No primeiro texto desta série, falamos sobre a importância da educação para as virtudes e como os pais têm papel fundamental nessa construção. A partir de agora, vamos nos aprofundar em cada uma das principais virtudes que formarão uma base sólida para o desenvolvimento humano dos filhos e para uma vida feliz. Já que, como vimos no texto anterior, a virtude é um caminho de felicidade.
Comecemos com aquela virtude que é considerada a mais básica do conjunto de virtudes humanas: a ordem. E por que é a mais básica? Porque ela já é germinada pelos pais desde os primeiros dias do bebê.
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De acordo com a psicóloga clínica e orientadora familiar, especialista em neuropsicologia, educação e desenvolvimento familiar e pessoal, Lelia Cristina de Melo, seguir uma rotina simples com o bebê, mantendo horários para tomar banho, passear, tomar sol e dormir, por exemplo, já é o primeiro passo para nutrir a ordem.
"É uma virtude que pode começar a ser vivida nos primeiros dias de vida e que se prolonga por todos os anos da vida da pessoa", explica a psicóloga. "Por isso, considera-se que é uma virtude básica. Sobre ela, se instalam depois todas as demais".
Tipos de ordem
A ordem norteia grande parte das diversas esferas de nossa vida. É ela que nos faz ser capazes de eleger nossas prioridades (ordem hierárquica), de bem administrar o nosso tempo (ordem cronológica) e de manter cada coisa que possuímos em seu devido lugar (ordem material).
Segundo a especialista, também é essa virtude que leva uma pessoa a ser mais competente e até mesmo uma criança a ter mais amigos. "Se ela for uma criança muito desordenada, ela vai ser esquecida, vai ser superficial, não vai acompanhar as regras do jogo, logo vai criar conflitos", comenta Lelia. Além disso, por falta de ordem, a criança ainda pode ter dificuldade no aprendizado e, no futuro, insucesso na vida profissional.
Sem obsessão
No entanto, é preciso ter cuidado para que a ordem não se torne uma obsessão. A ideia não é viver a ordem pela ordem e muito menos levar os filhos a fazerem o mesmo. Ela deve ser um caminho para conquistar algo maior, um bom resultado daquela ação. Por exemplo, se a criança aprender a guardar seus brinquedos no lugar, o bom resultado será encontrá-los mais facilmente depois. Se aprender a cuidar bem de seus pertences, o bom resultado será poder usufruí-los por mais tempo, já que vão durar mais.
Quando fazemos da ordem uma mania com fim em si mesma, corremos o risco de perder a preciosidade que é a espontaneidade da vida. Uma casa perfeita, com absolutamente tudo limpo e no lugar, chega a ser sem graça, sem vida, não é? "A ordem não foi feita para quadricular a vida, mas para facilitar a convivência e otimizar as atividades e o tempo", afirma a psicóloga.
Quando e como educar
Por ser o primeiro hábito do desenvolvimento infantil, quanto antes os pais começarem a ensiná-lo, melhor. Toda criança passa por estágios em que se encontra mais propensa a aprender determinadas virtudes. No caso da virtude da ordem, esse período costuma acontecer entre 1 e 3 anos.
Por isso, Lelia sugere que, a partir de 1 ano, além de cumprir a rotina estabelecida pelos pais, a criança seja estimulada a guardar os brinquedos, a levar algo para o seu devido lugar, como a fralda no lixo, e a não fazer excessiva bagunça. Com o passar do tempo, os pais devem ir acrescentando tarefas e orientações de acordo com as atividades da criança.
Além disso, a psicóloga ainda pontua aos pais:
- Sejam didáticos, mostrem a eles a leveza de uma vida ordenada e o quanto vale a pena o esforço para alcançá-la.
- Exijam, incentivem e elogiem, sem usar frases destrutivas: "você é um desastre", "o seu quarto é uma bagunça", "estou farta de cuidar das suas coisas".
- Não só peça de longe, faça ele ver, supervisione e ajude de novo se precisar. Diga que está esperando bom resultado. Tente ganhar essa batalha antes dos 8 anos.
Adolescentes
E quando os filhos já são adolescentes e não aprenderam o bom hábito da ordem desde a primeira infância? Ou então, quando os próprios pais têm muita dificuldade de viver essa virtude?
Segundo a especialista, nesses casos os pais devem tomar as rédeas e propor uma força tarefa em família, deixando claro que, a partir de agora, isso será um objetivo em comum. "Eles podem estabelecer propósitos claros e concretos de como melhorar, inclusive escrever, começando até por uma tabela bem escrita, bem desenhada para cada membro", sugere. "Toda pessoa é melhorável, fica um pouco mais difícil (quando o hábito não é estabelecido na primeira infância), mas é possível".