Horta cultivada há dois meses se tornou antídoto contra depressão e novo propósito de vida para Paulo, que foi pintor por 40 anos.
Ex-pintor perdeu o braço e espantou a depressão ao cultivar uma horta comunitária em Americana/SP| Foto: Arquivo pessoal/Paulo Cubo

Era um dia como outro qualquer na vida do então pintor Paulo Cubo, de 53 anos. Morador de Americana, no interior do estado de São Paulo, sempre teve pedaços de papelão em casa, que utilizava no trabalho, para forrar pisos e superfícies. Em janeiro de 2020, na busca pelos guardados em meio a pedaços de madeira, ele levou uma picada de aranha-marrom. Imediatamente procurou ajuda, mas não imaginava o desfecho dessa história.

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“De jeito nenhum eu pensava que era tão perigoso”, revelou. Com uma dor insuportável no braço, Paulo ficou internado cerca de uma semana no hospital da cidade, mas precisou ser transferido para Campinas. O caso só foi piorando, ele precisou da ajuda de aparelhos para respirar e chegou a ser praticamente desenganado pela equipe médica. A amputação do braço direito foi a solução que salvou a vida de Paulo.

Meses depois, quando voltou para casa, se deu conta de que a profissão, exercida por mais de 40 anos, já não poderia mais ocupar o tempo dele. E aí que veio um grande perigo: a depressão. “Bate um desanimo, mas graças a Deus eu levantei a cabeça. A gente sofre, mas vai se adaptando aos poucos”, afirma. Há pouco mais de dois meses, ele passou a se dedicar a uma horta.

O terreno em frente de casa estava vazio, ocioso. Depois de conversar com o proprietário e com a autorização dele, Paulo começou a cultivar hortaliças, legumes, verduras. “Comecei com alface aí já fui plantando de tudo. Abobrinha, pimentão, berinjela... O que der eu planto”, diz orgulhoso. Só de pimenta dão 280 pés, de acordo com ele. E dá um trabalhão cuidar de tudo.

De manhã cedo ele rega a horta e já enche alguns tambores para fazer o mesmo no período da tarde. Todo dia. “Não tem sábado nem domingo. É serviço para o dia todo”, destaca. E quanto ele ganha por esse serviço? Em dinheiro, nada. É tudo para consumo próprio e da vizinhança. “O pessoal veio e perguntou se eu estava vendendo. Eu disse que não queria vender. E foi isso. Conforme vai saindo a gente vai comendo”, explica.

A fonte de renda é uma preocupação porque Paulo ainda não conseguiu se aposentar. A horta não dá dinheiro nenhum, mas a satisfação em ajudar os outros serve de combustível e esperança. “Está todo mundo abençoando”, comemora. Vontade de aumentar os canteiros ele até tem, mas por enquanto o serviço já toma tempo demais. Sobre tudo que aconteceu com ele, Paulo tem uma conclusão: “A gente pega mais amor na vida. Temos que passar por coisas que o outro não passa. O que aconteceu comigo precisava acontecer comigo”.

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