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Fábio Galão, Gazeta do Povo

Três mulheres que enfrentaram o câncer de mama relataram à Gazeta do Povo como a doença mudou as suas vidas e as conduziu a um caminho de ajuda a quem passa pelo mesmo problema.

Josiane Biss, professora de 46 anos de Curitiba, teve um câncer de mama diagnosticado em 2014. “Fiz quimioterapia, cirurgia, reconstrução da mama. Sigo monitorando, mas hoje estou na fase em que não me estresso tanto”, conta.

Ela teve câncer no início da gravidez, disse não ao aborto e salvou as duas vidas

Albari Rosa/ Gazeta do Povo Albari Rosa/ Gazeta do Povo

“Minha mãe teve câncer de mama em 2009, eu tive o meu diagnosticado bem quando ela estava na fase em que estou agora. Ela teve o diagnóstico bem cedo, nem precisou fazer quimioterapia. Quando ela teve câncer, fui pesquisar sobre o assunto, sobre o tratamento, efeitos colaterais. Eu tinha tanta informação que, quando fui fazer meu exame, na hora vi a mancha e falei: ‘É câncer!’. O dia mais difícil da minha vida foi quando eu fui contar para a minha mãe e o meu pai. Ela achou que ia ser simples como o dela, e eu expliquei que não, era mais agressivo, ia ter que fazer quimioterapia. Ninguém da minha família tinha passado por quimio, eu fui aprendendo sobre os efeitos colaterais, enjoos, perda de cabelo, passando pelo câncer”, relata a professora.

Frequentadora da Igreja Batista do Bacacheri, Biss hoje visita pessoas com câncer nas suas casas e em hospitais. “Eu dou informação porque não quero que ninguém fique sem esse conhecimento. Quando vejo que alguém tem alguma necessidade, procuro ajudar. Eu sempre falo que meu porta-malas parece um hospital, tem medicamentos, porta-dreno, almofadas…”, brinca, antes de fazer um alerta: “Tem que estar sempre monitorando, não pode descuidar. Vejo gente com nódulos, bico do seio vazando, e não fazem nada.”

Mão Amiga

Yara Oliveira de Abreu, empresária aposentada de Francisco Beltrão (Sudoeste do Paraná) de 65 anos, teve câncer de mama há 15. Ela retirou o órgão atingido, fez o tratamento e reconstituição mamária. “Na época, foi muito difícil. Hoje parece mais fácil de enfrentar porque está todo mundo mais ‘por dentro’ da doença, mas quando tive câncer fiquei muito assustada, achei que ia morrer, não queria nem me tratar. Mas as pessoas da família me apoiaram e decidi fazer o tratamento em Curitiba. A gente adquire coragem pelo apoio das pessoas. O meu câncer foi detectado no início, estava pequeno, e não tive recidiva”, explica.

“Pelo fato de termos passado por isso, quisemos ajudar outras pessoas e conscientizar sobre a necessidade de prevenção”, diz Yara Oliveira de Abreu

A experiência levou a empresária a fundar em 2010 com duas amigas a associação Mão Amiga, uma casa que atende pacientes com câncer. “Pelo fato de termos passado por isso, quisemos ajudar outras pessoas e conscientizar sobre a necessidade de prevenção. Vamos às ruas, em supermercados, fazemos palestras para divulgar informação. Por mês, atendemos de 300 a 400 pessoas da região de Francisco Beltrão, entre pacientes e acompanhantes, que vêm fazer tratamento no Hospital do Câncer e almoçam na casa”, descreve Abreu.

“Há tratamentos melhores a cada ano, mas muitas mulheres ainda morrem por falta de um bom atendimento no SUS em muitas cidades. O importante é o diagnóstico precoce, porque, quanto mais cedo, melhor o tratamento, menos doloroso, não sofre tanto.”

Na dança, o refúgio

Veruska Carajeleascow, bailarina, modelo e professora de educação física em Santo André (Grande São Paulo), 42 anos, conta que quando seu câncer de mama foi diagnosticado, em 2014, já estava avançado: era um tumor agressivo de grau 3. Sem poder fazer cirurgia no primeiro momento, ela passou por oito ciclos de quimioterapia antes do procedimento para retirar a mama direita e esvaziamento axilar.

“Fiz reconstrução da mama com uma prótese provisória e depois 28 sessões de radioterapia e mais 15 de quimioterapia complementar”, diz a bailarina. “Foram dois, três anos de tratamento. Troquei a prótese e coloquei também no outro seio para ficar igual. Mas eu tinha perdido muito peso com a radioterapia, perdi 12 quilos em um mês, não tinha pele para fixar a prótese, e necrosou. Tive que fazer outra cirurgia em 15 dias e depois ficar indo e voltando do hospital para retirar e colocar a prótese, que foi sendo inflada aos poucos.”

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Ao longo desse processo complicado, a vocação de Veruska foi decisiva para manter o ânimo. “Durante o tratamento de quimioterapia, eu dançava para não engordar, porque tomamos muitos corticoides, então eu colocava meus CDs de zumba e ficava dançando em casa; além de me ajudar a não engordar, eram momentos de diversão. Mesmo que eu cansasse, me fazia feliz”, conta.

“Fiquei um ano sem poder fazer força, mas hoje tenho uma vida normal. Não perdi a força do braço, ao contrário do que era o prognóstico. Faço circo normalmente. Sinto um pouco de dor e tenho fadiga no braço direito, mas nada fora do comum, acontece com qualquer pessoa. Eu faço de tudo. Quando eu fazia crossfit, sentia dor, mas insisti, fazia alongamento, fisioterapia”, lembra a bailarina.

No ano passado, novo susto: apareceram nódulos no útero e nos ovários de Carajeleascow, que teve que fazer cirurgia para retirá-los e as trompas de falópio. “Mas sou uma pessoa alto-astral, bem para cima, e levei para o lado bom, de ajudar as pessoas (ela ministra palestras motivacionais para mulheres que estão enfrentando a doença). Nunca me perguntei por que tinha acontecido comigo. Qualquer coisa que acontece, por pior que seja, faz você evoluir.”

 

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