Mesmo com aulas remotas os alunos organizaram a campanha contra violência doméstica e divulgam em cartazes e outdoors
Foco da iniciativa está em divulgar os canais de socorro e tentar reduzir as subnotificações| Foto: Arquivo pessoal

Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram um crescimento nos casos de violência doméstica contra a mulher durante a pandemia de Covid-19. Só no mês de abril, o número de chamadas ao “Ligue 180” aumentou 37,6% na comparação com o mesmo período de 2019. No Rio Grande do Norte, os registros de lesão corporal dolosa passaram de 287, em março do ano passado, para 385, em março de 2020, um crescimento de 34%.

“O que mais me preocupa não são os números gritantes de notificações, mas as pessoas que não conseguem denunciar” , diz o estudante curitibano Artur Cintra, de 16 anos. E foi pensando em reverter (de alguma forma) essa triste realidade, que ele e uma colega de turma criaram – durante a quarentena – a campanha “Você nunca estará sozinha”, que tem espalhado informação e encorajado mulheres a não se calarem.

Paola Nogaroli, de 17 anos, é a outra integrante da equipe. Ela lembra que “o isolamento forçou muitas famílias a conviverem 24 horas sob o mesmo teto, o que fez com que os agressores passem mais tempo em casa e as vítimas não consigam buscar ajuda ou conversar com outras pessoas sobre o que está acontecendo”.

Por isso, o foco da iniciativa está em divulgar os canais de socorro e tentar reduzir as subnotificações, que são quando as vítimas sofrem algum tipo de violência, mas não registram a ocorrência. “A nossa ideia é ajudar todas as mulheres nessa situação, mostrando os caminhos para fazerem a denúncia. Mas, para fazer essa informação chegar até elas precisamos de ajuda nessa divulgação”, declara Paola.

Propaganda

Criada totalmente de maneira remota, a divulgação da campanha tem sido feita por meio da disseminação de cartazes em prédios, condomínios, estabelecimentos comerciais e também pela internet. A arte estampada no anúncio foi criada por uma amiga dos estudantes e viralizou rapidamente nas redes sociais: já são mais de 3 milhões de pessoas impactadas em poucas semanas. “Conseguimos o apoio de uma empresa de mídia, que se sensibilizou com a causa e vai disponibilizar painéis digitais por toda a cidade”, conta Paola.

Já pelo que adianta Artur, eles também estão conversando com empresas, como uma grande rede de supermercados, para repassar as informações a clientes e funcionários. “A ideia começou em Curitiba, mas já está alcançando o interior do Paraná com essas parcerias”, garante.

Mobilização

Pelo que explica a professora Juliana Maria Lazari, do Colégio Positivo Internacional, esse engajamento dos alunos com questões sociais é algo estimulado dentro de uma disciplina chamada Criatividade, Atividade e Serviço Social (CAS), da qual é responsável. Segundo ela, neste ano, o desafio dos estudantes – de pensarem alternativas para problemas reais – foi ainda maior em função das implicações do novo coronavírus.     

“Nós tivemos que cancelar muitas atividades que estavam programadas, como pintar muros de espaços públicos, reconstruir jardins, trabalhar em asilos e orfanatos, por conta da pandemia. Aí foi necessário instigar os alunos a pensarem alternativas de como poderiam fazer a diferença sem sair de casa”, conta Juliana – o que acabou deixando a atividade ainda mais produtiva.

“A gente partiu de discussões, nas reuniões que temos com os alunos, pensando quais são os problemas que nos atingem neste momento, porque essa é uma das reflexões do CAS, independente de pandemia. A missão era pensar em um problema global e de que maneira eles, localmente, poderiam ajudar a resolver”, comenta.

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