O mindfulness e a arte contribuiu para que adolescentes e jovens sejam menos críticas em relação a si mesmos e mais compassivas| Foto: Bigstock
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Como meninas marginalizadas se sentem antes e depois de aprenderem a meditação mindfulness? Seis meninas do nosso programa, com idades entre 11 e 12 anos, fizeram desenhos mostrando que aprender e praticar mindfulness – ou atenção plena – as ajudou a se sentirem menos críticas em relação a si mesmas e mais controladas, compassivas, felizes, focadas, calmas e lógicas, especialmente quando fazem boas escolhas.

Essas meninas tinham acabado de completar o programa de artes holísticas (HAP, na sigla em inglês) que oferecemos na Laurentian University. O programa ensina práticas e conceitos baseadas em mindfulness usando manifestações artísticas como pintura, desenho e colagem ou materiais como argila e areia. Também incorporamos jogos e tai chi.

Desenvolvi o HAP com a ajuda de Hoi Cheu, professor do departamento de inglês com treinamento em cinema, terapia conjugal e familiar, tai chi e atenção plena. Em nossa equipe inicial estavam Sean Lougheed (com pós-graduação em cuidados infantis e juvenis), Jennifer Posteraro (coordenadora de pesquisa com pós-graduação em psicologia) e Julie LeBreton (estudante de serviço social).

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Enfrentando desafios

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O nosso objetivo era responder às necessidades de crianças e adolescentes marginalizadas em nossas comunidades – como aquelas que enfrentam diversos desafios, incluindo problemas de desempenho escolar, de saúde mental e sociais, e aquelas que enfrentam circunstâncias como abuso, bullying, exclusão social, pobreza ou disfunção familiar.

Queríamos ajudá-las a desenvolver habilidades e capacidades que contribuíssem com a melhora da atenção, dos relacionamentos com os colegas e do humor. Mas sabíamos que essas meninas poderiam não ter as habilidades de atenção necessárias para um programa tradicional de mindfulness.

Ao desenvolver o programa, nos baseamos nas extensas bases de conhecimento de arteterapia e de métodos artísticos com a juventude. Em seguida, refinamos o programa por meio de pesquisas com crianças e adolescentes envolvidas com programas de assistência social ou sistemas de saúde mental. Colhemos contribuições de várias fontes, incluindo profissionais de saúde mental, conselheiros tutelares, diretores e professores, assistentes sociais, pais e responsáveis.

Aceitação e autocompaixão

O mindfulness tem sido muito difundido ultimamente, inclusive em algumas escolas. À medida que ganha popularidade, também tem recebido críticas. Alguns dizem que as instituições que o utilizam podem incentivar ou distrair as pessoas de reivindicar por mudanças sistêmicas. Entendemos que os sistemas precisam ser questionados e mudados. Em nosso programa, trabalhamos para ajudar indivíduos e grupos a lidar melhor com os sistemas opressivos ou injustos em suas vidas – e desafiá-los.

Desde 2009, pelo menos outras 300 jovens de nossa comunidade participaram de nosso programa de artes e atenção plena. Funciona assim: durante um período de duas horas, dois facilitadores lideram pequenos grupos de participantes. Por meio das atividades, eles visam ajudar as participantes a trabalharem juntas, aprenderem sobre si mesmas, expressarem seus sentimentos e pensamentos e praticarem a respiração, a autocompaixão e a aceitação.

Várias meninas terminam o programa desenhando o seu cérebro antes e depois do mindfulness – e esses desenhos são uma maravilhosa descrição dos benefícios de aprender a atenção plena, muitas vezes definida como a capacidade de prestar atenção, conscientemente, ao momento presente sem julgamentos negativos. O poder da atenção plena é a capacidade de fazer escolhas sobre os nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos, em vez de simplesmente reagirmos.

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“Programa de conscientização feliz”

Atividades criativas, como pintar como a música faz você se sentir ou desenhar-se como uma árvore, ajudam a identificar e a nomear sentimentos, comunicá-los e descobrir coisas sobre si de maneiras que são eficazes e relevantes para o próprio desenvolvimento. Pertencer a um grupo de apoio ajuda os jovens a desenvolver uma ampla variedade de capacidades e pontos fortes, como habilidades sociais, empatia e autoconsciência.

Os benefícios comumente relatados de intervenções junto aos jovens baseadas no mindfulness geralmente incluem uma melhora na regulação emocional, no humor e no bem-estar e uma diminuição do estresse e dos sentimentos de ansiedade. Quase todas os jovens com quem trabalhamos descreveram o programa holístico baseado em artes como “divertido”. Uma jovem sugeriu que renomeássemos nosso programa como “programa de conscientização feliz”.

Benefícios para a saúde mental

Em nossa pesquisa com jovens admitidas em um pequeno programa de saúde mental, descobrimos que as jovens que participaram das atividades do programa relataram que ele era agradável e benéfico, pois as ajudou a aprender a identificar e expressar o que estavam sentindo e a se concentrar melhor e pensar de maneiras diferentes. Entrevistamos as jovens e elas compartilharam um feedback sobre suas experiências:

  • “Aprendi que gosto de fazer arte e que isso me relaxa e me faz me expressar melhor”.
  • “Estar atenta ajuda com a ansiedade que tenho e me ajuda a focar no meu trabalho ou em outra coisa que estou fazendo”.
  • “Existem muitas atividades divertidas que podem ajudar você a encontrar-se e a encontrar a paz dentro de si mesma, a relaxar e a controlar seus pensamentos, em vez de deixá-los pularem por toda parte”.

Existem vários programas baseados na atenção plena para jovens, muitos dos quais foram adaptados de dois programas conhecidos, originalmente desenvolvidos para adultos: redução do estresse baseado na atenção plena e terapia cognitiva baseada na atenção plena. Dois exemplos de programas para jovens desenvolvidos por psicólogos clínicos são a terapia cognitiva baseada em mindfulness para crianças e o “aprender a respirar”.

Uma mudança a partir do fortalecimento

Atividades baseadas em artes não precisam ser complicadas. Por exemplo, fazer com que os membros do grupo percebam e anotem os pontos fortes de cada um pode começar a mudar as crenças negativas que os jovens têm sobre si mesmos. Desenvolver a autocompaixão e a autoaceitação é uma parte importante de viver com mais consciência e experimentar um bem-estar maior.

Com base em nossas experiências de pesquisa, nos tornamos fortes defensores do ensino de práticas e conceitos baseados na atenção plena por meio das artes. Com esta abordagem, podemos tornar os diversos benefícios da prática da atenção plena mais acessíveis aos jovens – e os jovens aprendem a se expressar de maneiras relevantes, significativas e apropriadas ao seu desenvolvimento. Aprendi durante estes anos de trabalho que a mudança não precisa ser assustadora. Um aprendizado importante pode ocorrer através de experiências de lazer e de convívio.

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*Professora de Serviço Social na Laurentian Univeristy, no Canadá.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.