Além de atender presencialmente, Ana Karyn Ehrenfried de Freitas também responde às dúvidas pelo celular.
| Foto: Lineu Filho/Tribuna do Paraná

Em tempos de angústia e incerteza, a história de Ana Karyn Ehrenfried de Freitas, 37 anos, é fonte de inspiração. Médica cardiologista, ela relata o dia a dia dos profissionais da saúde e mostra como ações simples fortalecem a nossa sociedade.

Uma ideia de Ana chama a atenção. Vendo o sentimento de medo nas pessoas, ela se assustou com o aumento dos atendimentos, muitas vezes sem necessidade, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em que trabalha. Então, ela decidiu divulgar seu número de celular para qualquer pessoas que quiser tirar dúvidas neste momento difícil.

“A ideia veio para tirar dúvidas das pessoas de onde eu moro, em Rio Branco do Sul [região metropolitana de Curitiba]. Eu nunca tinha visto a UPA tão cheia. E na maioria dos pacientes, as dúvidas eram simples", relata. "Percebi que as pessoas estavam se expondo ao risco de contaminação, só por estarem com medo. Então eu coloquei no meu Facebook o meu celular”, conta a cardiologista, que trabalha no Hospital Cajuru, na Santa Casa e na UPA do Fazendinha.

“Aí eu comecei a receber mensagens de pessoas de São Paulo, Rio Grande do Sul e de vários lugares do Brasil. Até uma brasileira que mora na Áustria veio tirar dúvidas. Como as pessoas estão assustadas, eu sei que responder faz muita diferença. Em uma sentada que eu leio, eu respondo. Isso não me custa nada”, pontua.

A médica acredita que já recebeu mais de 200 mensagens. Entre elas, nem todas são dúvidas de pacientes. “Muita gente começou a me enviar recados de incentivo e orações. É muito legal. Teve até um restaurante que me enviou marmita durante uma semana, para eu almoçar. Eles queriam me manter bem alimentada”, brinca a médica.

Luta recompensada

Todos os dias, Ana viaja 30 quilômetros de Rio Branco do Sul para atender em Curitiba. Muitas vezes, ela faz esse trajeto mais de uma vez ao dia, por conta dos plantões no turno da noite. A rotina pesada, ainda mais tensa durante a pandemia, só faz a médica sentir mais prazer em exercer a profissão.

“A nossa sensação é de estar saindo de casa todos os dias para uma guerra. A gente está indo na linha de frente mesmo. Eu sinto que os profissionais querem estar lá trabalhando”, conta a médica. “A maioria dos meus colegas até foi comprar material para trabalhar. Mas na UPA eles estão oferecendo tudo, não está faltando nada. É claro que a gente tem medo de se infectar. Só que a sensação de querer estar na linha de frente é geral. Não é estar ali para cumprir horário”, complementa.

Por isso, um gesto de carinho emocionou a médica. Foi um presente de um projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), encampado pela professora Márcia May, que distribui doces e bolos aos profissionais de saúde, como forma de movimentar a economia neste momento para microempreendedores de confeitarias.

Junto com o bolo, Ana recebeu um cartaz – que também faz parte do projeto – de um desenho de agradecimento feito por crianças. Ela fez questão de colocar na porta da geladeira: “é para eu olhar todos os dias antes de sair de casa e ver que está valendo a pena”, enfatiza.

Cuidados e ensinamentos

Ana vive com o marido, Eduardo, e com a filha de 5 anos, Manoela. A médica conta que a rotina mudou completamente após a chegada do coronavírus ao Brasil. “Eu estou fazendo bastante plantão para estar na linha de frente e sei do risco. Até porque não são só as pessoas com os piores sintomas que podem estar com o vírus. Eu não vejo a minha mãe há muitos dias. A gente se fala só por chamada de vídeo. Também comprei roupas para estar em casa e outras para usar só na UPA. E quando chego em casa, tiro toda a roupa e faço o procedimento de limpeza”, alerta.

Mas o que importa para ela é passar a mensagem de união e os ensinamentos para a filha. “Eu amo amar as pessoas. É coisa que eu mais gosto de fazer. Pra mim, eu não estou fazendo nada demais. É isso que eu busco passar para a Manoela. Há dois anos teve um tornado aqui em Rio Branco e eu fui bater de porta em porta com meu estetoscópio para ver como as pessoas estavam. E eu levei minha filha para aprender a fazer o bem. Mesmo novinha, percebo que ela já está entendendo”, conta a mãe orgulhosa.

Sobre a dúvida entre fazer ou não o isolamento, a médica entende o problema econômico, mas faz um alerta. “Nós ainda não tivemos o pico de contaminação. Neste momento, faça a sua parte. Acalme seu coração. Confie na gente que nós vamos fazer a nossa parte”, finaliza. O contato da Ana para dúvidas sobre o coronavírus é (41) 9906-5939.

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