se a criança fica longos períodos sem uma atividade adequada à sua idade, as mordidas podem acontecer. Isso não quer dizer que a pessoa que estava com a criança não cuidou direito. Muitas vezes pode acontecer logo ao lado da professora, por exemplo, no momento em que esta acabou de virar para atender a um coleguinha. Apesar disso, as ocorrências devem diminuir, novas estratégias devem ser planejadas e um diálogo a respeito do assunto entre família e escola deve estar aberto. Entretanto os pais devem estar atentos se seu filho levou muitas mordidas de uma vez e a maioria fortes. Isso pode ser indício de que estava sem um responsável acompanhando suas atividades.

Bom… se seu(a) filho(a) está passando por essa fase, ajude-o a compreender seus sentimentos e a expressá-los da maneira correta. Mantenha um diálogo com a escola. Se seu(a) filho(a) está sendo vítima, nunca ensine-o a revidar, mas a se defender e procure se informar sobre as providências que a escola está tomando. Firme! … uma hora o churrasco acaba….

 

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Seu filho já passou por essa fase? Como você fez para lidar com essa situação?

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