Voluntários se reinventaram durante a pandemia para não deixar de fazer o bem
Eduardo Roosevelt, do Nariz Solidário, agora usa a tecnologia para as intervenções em hospitais| Foto: Ariane Amaral

Causas sociais e gente interessada em ajudar sempre andaram lado a lado. Só que a pandemia do novo coronavírus reaqueceu um sentimento que, pouco a pouco, vinha perdendo espaço: a solidariedade.

Não que ela não existisse mais. Vemos que sempre que um desastre natural ou tragédia acontece, as pessoas se ajudam. Mas é que com a correria da vida, a indiferença vai tomando conta das relações sociais e o que se vê é menos pessoas contribuindo umas com as outras, espontaneamente e com regularidade.

Agora, durante a pandemia, mesmo quem estava “parado” por conta das restrições impostas pela Covid-19, viu que dava para se doar, ainda que de outra maneira. Por isso, reunimos, aqui, histórias de voluntários que se reinventaram para continuar somando.

“Essas ações reduzem a sensação de abandono de alguns pacientes e tiram o foco da doença e do tratamento”, afirma o psicólogo Sidnei Evangelista, ao se referir aos mais de 280 voluntários que atuam no Hospital Universitário Cajuru, em Curitiba. “É aquilo que a gente sempre fala: fazer o bem faz bem. Traz a presença (que muitos acamados não têm), a alegria, o acolhimento, a escuta”, resume.

Já o diretor geral do hospital, Juliano Gasparetto, reforça que são os voluntários os responsáveis por deixar o ambiente mais colorido e o clima mais leve. “Eles mostram um outro lado do ser humano. Às vezes, cuidar da doença nem é o mais complicado, mas todo o entorno que está envolvido na vida daquela pessoa. Sem a ajuda deles, a sobrecarga encima dos médicos seria enorme”, considera.

Palhaçaria hospitalar

Eduardo Roosevelt é membro do projeto Nariz Solidário e agora conta com a tecnologia para levar alegria aos hospitais Foto: Ariane Amaral.
Eduardo Roosevelt é membro do projeto Nariz Solidário e agora conta com a tecnologia para levar alegria aos hospitais Foto: Ariane Amaral.

Acostumado a nunca levar o celular para o “trabalho”, o voluntário Eduardo Roosevelt, do Nariz Solidário, agora usa a tecnologia para as intervenções em hospitais. “Nosso intuito tem sido mostrar que a gente pode estar presente mesmo estando longe e que consegue ter esses momentos preciosos fazendo uso da inovação”, diz.

O contato olho no olho com pacientes internados passou para o digital com o auxílio de um robô que promove televisitas. “O objetivo continua sendo o mesmo: alegrar o ambiente, fazer com que se sintam melhores e tenham um momento de suspensão, que entrem na lógica fantástica do palhaço”, destaca.

Mudança de rumo

Por causa da pandemia Márcia precisou deixar o voluntariado no hospital e passou a fazer máscaras para continuar ajudando. Foto: Arquivo pessoal.
Por causa da pandemia Márcia precisou deixar o voluntariado no hospital e passou a fazer máscaras para continuar ajudando. Foto: Arquivo pessoal.

Em quatro anos como voluntária no Cajuru, Márcia Denise Ferreira Borges da Silveira já fez um pouco de tudo. “No começo eu ajudava mais na parte de locomoção das macas e cadeiras de rodas, levando os pacientes para as salas de exame e de volta para os quartos”, conta. Mas, foi na visita solidária que se encontrou. “A gente acha que dá valor para as coisas, mas quando passa por uma experiência dessas é transformador. Aprende a valorizar as pequenas coisas”, declara.

Com o contato físico suspenso, Márcia começou a colaborar sem sair de casa. “Eles postaram no grupo [de WhatsApp] que precisavam de gente para fazer máscaras. Eu não sou uma costureira profissional, mas tenho uma máquina que uso para pequenos reparos e resolvi me oferecer”, lembra. Hoje, ela produz cerca de 100 máscaras por semana. “Eu me sinto abençoada, sendo cidadã, fazendo algo em benefício do próximo. Tudo que faço, é com bastante carinho”, garante.

Só o começo...

Edina aproveita a facilidade de trabalhar com transportes, para levar materiais a voluntárias que fazem máscaras. Foto: Arquivo pessoal.
Edina aproveita a facilidade de trabalhar com transportes, para levar materiais a voluntárias que fazem máscaras. Foto: Arquivo pessoal.

E pode ser que nessa via de mão dupla, Márcia encontre Edina Almeida Pedroso, uma representante comercial que iniciou, na pandemia, a ocupação que pretende não largar tão cedo: o voluntariado. No caso dela, o incentivo veio depois que a mãe, benfeitora há pelo menos 15 anos, precisou se afastar das atividades de voluntariado por estar entre os grupos de risco da Covid-19.

“Sempre quis participar, mas não sabia muito bem como. Minha colaboração é no transporte solidário. Como eu já trabalho na rua, aproveito as viagens para buscar e levar materiais que as voluntárias precisam para costurar as máscaras”, explica. “Não me custa nada e ajudar alguém é tudo”, define.

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