Monge trabalha na produção do licor Chartreuse, na Grande Cartuxa de Grenoble, França. Foto: Grand Chartreuse/Divulgação
Monge trabalha na produção do licor Chartreuse, na Grande Cartuxa de Grenoble, França. Foto: Grand Chartreuse/Divulgação| Foto:

Mosteiros e conventos desempenharam um papel cultural importantíssimo na história do Ocidente. No mundo caótico que emergiu com a queda do Império Romano, os religiosos foram os responsáveis pela preservação e pela transmissão da cultura durante séculos, nas mais variadas áreas. A sua contribuição se estende não apenas à filosofia, às ciências naturais e à arte, mas também a técnicas agrícolas e à produção de alimentos e muito mais: ao longo dos séculos, monges, frades e freiras se tornaram responsáveis pelo surgimento e aperfeiçoamento de diversas bebidas.

Em iluminura do século XIII, monge prova vinho produzido no mosteiro. Foto: Commons Em iluminura do século XIII, monge prova vinho produzido no mosteiro. Foto: Commons

Até hoje, mosteiros e conventos produzem algumas das bebidas alcoólicas mais apreciadas no mundo. Para o teólogo Michael Foley, professor de Patrística na Baylor University, nos EUA, as razões do sucesso dos religiosos nesse campo são claras: “Eles possuíam amplas extensões de terra para a plantação de uvas ou cevada, uma longa memória institucional por meio da qual um conhecimento especial poderia ser repassado e aperfeiçoado, uma facilidade para trabalho em equipe e um compromisso com a excelência mesmo na menor das tarefas como um modo de glorificar a Deus”, diz ele em um artigo publicado no site The Conversation. Conheça como se deu a contribuição de religiosos para o desenvolvimento de sete bebidas renomadas:

Cerveja

A cerveja não foi inventada pelos monges – ela vem dos antigos babilônios. Mas foram os monastérios medievais que a aperfeiçoaram e que nos legaram o seu processo de fabricação tal como o conhecemos hoje. Os mais antigos desenhos de uma cervejaria moderna são do Mosteiro de Saint Gall, na Suíça, e datam do ano 820. Além disso, o processo de filtragem foi inventado por Santo Arnaldo de Soissons, um monge beneditino e bispo, no século XI. E a melhor cerveja do mundo hoje, a Westvleteren 12, é feita dentro dos muros de um mosteiro trapista belga.

As 11 cervejas trapistas produzidas dentro de mosteiros da ordem espalhados pela Bélgica, Holanda, Áustria, Itália e Estados Unidos. Commons As 11 cervejas trapistas produzidas dentro de mosteiros da ordem espalhados pela Bélgica, Holanda, Áustria, Itália e Estados Unidos. Foto: Commons

Uísque

Os mais antigos registros de destilação de álcool datam do século XIII, na Itália, onde se destilava álcool a partir do vinho. O Beato Raimundo Lúlio, um filósofo catalão, foi um dos primeiros a descrever o processo. Os mosteiros foram os responsáveis por disseminar a técnica. Dos mosteiros irlandeses, que começaram a destilar cereais, a bebida chegou à Escócia, onde se consagrou. Na segunda metade do século XV, os mosteiros escoceses já dispunham de alambiques de porte respeitável. A mais antiga menção ao uísque em um documento escocês é um registro do Tesouro Público que descrevia “oito medidas de cevada para o frei John Cor, por ordem do rei, para produzir aquavitae” – nome pelo qual a bebida era conhecida.

Chartreuse

Tido largamente como um dos melhores licores do mundo, o Chartreuse é fabricado pelos monges da Grande Cartuxa de Grenoble, na França, a casa-mãe da Ordem dos Cartuxos, uma das mais rigorosas da Igreja Católica. Sua receita é um segredo: desde que começou a ser produzida, em 1737, apenas dois monges a conhecem de cada vez. Especula-se que contenha mais de 130 ingredientes, incluindo erva-cidreira, canela, açafrão, hortelã e tomilho.

Rompope

Esse licor feito de gemas de ovos, baunilha, canela e leite é uma criação das monjas clarissas de Puebla, no México. Conta-se que as freiras usavam claras de ovos para revestir com uma película protetora os trabalhos artísticos de sua capela e, não querendo desperdiçar as gemas que sobravam, desenvolveram a receita do licor, no século XVII. A bebida era destinada principalmente para ser oferecida a autoridades eclesiásticas e civis que visitavam o mosteiro. Hoje o rompope é uma das bebidas mais tradicionais do México.

Freiras clarissas vendendo biscoitos e rompope no México. Foto: Governo do México Freiras clarissas vendendo biscoitos e rompope no México. Foto: Governo do México

Vodka

A invenção da legítima vodka russa é creditada a Isidoro, um monge ortodoxo do mosteiro de Chudov, em Moscou. O primeiro destilado a ser conhecido na Rússia chegou ao país em 1386 através de embaixadores genoveses e logo foi designado com o nome genérico de vodka – um aumentativo de voda, “água”. Mas o primeiro destilado produzido em terras russas e que corresponde àquilo que hoje chamamos de vodka se originou de uma receita do monge, em 1430.

Estátua do monge dom Pérignon na sede da Moët & Chandon, uma das maiores produtoras de champanhe do mundo. Foto: Commons Estátua do monge dom Pérignon na sede da Moët & Chandon, uma das maiores produtoras de champanhe do mundo. Foto: Commons

Champanhe

Não teríamos o champanhe que conhecemos hoje se não fosse um monge beneditino que hoje dá o nome a um dos champanhes mais conhecidos do mundo: dom Pérignon. No final do século XVII, Pierre Pérignon descobriu os cinco principais elementos que dão forma à produção da bebida até hoje: a mistura de diferentes uvas para harmonizar o produto, a separação e prensagem em separado das uvas pretas de forma a obter um sumo cristalino, o uso de garrafas de vidro mais espessas, o uso de rolhas de cortiça e a escavação de adegas profundas para permitir o repouso e envelhecimento do champanhe a uma temperatura constante.

Marasquino

As cerejas ao marasquino que usamos em sobremesas devem seu nome a essa bebida de origem croata, que é um dos poucos licores do mundo produzidos através do processo de destilação – no caso, da cereja marasca. O nome foi emprestado às cerejas adocicadas por causa das cerejas que escapavam inteiras da prensagem e ficavam preservadas dentro do licor. A mais antiga receita da bebida que chegou até nós data do século XVI e foi composta por farmacêuticos dominicanos da cidade de Zara.

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