Robin Worral/Unsplash
Robin Worral/Unsplash| Foto:
Jean Twenge*, The Conversation

Pergunte a uma adolescente hoje, como ela se comunica com seus amigos, e a resposta será “pelo celular”. Não que ela telefone para eles, mas a comunicação é geralmente por mensagens em redes sociais. Os adolescentes de agora – a geração que chamo de “iGen”, e que também é chamada de Gen Z – estão constantemente conectados com seus amigos, passando cerca de nove horas por dia na frente de uma tela.

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E como isso influencia o tempo que passam com seus amigos pessoalmente?Alguns estudos descobriram que pessoas que passam mais tempo nas redes sociais, na verdade, têm mais tempo de interação pessoal com amigos. Mas esse tipo de análise apenas foca em pessoas que já vivem em um mundo repleto de smartphones. Ela não pode nos mostrar como os adolescentes passavam o tempo antes e depois do surgimento das redes sociais.

E se fizéssemos um recorte e comparássemos a frequência de interação entre amigos em gerações anteriores com a de hoje? E se analisássemos como a solidão difere entre gerações? Para fazer isso, eu e meus coautores examinamos como 8,2 milhões de adolescentes norte-americanos passam seu tempo com amigos desde 1970. O resultado foi que os adolescentes de agora estão socializando de diferentes formas – e também se mostraram os mais solitários.

Menos trabalho e menos saídas de casa?

Após estudar duas amostras de representantes nacionais, descobrimos que, apesar de o tempo que adolescentes passam com seus amigos ter diminuído desde 1970, essa queda acelerou a partir de 2010 – assim que o uso de smartphones aumentou.

Comparados a adolescentes de outras épocas, os iGen não gostam muito de sair com amigos. Eles também não gostam de ir a festas, ir a shoppings ou ao cinema. Mas isso não acontece por estarem passando mais tempo no trabalho. Essa geração tem menos empregos desde 1990, e atividades extracurriculares também diminuíram no mesmo período.

Ainda assim eles passam menos tempo com amigos. No fim de 1970, 52% dos adolescentes saía com os amigos quase todos os dias. Em 2017, apenas 28% fazia isso. Atualmente, jovens vão a menos festas do que a geração de 1980 costumava ir. No geral, eles passam uma hora de interação pessoal a menos por dia do que a Gen X fazia.

Então, nós nos questionamos se isso influenciaria sentimentos de solidão, que foram medidos em adolescentes utilizados como amostragem. Descobrimos que, certamente, assim como a interação pessoal diminuiu a partir de 2010, a solidão aumentou: 39% dos adolescentes afirmaram se sentir solitários em 2017, 26% em 2012. Já em 2017, 38% disseram que se sentem deixados para trás, enquanto em 2012 era 30%. Em ambos os casos, os números de 2017 eram maiores do que os de 1977, com a solidão aumentando entre os adolescentes.

Uma nova norma cultural

Como estudos anteriores mostraram, descobrimos que esses adolescentes que passam mais tempo em redes sociais também passam mais tempo com seus amigos. Então como a interação pessoal diminuiu, no geral, enquanto a interação digital aumentou? Achamos que tem a ver com o grupo versus o indivíduo.

Imagine um grupo de amigos que não utilizem redes sociais. Esse grupo frequentemente se reúne, mas os mais extrovertidos querem se encontrar com mais frequência do que os outros, que gostam de ficar em casa às vezes. Então imagine que todos eles criam uma conta no Instagram. Os mais extrovertidos continuam se reunindo, e também são os mais ativos em seus perfis.

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No entanto, as interações pessoais do grupo diminuem de qualquer forma, conforme as redes sociais crescem. O declínio das interações entre adolescentes não é apenas uma questão individual, é geracional. Mesmo jovens que não usam as redes sociais são afetados: quem irá sair com eles se a maioria está no quarto com o rosto grudado em uma tela?

Níveis elevados de solidão são apenas a ponta do iceberg. Ansiedade e depressão também aumentaram muito desde 2012, talvez porque passar mais tempo com um smartphone e menos tempo com um amigo não seja a melhor fórmula para a saúde mental. Alguns já argumentaram que os adolescentes estão apenas escolhendo se comunicar de outra forma, o que tira o peso da comunicação digital.

Esse argumento assume que tanto as redes sociais quanto a interação pessoal podem potencializar a solidão. Nos parece claro que não é esse o caso. Existe algo saudável em estar próximo a outra pessoa que não pode ser substituído pela tela de um celular. O resultado é uma geração de adolescentes que são mais solitários do que nunca.

* Professora de Psicologia, Universidade Estadual de San Diego

Tradução de André Luiz Costa.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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