O trabalho iniciado pelo neurologista Mário Vicente Campos Guimarães incentivou centenas de médicos, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, advogados e veterinários a fazerem o mesmo.
O trabalho iniciado pelo neurologista Mário Vicente Campos Guimarães incentivou centenas de médicos, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, advogados e veterinários a fazerem o mesmo.| Foto: Divulgação/Médicos do Mundo

Com sua mochila carregada de medicamentos e itens básicos para aferir pressão e ouvir batimentos cardíacos, o médico Mário Vicente Guimarães saía de casa pronto para oferecer atendimento às pessoas em situação de rua que encontrasse. “Eu fazia isso no trajeto entre o metrô e a universidade onde leciono, em São Paulo”, conta o professor de Neurologia e Neurocirurgia pós-graduado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

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De acordo com ele, a ação voluntária começou em 2015 com o objetivo de ouvir os pacientes e tentar ajudá-los. “Eu perguntava por que estavam na rua e, quando era possível, tratava e cuidava deles”, relata o médico de 41 anos. “Só que eram tantas pessoas que não era possível atender a todos”.

Por isso, ele começou a falar da iniciativa para alunos e colegas de trabalho, viu muitos aceitarem o desafio e percebeu que poderia tornar a ação bem maior. “Decidi, então, criar uma ONG que oferecesse de forma gratuita saúde física, psicossocial, econômica e espiritual”, afirma o neurocirurgião mineiro, que fundou a “Médicos do Mundo” em 2017.

Hoje, essa instituição sem fins lucrativos conta com o trabalho voluntário de 12 mil profissionais, entre médicos, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, advogados e veterinários. Além disso, soma mais de 250 mil pacientes nos estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

“Atendemos também comunidades indígenas, lares de idosos, portadores de doenças graves, centros de acolhimento e áreas atingidas por catástrofes”, informa o neurocirurgião, ao garantir que o trabalho nas ruas é o que mais o emociona. “Afinal, não cuidamos apenas da saúde, mas também tiramos pessoas dessa situação com oportunidade de emprego, aposentadoria e programas sociais”.

Além de atenderem moradores de rua, os voluntários atuam em comunidades indígenas, lares de idosos, centros de acolhimento e áreas atingidas por catástrofes. Foto: Divulgação/Médicos do Mundo
Além de atenderem moradores de rua, os voluntários atuam em comunidades indígenas, lares de idosos, centros de acolhimento e áreas atingidas por catástrofes. Foto: Divulgação/Médicos do Mundo

Transformação

E a história do alagoano Antônio Batista é resultado disso. Natural de Maragogi, o homem perambulou pelas ruas de São Paulo durante cinco anos até conhecer os médicos da ONG. “Ele veio trabalhar na construção civil, mas foi pego pela crise econômica de 2014, perdendo emprego, moradia e até o contato com esposa e filhos”, relata o médico Mário Vicente Guimarães.

No entanto, problemas de visão fizeram com que procurasse os voluntários e, além de receber atendimento oftalmológico, ele conseguiu encontrar novamente sua família. “Procuramos a filha dele nas redes sociais e a jovem nos respondeu, emocionada”, comemora o neurocirurgião, que conseguiu documentos para o alagoano, passagem, roupas novas e alimento. “E a esposa o aceitou de volta”.

Além disso, há casos de pacientes que até se tornaram voluntários da instituição, como o marinheiro Antônio Almeida, de 64 anos. Natural de São Paulo, ele passou por muitas dificuldades financeiras e de saúde em meados de 2017, mas conheceu os Médicos do Mundo ao morar em uma casa de acolhimento do município. “Comecei a fazer tratamento neurológico com eles, fisioterapia e recebi muita ajuda”, conta o paulista, que hoje trabalha em um centro de idosos da cidade e faz questão de auxiliar nas iniciativas da ONG montando a estrutura e orientando novos participantes.

“Ver o Antônio como voluntário conosco é gratificante!”, comemora a fisioterapeuta Cristienne Fernandes Galhardi, que atendeu o marinheiro durante o processo de reabilitação dele e afirma que o trabalho foi recompensador. “Usar minha profissão para reduzir a dor que ele e tantas outras pessoas sem condições sentem não tem preço”.

Por isso, ela incentiva mais profissionais a se tornarem voluntários da instituição e a sentirem, na prática, os benefícios de fazer o bem. “Ajudar nos faz crescer como seres humanos”, afirma. Sem contar que, “quando participamos das ações, recebemos muita energia positiva, amor e carinho, o que é indescritível!”, finaliza.

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